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UMA TEOLOGIA NEGATIVA

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Padre Jorge Aquino.

Quando ouvimos a palavra “teologia”, imediatamente compreendemos e nos damos conta de que ela é o resultado da união de dois termos gregos: theos, que dignifica “Deus”, e logos, que significa discurso ou estudo. Assim, grosso modo, teologia é um discurso acerca de Deus ou o estudo sobre Deus. Nas duas formas de usar que citamos, a palavra logos – quer como discurso quer como estudo -, acaba colocando Deus na condição de objeto. Assim, ou bem Deus seria o objeto do discurso ou bem o tema do seu estudo. Nesta forma de ver a teologia, que poderia ser chamada de Positiva, acredita-se que podemos estudar tanto o ser quanto os atributos e a própria pessoa de Deus.

Doutro lado, existe o que se passou a chamar de uma Teologia Negativa. Aqui, a postura que assumimos é a de se cala e de evitar emitir juízos de valores acerca de Deus. Assim, Erickson nos diz que essa teologia – também conhecida como apofática – aponta para “Uma forma de relaciona-se com Deus de acordo com a Crença de que Deus não pode ser conceituado em categorias humanas” (ERICKSON, 1991, p. 159). Desta forma, esta teologia mística, desde sempre, esteve associada à figura do Pseudo-Dionízio Areopagita, o autor de um conjunto de textos místicos que escreveu entre o século IV e V. e, mais tarde, a Mestre Eckhart e a Nicolau de Cusa. A Teologia Negativa é conhecida como Teologia Apofática, porque a apófase – tema da retórica -, é a refutação ou contestação daquilo que foi dito. Assim, entendemos que o “termo grego aphairesis indica o movimento de remover (remotio), de suprimir ou eliminar alguma coisa” (DE ANDIA, In LACOSTE, 2004, p. 1240).

Para estes teólogos apofáticos, a realidade de Deus está para além e acima de todos os seres. Assim, a essência divina está muito além dos sentidos e das meras especulações racionais. Na verdade, com a Teologia Negativa afirmamos que o ser de Deus – se é que podemos usar essa expressão - é absolutamente inacessível a qualquer forma de especulação. Toda forma de expressão teológica é, sempre, uma teologia sob limite.

Quando se trata de Deus, não nos é possível encerrar os conceitos nem expressá-la com palavras, pois tanto um quanto as outras são insuficientes e inadequados. Por isso acostumou-se a dizer que: “Si comprehendis non est Deus”. Assim, muito embora Deus seja o absolutamente inefável e inexprimível, Ele não obstante se revelou por meio das Escrituras. De fato, Deus é o inominável. Essa verdade é similar à exposta no conhecido aforisma 7, escrito pelo filósofo austríaco Ludwig Wittgenstein, em seu conhecido Tractatus Logico-Philosophicus, no qual afirmava: “Sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar”.

Qualquer forma de denominação ou predicado que atribuamos à Deus, seria uma limitação ao seu ser e à sua essência. Na verdade, toda predicação é uma forma de limitação. Desta forma, quando dizemos que a mesa é de plástico, indiretamente estamos dizendo que ela não é de madeira, não é de metal e não é de pedra. Assim, toda vez que afirmamos, também negamos. Sempre que dizemos algo sobre Deus estamos, na verdade, reduzindo, limitando e aprisionando Deus.

Por isso, é absolutamente necessário e imprescindível que cada teólogo tenha a humildade necessária para reconhecer que toda teologia é “teologia sob limite” e que ela somente terá a “penúltima” palavra, jamais a ultima. O teólogo nunca poderá manipular o ser de Deus ou sua natureza, como se ele fosse um objeto (res – coisa) estudado por um pesquisador (ser). Deus nunca será objeto de estudo do homem. Se o fosse, ele seria menor e inferior. Mas ele está infinitamente acima e qualitativamente distante de nós. Se o vislumbramos, o fazemos apenas por sua graça e seu favor em se revelar. Assim, o que de Deus se pode conhecer é aquilo que Ele resolveu manifestar (Romanos 1: 19).


Referências bibliográficas:

ERICKSON, Millard J. Conciso dicionário de teologia cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 1991

LACOSTE, Jean-Yves (Edt.). Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas e Loyola, 2004




 
 
 

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