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SOBRE AS QUESTÕES ADIÁFORAS NO ANGLICANISMO

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Reverendo Jorge Aquino.

Muita gente tem dificuldade de compreender melhor o Anglicanismo porque não sabem que este seguimento do cristianismo adotou uma postura adiaforista acerca de várias questões. Mas o que quer dizer a palavra adiáfora?

Historicamente, as questões adiáforas (do grego, indiferentes) foram associadas às questões secundárias ou periféricas, portanto, questões que podem ser permitidas na igreja. Mas afinal, o que pode ser considerado secundário ou periférico? Todas aquelas questões que não diziam respeito à essência da fé cristã. Ora, a essência de algo é aquilo sem o qual a coisa deixa de ser o que é. Tudo o mais é acessório, secundário, indiferente ou adiáfora.

No luteranismo o adiaforismo está associado à figura de Filipe Melanchthon (1497-1560) que preservava certas práticas romanas – como a confirmação por bispos, regras de jejuns, etc – consideradas toleráveis por amor á união da igreja. Os luteranos tiveram um enorme debate interno sobre o tema até que a Fórmula de Concórdia (1577) encerrou as disputas ao declarar três princípios sobre as questões adiáforas: Em primeiro lugar, os adiáforos genuínos são definidos como cerimônias que nem foram ordenadas nem proibidas nas Escrituras. A segunda consideração fundamental sobre as questões adiáforas é que a igreja tem todo poder para alterá-los. Finalmente, é preciso afirmar fortemente as verdades de Deus e não ceder, nem mesmo nas questões adiáforas. Isto significa que, ficam delineadas as esferas do que é certo, do que é errado e do que é indiferente.

Desta forma o luteranismo posicionou-se contra o irenismo que é uma posição segundo a qual a paz deve ser buscada acima de tudo, inclusive das crenças que caracterizam cada denominação.

No Anglicanismo as teses adiaforitas foram recepcionadas pela obra do ilustre teólogo Richard Hooker (1554-1600), que em sua obra Laws of eclesiastical polity, desenhou o Anglicanismo conforme conhecemos hoje, ou seja, uma igreja de via média. Desta forma o Anglicanismo se define como sendo Católica sem ser romana e Reformada sem ser cismática. O trabalho de Hooker foi uma resposta à tentativa dos Puritanos em retirar da igreja tudo o que fazia lembrar Roma. Enquanto os Puritanos diziam que “só se deve aceitar o que é ensinado pelas Escrituras”, Hooker, por seu turno, entendia que “não se pode aceitar o que as Escrituras proíbem”. As demais questões são indiferentes, ou sejam, adiáforas e dependem da liberdade e da consciência de cada pessoa. Esta postura plasmou o Anglicanismo ao redor do mundo. A frase que resumiu o tema adiaforita, falsamente atribuída à S. Agostinho, mas de autoria de Rupert Meldenius e, mais tarde, citado por Richard Baxter diz: “Em coisas essenciais, unidade; nas não-essenciais, liberdade; em todas as coisas, amor”.

Mesmo entre os puritanos a ideia de que existem questões que precisam ser vistas como adiáfora fez parte de sua vasta elaboração teológica. Isso pode ser confirmada, por exemplo, na leitura da Confissão de Fé de Westminster XX.II que diz: “Deus é o único Senhor da consciência, e a deixou livre das doutrinas e mandamentos humanos que, em qualquer coisas, são contrárias à sua Palavra, ou que, em matéria de fé ou culto, vão além dela”. Assim, quando se trata de crenças que não contrariam ou vão além do que ensina as Escrituras, a consciência do cristão é livre.

O que precisamos estabelecer, afinal, é: o que é essencial? Somente quando o essencial for estabelecido, ficará estabelecido o que é secundário ou não-essencial. Esta questão tem ocupado a reflexão de muita gente nos dias de hoje. Uma das questões que precisam ser resolvidas, por exemplo, é: a moral é tão essencial quanto a ética? A moral dos tempos bíblicos são essenciais e, portanto, exigíveis nos dias de hoje? E sobre a doutrina, existe algumas doutrinas que sejam essenciais e outras que sejam vistas como secundárias? A SS Trindade é essencial? A divindade de Jesus é essencial? A escatologia premilenista é essencial? A atualidade do dom de línguas é essencial? A visão pentecostal sobre o batismo com o Espírito Santo é essencial? O batismo por imersão é essencial? Levanto essas questões porque, claramente, alguns desses temas são secundários e jamais deveríamos nos dividir em razão delas. Contudo, não é assim que as pessoas se comportam. Elas têm a tendência de impor sobre os outros, questões que nunca foram vistas como essenciais. E se elas se comportam assim, é porque, lamentavelmente, não entendem muito bem o que realmente significa ser um anglicano.

 
 
 

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