SOBRE AS QUESTÕES "ADIÁFORAS" NO ANGLICANISMO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 18 de mai. de 2020
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Muita gente tem dificuldade de compreender melhor o Anglicanismo porque não sabem que este seguimento do cristianismo adotou uma postura adiaforista acerca de várias questões. Mas o que quer dizer a palavra adiáfora?
Historicamente, as questões adiáforas (do grego: indiferentes) foram associadas às questões secundárias ou periféricas. Mas o que era considerado secundário? Todas aquelas questões que não diziam respeito à essência da fé cristã. Ora, a essência de algo é aquilo sem o qual a coisa deixa de ser o que é. Tudo o mais é acessório, secundário, indiferente ou adiáfora.
No luteranismo o adiaforismo está associado à Filipe Melanchthon que preservava certas práticas romanas – como a confirmação por bispos, regras de jejuns, etc – consideradas toleráveis por amor á união da igreja. Os luteranos tiveram um enorme debate interno sobre o tema até que a Fórmula de Concórdia (1577) encerrou as disputas ao declarar três princípios sobre as questões adiáforas: Em primeiro lugar, os adiáforos genuínos são definidos como cerimônias que nem foram ordenadas nem proibidas nas Escrituras. A segunda consideração fundamental sobre as questões adiáforas é que a igreja tem todo poder para alterá-los. Finalmente, é preciso afirmar fortemente as verdades de Deus e não ceder, nem mesmo nas questões adiáforas. Isto significa que ficam delineadas as esferas do que é certo, do que é errado e do que é indiferente. Desta forma o luteranismo posicionou-se contra o irenismo que é uma posição segundo a qual a paz deve ser buscada acima de tudo, inclusive das crenças que caracterizam cada denominação.
No Anglicanismo as teses adiaforitas foram recepcionadas pela obra do ilustre teólogo Richard Hooker (1554-1600), que em sua obra Laws of eclesiastical polity, desenhou o Anglicanismo conforme conhecemos hoje, ou seja, uma igreja de via média. Desta forma o Anglicanismo se define como sendo Católica sem ser romana e Reformada sem ser cismática. O trabalho de Hooker foi uma resposta à tentativa dos Puritanos em retirar da igreja tudo o que fazia lembrar Roma. Enquanto os Puritanos diziam que “só se deve aceitar o que é ensinado pelas Escrituras”, Hoker, por seu turno, entendia que “não se pode aceitar o que as Escrituras proíbem”. As demais questões são indiferentes, ou sejam, adiáforas e dependem da liberdade e da consciência de cada pessoa. Esta postura plasmou o Anglicanismo ao redor do mundo. A frase que resumiu o tema adiaforita, falsamente atribuída à S. Agostinho, mas de autoria de Rupert Meldenius e, mais tarde, citado por Richard Baxter diz: “Em coisas essenciais, unidade; nas não-essenciais, liberdade; em todas as coisas, amor”.

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