TUDO O QUE É DIFERENTE INCOMODA QUEM É IGUAL

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Existe um famoso ditado que diz: "Tudo o que é diferente incomoda quem é igual". Gostaria, neste breve texto, de tecer alguns comentários sobre essa afirmação.

Não existe dúvida sobre o grau de importância que os shopping centers assumiram nas vidas de quem vive em nossa sociedade. E, particularmente, acredito que essa relevância está ligada ao fato que é lá onde podemos encontrar a realidade mais próxima do que poderíamos chamar de um mundo perfeito. De fato, no shopping, não existem variações de luz ou temperatura, não existem becos escuros. Lá as pessoas estão sempre bem vestidas e aparentam ter a mesma condição social e econômica, além do fato de que o shopping é um espaço de completa segurança para o exercício do consumo.

O mundo real não é assim. E o primeiro elemento que traz desconforto, em nosso mundo é, justamente, a existência de diferenças. Parece claro que um mundo no qual tudo e todos são iguais, nos traz muito mais paz e tranquilidade do que em um mundo de diferentes.

E por que é assim? Porque o desigual incomoda. A existência do pobre é a prova viva de que nosso mundo não é justo e que alguns são mais privilegiados do que outros. É preciso que os pobres desapareçam ou vivam em lugares que estejam fora dos olhares das pessoas “normais”, para que a estética da pobreza não nos agrida. O negro, por sua vez, é a prova viva de que ainda existe um racismo estrutural em nossa sociedade, e que teimamos em negar essa realidade. Por isso os negros precisam ser isolados do mercado de trabalho e se manter em espaços próprios nas periferias das cidades. O “louco” é a prova viva de que nossa sociedade científica e Iluminista foi incapaz de alcançar a plena lucidez e, por isso, precisamos retirar os “loucos” das nossas relações e aprisioná-los em manicômios. O mesmo pode ser dito para as pessoas LGBT+ que não se enquadram dentro dos padrões ditos como “normais” para as famílias. Essas pessoas precisam manter suas identidades aprisionadas e silenciadas, para o bem da sociedade e das famílias. Na verdade, a sociedade na qual vivemos representa uma contínua agressão para todas as pessoas que acreditam que o mundo é igual as teclas de um piano: ou pretas ou brancas.

A diversidade é uma realidade. Mais que isso. É uma realidade que deve ser celebrada porque nos dá a oportunidade de aprender com o “outro”, com o “diferente”, e enriquecer nossa própria vida. Diferente do que pensava alguns filósofos da Antiguidade, o Outro deve ser visto como o Ser, não como um não-ser.

Que exista em nosso coração espaço para permitir que o diferente nos enriqueça e faça com que nossa caminhada nessa vida seja mais rica e mais cheia de tolerância e de gentileza.