SEU CASAMENTO NÃO É UMA NOVELA
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

- 16 de set. de 2021
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Reverendo Jorge Aquino
Eu jamais poderia dizer que sou o tipo de pessoa que nunca assisti ou que não gosto de assistir a uma boa novela. De fato, eu e minha esposa, gostamos de assistir uma boa novela de época. No entanto, outras pessoas parecem ter um atrativo por um tipo mais dramático de novela: àquelas que dizem respeito à vida alheia. O pior de tudo, é que muitas pessoas casadas, acabam por transformar sua própria vida conjugal em uma novela, cujos capítulos são narrados aos conhecidos e parentes, na proporção em que os fatos vão acontecendo.
O casal Renato e Cristine Cardoso, comentando este assunto, diz o seguinte: “É comum vermos o marido criticar a esposa ou mesmo fazer piadas de mau gosto com algum defeito dela na frente dos amigos e parentes. Muitas mulheres agem da mesma maneira” (CARDOSO & CARDOSO, 2014, p. 245). Como se pode ver, lamentavelmente, esta é uma realidade que parece ser bastante comum em nossos dias. No entanto, o que não se percebe, é que quem se serve deste expediente acaba por experimentar algumas consequências inevitáveis e indesejáveis para sua vida conjugal.
Em primeiro lugar, conforme afirma o próprio casal Cardoso (2014, p. 245), quando seu casamento acaba se transformando em uma novela, nenhum dos dois parece perceber que essa atitude humilha o parceiro. Ora, se existe um comportamento execrável em alguém, é o de humilhar, desprezar ou aviltar os outros, particularmente sua esposa ou seu marido. Não nos sentimos bem quando assistimos alguém humilhando outra pessoa usando de adjetivos depreciativos. Imagine, como deve se sentir um cônjuge, assistindo seu parceiro ou sua companheira, usando os mesmos adjetivos para desqualificá-lo e humilhá-lo, publicamente, diante de seus amigos e parentes. O sentimento de humilhação é algo que corrói não somente a autoestima e a alma, mas até mesmo os sentimentos mais nobres, como a fé e a esperança.
Em segundo lugar, aquelas pessoas que estão assistindo a novela diária do casal, acabam sendo tentadas a dar sua própria contribuição ao enredo, por meio dos palpites. Quando um dos cônjuges permite que seu casamento vire uma novela, inevitavelmente, quem a assiste acaba por invadir a privacidade e a intimidade do casal – já que foi convidado para isso -, e quer dar sua opinião. Ora, como em geral, os terceiros somente estão diante de parte da realidade (àquela que lhe foi exposta), é natural e esperado que essas opiniões cheguem eivadas de erros e pré-noções. Elas acabam oferecendo remédios para uma doença que eles não conhecem completamente, vez que somente ouvem metade da história. Ademais, não acredito que uma vida à dois que pretenda ser saudável, seja o tipo de vida a ser compartilhada com terceiros e exposta à opinião pública. Até acredito que certos casais possam recorrer a um terceiro especializado – um terapeuta -, quando necessário. No entanto, quando muita gente é convidada para mexe na panela, o resultado acaba não sendo dos melhores.
Por fim, em terceiro lugar, é muito comum que, quando um casamento vira uma novela, as pessoas acabem tomando partido de uma das partes ou torcendo por um em detrimento do outro. Esse dualismo maniqueísta que santifica um ao passo em que demoniza o outro, é uma das consequências nefastas da ignorância das pessoas e da imaturidade dos que transformam sua vida privada em uma realidade pública. Quando não compreendemos mais a importância que tem a vida privada e a tornamos pública, transformando-a em uma novela, é impossível que não existam pessoas torcendo para que o mocinho ou a mocinha da novela, acabe “ficando” com o outro ou a outra. Quem já assistiu uma novela sabe de que estou falando e conhece essa “torcida”.
Caros casais, não desconsiderem essas palavras. Todas as discussões e brigas que vocês já tiveram, somente dizem respeito à vocês e caberá somente ao casal ter a maturidade para transformá-las em algo proveitoso e produtivo. Um casal adulto e amadurecido, jamais transformará sua relação em uma novela e nunca discutirá na frente de terceiros – muito menos dos filhos. Nunca esqueçam que a vida à dois deve ser vivida sem audiência e os problemas resolvidos sem torcida. Nunca devemos esquecer o fato de que, qualquer inclinação na direção desse comportamento de auditório, pode trazer um resultado devastador para a relação.



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