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É SÓ UMA QUESTÃO DE GOSTO? SÉRIO?

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Rev. Cônego Ms. Jorge Aquino.

Já passei por diversas experiências desagradáveis em minhas aulas de filosofia quando falava acerca de questões estéticas. Em geral estas experiências surgiam quando discutíamos se a estética era ou não apenas uma questão de gosto.

Quando falamos em estética, estamos nos referido ao ramo da filosofia que discute a criação e a produção da arte e do belo. A origem da palavra “estética” está no grego (aisthanomai), que significa “aquilo que se percebe”. Assim sendo, não há como dissociar, originalmente, a estética das nossas experiências sensoriais, ou seja, daquilo que percebemos com os sentidos.

Mas a grande questão que se impõe em um mundo como o nosso é se eu realmente posso comparar a Nona Sinfonia de Beethoven com um Rap ou com um Funk qualquer. Será realmente que tudo é uma questão de gosto? Sobre este tema eu acredito em algumas verdades que gostaria de compartilhar com vocês. Em primeiro lugar, eu acredito que a estética é uma questão de gosto. Tem gente como eu que se delicia em ouvir a Pastoral de Beethoven, que gosta de ouvir o Glória de Vivaldi, mas que também degusta um bom blues, um tango, um jaez ou um bom rock dos anos sessenta a oitenta. Outros, no entanto, preferem ouvir o lepo lepo, ou lacraia, o time das poderosas, etc. É claro que tudo isso tem a ver com o gosto de cada pessoa, e eu seria um ignorante se não percebesse que há pessoas que adoram ouvir estas músicas e se deliciar com suas letras e mensagens, como aquela que defende o “beber, cair, e levantar”, para beber de novo.

Mas, em segundo lugar, eu acredito que gosto é uma questão de educação. Sim, se estética é uma questão de gosto, lembremos que gosto é uma questão de educação. Por isso, preciso registrar que existe o “bom” e o “mau” gosto. Ou seja, o aspecto da educação será fundamental para moldar a cultura e o horizonte estético de uma pessoa, ou seja, seu “olhar” e sua “percepção”. Portanto, quem está exposto a uma “educação” que acha normal chamar mulher de “cachorra” ou acha bonito ver sua filha de cinco anos descendo na “boquinha da garrafa”, quem se acostumou e acredita em dar “beijinho no ombro pra passar o recalque”, não pode reclamar da educação que teve. Fazer o que?

Finalmente, em terceiro lugar, eu acredito que a educação é um questão de política. O que as pessoas não compreendem é que a educação está intimamente relacionada à questões de políticas pública, e é interesse dos políticos, que a maioria da população seja educacionalmente indigente para que, assim, possam ser manipulada de uma forma mais fácil. Ademais, cultura, em nosso pais, é algo caro e inacessível à maioria dos brasileiros. Quantos brasileiros podem assistir uma boa peça de teatro? Quantos sequer têm ciência da existência de grandes diretores de cinema como Pedro Almodovar, Hoody Allen ou um Akira Kurosawa? O que dizer das outras expressões de arte como Literatura, Poesia, Escultura, pintura? Será que nosso povo tem acesso a isto? Claro que não. Por isso a expressão “estética é uma questão de gosto” é uma falácia. Ela é, antes de tudo, uma questão política. E qualquer cidadão responsável, precisa saber discutir isso. E mais, é preciso socializar a cultura. Leva-la até onde o povo está. Somente assim poderemos substituir uma política de “pão e circo” por uma de cidadania cultural responsável.

Muita gente diz que questão de gosto não se discute. Se discute sim, porque nosso gosto é fruto da educação (ou sua falta) e da política, que financia ou não a educação. E tudo isso é objeto de debate.

 
 
 

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