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SER ANGLICANO SIGNIFICA ESTAR LIGADO AO ARCEBISPO DE CANTUÁRIA?

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 14 de mar. de 2020
  • 3 min de leitura


Reverendo Padre Jorge Aquino.

Quando mais de uma centena de clérigos e leigos se reuniram em Saint Louis em 17 de setembro de 1977, criando o Movimento Anglicano Continuante, eles realmente pretendiam continuar sendo considerados como Anglicanos. Isso, no entanto, não ocorreu porque, apesar de sustentar as mesmas verdades do Quadrilátero de Lambeth, de usar o mesmo Livro de Oração Comum e de sustentar os 39 Artigos de Religião, aqueles que faziam parte da Comunhão Anglicana nunca reconheceram o caráter Anglicano dessas Províncias autônomas.

Chegou-se assim a se afirmar que para que alguém fosse efetivamente Anglicano, essa pessoa teria que pertencer a uma Província que estivesse em comunhão plena com a Sé de Cantuária, porque esse é o entendimento da Conferência de Lambeth. Diante dessa tese, as igrejas continuantes nunca foram reconhecidas como Anglicanas. O mesmo também pode ser dito aos que deixaram a The Episcopal Church e criaram a Anglican Church in North América (ACNA) e outras denominações Anglicanas convergentes. Diante disso, entendo que essa argumentação utilizada pelas igrejas da Comunhão Anglicana desqualificando o uso do nome “Anglicano” por essas outras igrejas e Províncias, carece de uma fundamentação mais sólida. E sustento isso com base em três razões.

Em primeiro lugar, as igrejas continuante e convergentes, podem sim continuar se identificando como Anglicanos porque as declarações da Conferência de Lambeth (se é que elas afirmam isso) não possuem caráter deliberativo, sendo apenas uma orientação dos bispos que ali se reuniram. Isso ocorre porque todas as Províncias Anglicanas são autônomas ou autocéfalas. Ademais, não vislumbro nas Conferências de Lambeth essa afirmação. O que encontramos nos documentos prolatados em Lambeth é o que, por exemplo, pontua o nº 148 das Reflexões sobre a Conferência de Lambeth 2008, que afirma: “Estar em comunhão com a Sé de Cantuária é um dos elementos essenciais para o pertencimento à Comunhão Anglicana”. Perceba que o texto não diz que estar em comunhão com Cantuária é um critério para que alguém “seja Anglicano”, mas para que faça parte da “Comunhão Anglicana”. Isso faz toda a diferença. Talvez essa centralidade em torno da importância do Arcebispo de Cantuária para que alguém possa ser considerado “Anglicano” seja apenas um reflexo, dentro do Anglicanismo, do movimento que ocorreu dentro do Catolicismo Romano europeu que passou a ser chamado de ultramontanismo. Neste movimento, a relação de submissão de cada igreja nacional se daria diretamente com o papa, que estava além dos montes.

Em segundo lugar, as igrejas continuante e convergentes, podem sim continuar se identificando como Anglicanos porque se esse critério fosse aplicado em todos os tempos e lugares a todas as Províncias Anglicanas, teríamos que afirmar que a Igreja Anglicana dos Estados Unidos deixou de ser Anglicana a partir da Revolução Americana – com a rendição dos ingleses em 4 de julho de 1776. Como sabemos, a Igreja Anglicana do novo país, mudou de nome e passou a se chamar de Igreja Protestante Episcopal dos Estados Unidos da América. Desde o final da guerra, os novos clérigos não tinham mais que prestar juramento ao Rei da Inglaterra. Quando foi preciso sagrar um novo bispo para esta nova igreja, sua ordenação não pôde ser realizada na Inglaterra porque ele não prestaria obediência ao Rei. Por causa disso, Samuel Seabury só foi sagrado bispo em 14 de novembro de 1784, na Escócia. Somente bem mais tarde o Rei, o Parlamento e o Arcebispo de Cantuária reconheceram a nova igreja e o novo bispo. Assim, durante oito anos, a Igreja Episcopal ficou sem bispo para dar assistência, e seu reconhecimento na Inglaterra (pelo Arcebispo de Cantuária) somente se deu mais tarde. Teriam esses irmãos deixado de ser Anglicanos por quase uma década? Obviamente, não!

Por fim, em terceiro lugar, as igrejas continuante e convergentes, podem sim continuar se identificando como Anglicanos porque se essa argumentação fosse válida significaria dizer que os Anglicanos ligados ao GAFCON (a maioria dos Anglicanos do mundo, muitos dos quais também ligados à Cantuária) – que não considera a The Episcopal Churchsequer uma igreja Cristã -, teriam que rever sua postura já que a The Episcopal Church está em plena comunhão com Cantuária. Seria uma contradição ter que chamar a TEC de Anglicana quando seque ela é vista como “igreja”, e não reconhecer a ACNA, que é reconhecida pela maior parte dos primazes Anglicanos do mundo, logo, a maior parte do anglicanismo mundial.

Assim, como percebemos, a questão do reconhecimento do Arcebispo de Cantuária não revela um critério satisfatório para dizer se uma igreja é ou não Anglicana, e sim, para afirmar se ela faz ou não parte da Comunhão Anglicana. Utilizar esse critério é estabelecer um critério pessoal, administrativo e que se aproxima ao clericalismo curial Romano.

 
 
 

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