UMA DEFINIÇÃO DE ANGLICANISMO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 24 de jun. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 29 de jun. de 2021
Reverendo Padre Jorge Aquino.
Definir o que é o anglicanismo não é algo fácil. No entanto, me servirei da definição de anglicanismo que nos é oferecida nos textos de Charles Erlandson, para quem o anglicanismo é: “a vida da igreja católica que foi plantada na Inglaterra nos primeiros séculos depois de Cristo; remodelado decisivamente pela Reforma Inglesa que reformou as tradições católicas recebidas e também pelos Reavivamentos Evangélicos e Católicos e outros movimentos históricos do Espírito; e isso agora foi aculturado em igrejas globais independentes”.
Nesta breve definição, podemos retirar alguns ensinamentos importantes e que precisam ser pensados, particularmente em nossos dias. O primeiro desses ensinamentos nos diz que o anglicanismo é “a vida da igreja católica que foi plantada na Inglaterra nos primeiros séculos depois de Cristo”. Nesta primeira afirmação, não nos vemos diante de uma definição, de uma “essência” ou de “algo”, uma “coisa” ou uma “instituição”. O anglicanismo é descrito aqui como uma forma de viver, de existir de se comportar, ou seja, como um "jeito de ser". Em outras palavras, antes de buscar olhar para a essência (essencialismo) do anglicanismo, nosso autor olha para sua existência (existencialismo). Outro elemento importante que nos é apresentada nessa primeira informação, é a de que o anglicanismo está espacial e temporalmente condicionada. Primeiro porque estamos nos referindo a uma parcela da igreja católica de Cristo que foi implantada na Inglaterra, depois, porque estamos falando sobre essa parcela da igreja que chegou à Inglaterra nos primeiros séculos depois de Cristo.
Uma segunda informação significativa que nos é trazida por essa definição nos diz que essa parcela da igreja católica de Cristo, ou seja, que o anglicanismo, foi “remodelado decisivamente pela Reforma Inglesa que reformou as tradições católicas recebidas e também pelos Reavivamentos Evangélicos e Católicos e outros movimentos históricos do Espírito”. Aqui verificamos que a identidade anglicana é totalmente devedora a movimentos extremamente amplos e que envolvem desde a Reforma Protestante e seus rebatimentos na Inglaterra, bem assim como o movimento Evangélico e Anglocatólico, chegando até o movimento Carismático, que fazem parte da vida dessa igreja que, hoje, se espalhou por todo o mundo.
Por fim, uma terceira afirmação que essa definição nos traz é a de que o anglicanismo foi “foi aculturado em igrejas globais independentes”. Dizer isso é o mesmo que afirmar que, para além de ser inglês, o anglicanismo conseguiu se acomodar às culturas nas quais teve a oportunidade de chegar e, como via de consequência, acabou por se expressar como realidades vivenciais globais independentes e autônomas. Outra direção para onde a palavra "aculturado" aponta, é para a relação entre o anglicanismo e a cultura. Dessa forma, podemos dizer que, se o anglicanismo primitivo estava intimamente relacionado à cultura celta - presente nas ilhas britânicas -, o mesmo ocorreu com o anglicanismo medieval, e com o anglicanismo moderno e pós-moderno. Nossa relação com o "tempo" é sempre dialogal e produtivo, nos fazendo crescer e amadurecer com o mundo no qual vivemos. Desta forma, um anglicano não observa o mundo "a partir de fora", mas de uma posição interna. Observamos o mundo "fazendo parte dele", sendo simultaneamente o sujeito que observa e o objeto que é observado.
Esperamos que esta breve exposição tenha o condão de ajudar aos que procuram saber mais sobre a identidade e a razão de ser desse jeito tão peculiar de seguir a Cristo.

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