
Padre Jorge Aquino.
Não temos a intensão de definir Deus escrevendo sobre a Santíssima Trindade. Até porque, Santo Agostinho já afirmava que “Um Deus que pode ser compreendido não é Deus”.
Os debates em torno da Santíssima Trindade são bastante antigos. Mas o que pode ser destacado em todos eles, é a fundamentação da mentalidade grega em torno de expressões como pessoa, substância ou essência. Por isso, tornou-se comum reafirmar o Credo Atanasiano, do século V, segundo o qual “adoramos um único Deus em Trindade e a Trindade em unidade. Não confundindo as pessoas, nem dividindo a substância”.
Para além dos debates teológicos, a SS. Trindade precisa ser observada não como uma mera relação estaticamente hierárquica, mas como uma coabitação unida das pessoas da Trindade. Esta ideia surge com a expressão Pericorese. O primeiro a usar essa palavra foi Gregório de Nazianzo, mas ela foi mais desenvolvida na obra de João Damasceno e aponta para a interpenetração e coabitação mútua das três pessoas.
Este termo aponta para uma plena interpenetração e uma perfeita comunhão das pessoas da Trindade. Quando observamos a palavra grega que dá origem a este termo, verificamos que perichoresis é o resultado da união de um prefixo “peri” + “coresis”, que fala de dança e movimento ao redor. Peri nos para do que está ao redor ou periférico, ao passo que choresis aponta para a coreografia e a dança que apresentamos. Assim este termo aponta para um movimento circular ou dançante com perfeita unidade e harmônia, diferente da mente hierárquica própria da mentalidade grega. Assim, se numa hierarquia só observamos algo estático, na pericorese encontramos vida e movimento comparada com uma dança.
A igreja é chamada a viver uma relação pericorética e não hierárquica e engessada. Na comunidade cristã, cada pessoa possui dons e ministérios, dados como dons do Espírito, para a edificação do Corpo de Cristo em uma plena comunhão e acolhimento. Assim, a Koinonia é a expressão eclesial da pericoresis. Que possamos, portanto, nos abrir mais a cada dia, para essa relação pericorética, dançante, em constante movimento para que, em serviço, acolhamos e manifestemos a graça e a presença de um Deus que nos convida para uma linda dança espiritual.
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