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TRANSMISSÃO POR TOQUE? COMO ASSIM?

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Reverendo Jorge Aquino.

Em um dos textos que revela os conflitos existentes entre João Batista e os religiosos de sua época (fariseus e saduceus) que buscavam o batismo, mas que não manifestavam uma vida marcada pelo arrependimento, João e dirigiu a eles com as seguintes palavras: “Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira futura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento; E não presumais, de vós mesmos, dizendo: Temos por pai a Abraão; porque eu vos digo que, mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão. (Mateus 3:7-9). Observem como o fato de serem “filhos de Abraão”, ou seja, descendentes de Abraão, era algo de extrema importância para se afirmar a identidade e a autoridade judaica.

Esta mesma expressão aparece quando Jesus diz aos judeus que se eles permanecerem em sua palavra, seriam livres. Em reação, os judeus respondem: “Somos descendência de Abraão, e nunca servimos a ninguém; como dizes tu: Sereis livres?” (João 8:33). O questionamento que se segue é bastante revelador. Vejamos o que diz Jesus: “Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão. Mas agora procurais matar-me, a mim que vos tenho falado a verdade que ouvi de Deus; assim não procedeu Abraão. (João 8:39,40). Assim, tanto com João Batista quanto com Jesus, fica claro que a mera ligação genealógica, não garante que estejamos diante de um verdadeiro filho de Abraão.

Esta também foi a leitura feita por Paulo que se identificava como judeu, filho de judeu e fariseu filho de fariseu. Para ele, ter a descendência judaica não implicava que se estava diante de um filho de Abraão. Os verdadeiros filhos de Abraão são os que creem, como Abraão. Isso fica claro quando Paulo diz: “Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão (Gálatas 3:7-9). Neste mesmo caminho Paulo escreveu quando associava o sinal externo e a graça interna no caso de Abraão e no caso dos cristãos, ao dizer: “Nele, também fostes circuncidados, não por intermédio de mãos, mas no despojamento do corpo da carne, que é a circuncisão de Cristo, tendo sido sepultados, juntamente com ele, no batismo, no qual igualmente fostes ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos (Colossenses 2:11,12). É óbvio que na teologia paulina, a circuncisão – que assinalaria e marcaria os seus filhos – surge como um sacramento (sinal visível) dos que acreditam. Por isso ele escreve que Abraão “E recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça da fé que teve quando ainda incircunciso; para vir a ser o pai de todos os que creem, embora não circuncidados, a fim de que lhes fosse imputada a justiça” (Romanos 4:11).

Desta forma, tanto João Batista, quanto Jesus e o apóstolo Paulo, são unânimes em dizer que a linhagem genealógica não materializa quem é um verdadeiro filho de Abraão. Paulo é claro ao dizer que os verdadeiros filhos de Abraão são os que creem, os que recebem a circuncisão que não é feita com mãos humanas e que demonstram, conforme João Batista, o arrependimento e o comportamento de Abração, como ensina Jesus.

Ora, quando estudamos eclesiologia, nos deparamos com uma expressão que ainda hoje é cheia de imprecisões e ambiguidades. Refiro-me ao que se convencionou chamar de “sucessão apostólica”. Os que defendem essa tese, dizem que ela é a transmissão ininterrupta da autoridade episcopal, que seria oriunda de uma linha direta que chegaria até os primeiros apóstolos de Jesus. Esta linha direta de transmissão de autoridade ocorre por meio da imposição das mãos. Assim, todos os bispos que creem na sucessão apostólica acreditam que podem fazer uma geneologia de imposição de mão que chega até a época apostólica.

O primeiro grande problema dessa tese, é que ela não existe no Novo Testamento. Mesmo nos textos mais antigos, fica claro que a eclesiologia neotestamentária somente admite a existência de duas classes de ministérios, quais sejam, os presbíteros e os diáconos. Fica claro, também, que a designação de “bispo” e de “presbítero” são intercambiáveis, ou seja, que em certos textos, as mesmas pessoas são chamadas de bispos e presbíteros. Por maior que seja o malabarismo exegético que alguém queira fazer, o Novo Testamento é bastante claro quanto a isso.

O segundo problema é que, mesmo depois da morte dos apóstolos, as igrejas que aparecem espalhadas pelo mundo, parecem apresentar um duplo ministério ou seja, os presbíteros também são chamados de bispos. Um outro detalhe importante, é que a palavra “presbítero” está sempre no plural, indicando a existência de um ministério colegiado.

A tese da sucessão apostólica surge em um espaço geográfico específico e somente aparece quando também surge a ideia de um presbítero/bispo monárquico, ou seja, único.

Diante do exposto, não me parece haver dúvida de que a teoria da sucessão apostólica, conforme defendida pelos teólogos mais conservadores, é apenas um mito etiológico que, associado a outros dois fato lendário, o que Pedro seria o primeiro bispo de Roma e que daria respaldo para afirmar que os bispos são sucessores de Pedro, que seria – eis o segundo erro - a rocha sobre a qual a Igreja estaria erigida.

Os anglicanos afirmam acreditar na sucessão apostólica e no episcopado histórico. Mas note que no Quadrilátero de Lambeth somente se faz referência ao episcopado histórico. O surpreendente é que, muitos desses bispos anglicanos que acreditam na sucessão apostólica como se fosse algo real – e não um mito etiológico -, duvidam da realidade do nascimento virginal de Jesus, de sua ressurreição histórica e de sua ascensão corpórea ao céu. Isso, para mim é realmente surpreendente! Afinal, será que esses bispos não se assemelham aos judeus que acreditavam que tudo é apenas uma questão de genealogia? Penso que sim. Seja como for, fico com o que disseram João Batista, Jesus e Paulo. Para ser filho de Abraão como para ser sucessor dos apóstolos, é preciso ter a mesma fé.

 
 
 

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