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SER DE DIREITA OU DE ESQUERDA? EIS A QUESTÃO!

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Atualizado: 12 de jan. de 2023


Reverendo Jorge Aquino.

Com todas as vênias possíveis para com os que discordam, gostaria de discordar de alguns ilustres parlamentares que estão dando entrevistas para alguns dos nossos programas de televisão, se identificando como sendo de esquerda ou de direita. Esta manhã, o denominado “líder” da bancada evangélica chegou a dizer que a agenda da esquerda não se aproxima dos princípios evangélicos. Ouvindo isso, a impressão que tenho é a de que, apesar de serem parlamentares, eles não estão bem informados acerca da complexidade desse tema, ou pelo menos, sobre a origem dessa visão dicotômica e reducionista. Gostaria, portanto, de fazer algumas observações sobre este binômio esquerda/direita. Em primeiro lugar, é necessário que tenhamos uma compreensão histórica de como surgem estas duas palavras ou posturas. Historicamente, ser de esquerda ou de direita tem a ver com o que ocorreu depois da Revolução Francesa (1789-1799) e tão somente apontava para o lugar onde os grupos de parlamentares se sentavam para demonstrar o que apoiavam ou não. Assim, na Assembleia que criaria a nova Constituição francesa, era comum que um grupo de parlamentares ficasse sentado à direita do presidente e outro grupo ficasse à esquerda. De forma geral, podemos dizer que os partidários do rei, os mais conservadores, não quiseram ficar do lado esquerdo, perto daqueles que eram mais pobres e que defendiam a revolução, por isso preferiam sentar à direita. À esquerda do presidente sentavam os que tinham princípios mais revolucionários. Desde então, que ficavam à esquerda ficariam associados à ideia de pessoas que defendiam e lutavam pelos direitos do povo e dos trabalhadores enquanto a direita ficou associada aos mais tradicionais e conservadores que querem manter o poder das elites. Em resumo, à direita estavam os mantenedores do status quo, ou seja, do sistema, e à esquerda se sentavam os que criticavam o sistema.

Estabelecida a origem histórica destes dois princípios, podemos afirmar, em segundo lugar que, com ela aprendemos a lição de que à direita estão os que eram a favor do regime estabelecido e à esquerda estavam os que eram contra, por via de consequência, não seria equivocado dizer que aqueles que apoiavam o governo Trump eram pessoas de direita e, hoje, porque fazem oposição aos democratas, são chamados de esquerda. Quem está associado à direita hoje, é o presidente Byden. Da mesma forma, não é errado dizer que os que apoiam o regime cubano são de direita, ao passo que seus críticos, são àqueles que são identificados com a esquerda. Na China, os apoiadores do Partido Comunista são de direita, enquanto os que o criticam, são de esquerda. No Brasil o raciocínio é exatamente o mesmo. Hoje, aqueles que apoiam o governo Lula podem ser identificados como de direita – já que apoiam o sistema, enquanto os que o criticam seriam de esquerda. Eis o que chamamos de alternância de “poder” ou de “lugar de fala”. Esta leitura feita até aqui, tem sido feita de uma perspectiva política ou tipológica.

Em terceiro lugar, a impressão que tenho é que, ser de esquerda ou de direita, está associado com uma posição ou a uma leitura que é problemática porque é reducionista. Ora, todo reducionismo é intelectualmente fraco. Assim, reduzir a política a apenas duas posições é transformar algo que é muito rico em algo pobre e anêmico. O problema da simplificação e do reducionismo pode ser visto e compreendido, por exemplo, quando nos perguntamos se o fascismo é um movimento de direita ou de esquerda. Indubitavelmente, a maioria das pessoas vão associá-lo à direita, já que ele propõe um regime político autoritário e sem espaço à participação popular. Eis que ele se opõe frontalmente ao movimento democrático que surgiu com a Revolução Francesa e às ideias do comunismo e do socialismo. No entanto, pouca gente sabe que ele combinou alguns elementos da direita com elementos da esquerda. Por isso, apesar de ser comumente categorizado como de extrema-direita – em razão de sua oposição ao socialismo -, o fascismo também é muitas vezes considerado de esquerda por se opor ao liberalismo e defender interesses coletivos em detrimento dos interesses individuais. Desta forma, o que importa para um fascista é ver seu país (não o indivíduo) forte e vigoroso. Era essa a promessa de Mussolini, uma Itália forte! No entanto, resta claro que o discurso de um Estado forte contraria as ideias liberais. Assim, não pense o leitor, que “carimbar” alguém de como sendo de “esquerda” ou de “direita” não é algo simples.

Outra dificuldade trazida pela visão social do que seria ser de “esquerda” ou de “direita”, está em associar este binômio à questões meramente econômicas. Assim, olhando para este aspecto simplesmente econômico, as pessoas de “esquerda” são associadas ao comunismo, enquanto que as pessoas de “direita” são associadas ao liberalismo. A dificuldade dessa visão é que ela olha para um mundo que não existe mais. É claro que, se estivéssemos no final do século XIX, essa categorização teria o mais absoluto sentido. Mas hoje, depois da queda da União Soviética, do muro de Berlim e depois da intervenção governamental de Barack Obama nos bancos americanos para impedir a quebradeira do mercado produzida pela crise imobiliária e automobilística (2007-2009), fazendo desaparecer a “mão invisível” do mercado, não podemos mais dizer, simplesmente, que liberais não intervém no mercado e que ainda existem comunistas existindo entre nós.

Quando observamos questões filosóficas como a dos Direitos Humanos, por exemplo, também nos surpreendemos. A história do pensamento mostra que os primeiros a lutar pelos Direitos Humanos foram os liberais ingleses e seus descendentes nos Estados Unidos e França. No entanto, por alguma razão, quando se fala em Direitos Humanos, imediatamente imaginamos pessoas ligadas à esquerda. Nosso estranhamento vem do fato de que, dentre os maiores agressores aos Direitos Humanos, podemos citar Stalin, Pol Pot e Mao Tsé-tung, portanto, líderes de esquerda. Faço essa citação apenas para demonstrar que a realidade não é tão simplista assim, para ser dividida de forma tão fácil como tem sido feito.

Hodiernamente, entre a esquerda e a direita existem inúmeras posturas que, no caso brasileiro, não estão exatamente nem relacionada à posição frente ao governo, nem ligadas a aspectos econômicos. A diversidade é grande e exige que tenhamos um pouco mais de conhecimento. E, para encerrar, sugiro que você leia um pouco, por exemplo, sobre o pensamento social de Agostinho ou Calvino, para que tenha uma visão mais aprofundada sobre o que o cristianismo defendeu e defende sobre economia e política. Você vai se surpreender!



 
 
 

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