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REFLEXÕES SOBRE UM CRISTÃO DIVORCIADO

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 26 de jun. de 2019
  • 4 min de leitura
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Reverendo Padre Jorge Aquino.

Quanto mais o tempo passa, mais fica difícil esconder a realidade de que um percentual expressivo de cristãos, acabam se divorciando. Essa realidade, de per si já exigiria uma postura da Igreja. No entanto, o tempo vai passando e os sofrimentos pessoais vão sendo esquecidos e olvidados. Afinal, o que pensar sobre um cristão divorciado?

Em primeiro lugar, temos a obrigação de continuar tratando-o como um cristão, portanto, como um irmão em Cristo e membro de Seu corpo espiritual que é a Igreja. Não estamos, aqui, questionando as razões que fazem com que alguém se divorcie. Será que alguém tomaria tal decisão por brincadeira? Será que todo o sofrimento que uma separação envolve não é levado em conta? É claro que quando um cristão chega a tomar uma decisão como essa é porque algo bastante sério aconteceu. Sobre o que estamos falando? Estamos falando de violência doméstica; estamos falando de infidelidade contumaz; ou simplesmente, falando da exaustão de um sentimento que deixou de existir por inabilidade ou falta de nutrição de ambas as partes. O que fazer agora? Exigir que os dois permaneçam juntos, porque a Igreja não aceita o divórcio? Seria razoável, ou melhor, seria cristão exigir tal coisa? Sinceramente acredito que não. Mesmo Deus entende que o divórcio – que efetivamente não estava em seus planos – veio a existir em razão da dureza dos corações humanos. Ora, irmãos, se Deus aceita essa realidade e acolhe o divorciado, por que não a Igreja? Será ela mais pura ou mais santa que Deus?

Se a primeira afirmação que fiz for verdade, então, em segundo lugar, temos que reconhecer os direitos dos cristãos divorciados enquanto legítimos membros do Corpo de Cristo, que é a Igreja. Ou seja, se de fato um cristão divorciado continua sendo parte da família de Deus, pergunto: por que ele não pode ter acesso à mesa do Pai, como todos os outros irmãos? Por favor, não quero mais ouvir meias verdades ou argumentos falaciosos que nos levam para fora do caminho que trata do assunto concreto. Não adianta dizer que existe uma “pastoral” para os divorciados, que eles são amados, queridos, valiosos, etc., se todo esse amor, todo esse carinho não se traduz em gestos concretos. E qual é o mais importante gesto que um cristão divorciado quer ver? Ele que ver seu pároco, diante dele, oferecendo-lhe a Santa Comunhão. Ele quer ter a possibilidade de se sentar à mesa com o Pai e de ser visto – não como um fracassado ou um pecador -, mas como uma pessoa que é amada por Deus e acolhida pela Comunidade eclesial. Assim, devemos dar a Santa Comunhão ao cristão divorciado, porque esse é seu direito; um direito conquistado na cruz, por Jesus.

Nós nunca deveríamos pensar que, na comunidade dos fiéis, existem cristãos de primeira e de segunda classe. Ou somos cristãos, com todas as bênçãos e dons que o Espirito Santo – que habita em nós -, nos dá, ou somos apenas frequentadores de uma instituição religiosa que procura ludibriar nossa inteligência com a falsa ideia de que somos aceitos e meras palavras como “acolhimento” e “amparo”.

Sou Anglicano. Entre os Anglicanos existem pessoas divorciadas. Nós sabemos que elas não chegaram até essa condição porque era o que elas queriam ou sem qualquer tipo de sofrimento. Mas preferimos tratar o assunto de uma perspectiva pastoral. O que nosso Bom Pastor faria? O que Jesus fez quando, na ultima ceia, estava diante de Judas, que o trairia? Porventura Jesus o impediu de comungar? O que Jesus fez quando Pedro, que iria negá-lo três vezes, tomou o pão? Repreendeu-o? Não! Ora, se Jesus permitiu que o traidor comesse daquela ceia com ele, porque eu proibiria qualquer cristão verdadeiro de participar de um direito que é seu, que é participar da Santa Comunhão? Eu seria um hipócrita e um cínico se desse a Santa Comunhão a um padre pedófilo e a negasse a um cristão piedoso, simplesmente porque ele é divorciado.

Mas, continuando nossa reflexão, se as duas afirmações anteriores são verdadeiras, então eu posso dizer que existe uma terceira afirmação que deveria ser reconhecida como igualmente verdadeira. Partindo do pressuposto lógico de que “quem pode o mais pode o menos”, eu afirmaria que se o cristão divorciado tem o direito – como qualquer outro cristão – de participar da Santa Comunhão, da mesma forma, e seguindo o mesmo raciocínio, ele também deveria ter o direito de contrair um novo Matrimônio. Eu seria um hipócrita e um descrente do poder transformador de Deus se não acreditasse que um cristão divorciado poderia – uma vez mais -, retomar a sua vida afetiva e amar e ser amado plenamente, uma vez mais. Por isso, como cristão e como sacerdote Anglicano, jamais poderia negar o rito sacramental do Matrimônio a uma pessoa plena de amor, apenas porque ele experimentou o divórcio.

Devemos sempre lembrar que Deus é o Deus do acolhimento e do recomeço. Ele é o Deus que renova diariamente todas as coisas. Por que não poderia restaurar uma alma que deixou de acreditar na possibilidade de amar de novo? Afinal, o amor vem de Deus, e todo o que ama, conhece a Deus, porque Deus é amor. Que o amor de Deus fale mais alto que as estruturas de poder da Igreja e que a hipocrisia seja vencida pela verdade do Evangelho que acolhe a todos.

 
 
 

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