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SAUDADES DA BOA TEOLOGIA

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

(Formatura da turma de 2000 no SAET, em Recife. Sentados, os bispos D. Robinson Cavalcanti e D. Filadelfo)

Reverendo Jorge Aquino.

Talvez em função do passar do tempo diante dos meus olhos, eu tenho me tornado mais saudoso em relação a uma série de realidades. Muita coisa não era, no passado, como é hoje. E isso me entristece.

Uma das realidades acerca das quais tenho saudades, é a da formação intelectual dos sacerdotes. Eu vivi uma realidade em que fazer um seminário era viver diariamente, e durante dois expedientes, estudando teologia e matérias afins na área da filosofia e das línguas bíblicas: hebraico e grego. Passei noites em claro, esperando para fazer as provas de grego bíblico ou de história da Igreja, na manhã seguinte, porque a matéria era bastante extensa e os professores muito exigentes. Qualquer seminarista que fosse flagrado colando, era expulso no mesmo dia do Seminário. Em todas as provas, tínhamos que escrever no canto superior direito, o nome pistós, que quer dizer “fiel”, em grego. O fundamento de tudo era a confiança. E isso era tão sério que, quando pela primeira vez, o professor entregou a prova e se encaminhou para a porta, ele foi arguido por um colega se iria deixar a turma sozinha. Diante desse questionamento ele respondeu: se eu não puder confiar em um grupo de sacerdotes, em quem poderei confiar? E foi embora. E, apesar de estarmos sós, ninguém colava.

Em resumo, tínhamos aula dois dos três expedientes diários, quase todos os dias; as aulas eram muito profundas; as provas eram muito exigentes e tínhamos que estudar o tempo todo. Tudo ficou tão definitivamente em nossa mente que, até hoje, ainda lembro como conjugar verbos ou declinar substantivos gregos. E olhe que eu me formei em Teologia, na turma de 1991.

Depois da graduação, me envolvi nos mestrados em Teologia e em Filosofia. No mestrado em Teologia, nunca me esquecerei da matéria “Metodologia da história da Igreja”, para a qual, eu lia 250 páginas por semana, para escrever meu paper. No mestrado em Filosofia, lembro da matéria “Ontologia fundamental”, na qual trabalhamos a introdução da obra Sein und Zeit (Ser e Tempo) de Martin Heidegger e, ao final do semestre, eu me sentia um completo ignorante! Esse sentimento de frustração me levou a me inscrever na disciplina “Ontologia fundamental II”, que se dedicava a estudar, durante um semestre, apenas o sétimo parágrafo da introdução do Sein und Zeit. Nossa como filosofar em alemão é difícil para nós, latinos!! Em ambos os mestrados, ficou claro que haviam exigências sérias e a maior de todas era a da dedicação ao estudo.

Quando, ao fim e ao cabo de minha formação acadêmica, fui convidado a ser Reitor do Seminário Anglicano em Recife, eu sempre procurei investir nos melhores professores possíveis e em renovar completamente nossa biblioteca. Para tal, tive todo o apoio do meu bispo diocesano, D. Robinson Cavalcanti e da JUNET – Junta de Educação Teológica da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, que enviou os valores necessários para renovar boa parte da biblioteca de nosso Seminário. Minha grande alegria no SAET ocorreu quando recebi uma placa comemorativa da turma de formandos, agradecendo por nosso trabalho.

Hoje, depois de tantos anos de pesquisa e de produção teológica com vários livros, artigos e verbetes publicados, vejo com muita tristeza o calibre intelectual dos que estão sendo ordenados hoje em dia. Hoje me dou conta de que os dias em que passávamos noites insone nos preparando para provas, em que nos dedicávamos ao estudo sério da teologia e da filosofia com a mente aberta e o coração focado em uma formação de excelência, e com a leitura exaustiva de textos profundos sobre os temas apontados por nossos mestres, já não existem. Sim, esses dias de trabalho extenuante e labor exaustivo de teologia e filosofia, não se encontram mais.

Meu lamento é maior porque, parece que esses novos sacerdotes, sequer tiveram uma educação média satisfatória. Digo isso diante das falas que vejo e dos erros de concordância verbal e nominal que verifico. Mas, o que fazer, se o que importa é resumir tudo? Parece que até para ler, a preguiça é que se impõe. Tristes dias, estes.

 
 
 

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