Reflexões sobre o celibato
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

- 17 de fev. de 2019
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Quando pensamos nos grandes desafios que a Igreja Romana está passando no momento, um dos maiores, e mais óbvios, diz respeito ao voto de celibato. Quando um padre é ordenado, ele declara audivelmente e perante todos, que jamais se unirá a outra pessoa pelo matrimônio. Isto é o voto de celibato. Em latim, estar em condição de “caelibatus” é estar e viver na condição de não casada. É exatamente o posto da condição de “coniungalen”, ou seja, de viver com o jugo, uma espécie de amarra que estava em volta do pescoço dos prisioneiros. Viver em estado celibatário, significa, portanto, viver sem a presença de um cônjuge.
De uma perspectiva histórica, o celibato só foi definitivamente definido como uma obrigação dos padres romanos no Concílio de Trento (1545-1563). Abe-se que antes dele, muitos padres e mesmo papas viviam com suas esposas sem quaisquer dificuldades. Hoje, somente a Igreja Católica latina mantém essa exigência. Mesmo os padres orientais ligados à Roma podem casar-se, bem como os padres Ortodoxos, os Anglicanos e os ministros de todas as demais igrejas protestantes do mundo.
Sabemos que, de uma perspectiva bíblica, são Paulo, falou acerca de algumas pessoas que tinham o “dom” do celibato e que, portanto, nem todos os ministros possuíam esse dom, por isso, deveriam casar e ter suas próprias mulheres. De uma perspectiva bíblica, o ensino de São Paulo é bastante claro quando diz que: “Gostaria que todos os homens fossem como eu; mas cada um tem o seu próprio dom da parte de Deus; um de um modo, outro de outro. Digo, porém, aos solteiros e às viúvas: é bom que permaneçam como eu. Mas, se não conseguem controlar-se, devem casar-se, pois é melhor casar-se do que ficar ardendo de desejo (I Coríntios 7: 7-9). Este texto revela duas verdades bastantes claras: na primeira descobrimos que existe um “dom” para alguns que deveriam viver no celibato, mas, em segundo lugar, aqueles que não tinham tal dom. Estes deveriam se casar, sem dúvida alguma. Portanto, de uma perspectiva bíblica, só poderíamos exigir o celibato de pessoas que tenham esse dom. Quanto aos demais, eles deveriam ter a liberdade de casar-se. No que diz respeito aos bispos Paulo é claro: “É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, prudente, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro. Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus?” (I Timóteo 3: 2-5). Alguma dúvida sobre o ensinamento bíblico? Acho que não.
Do que lemos acima descobrimos que: o celibato é uma exigência recente na Igreja Romana; essa exigência só se aplica aos sacerdotes da Igreja latina, vez que os sacerdotes das igrejas Orientais ligadas à Roma (Uniatas); todos as demais igrejas cristãs permitem que seus ministros se casem e, que o celibato não faz parte da “doutrina” da Igreja Romana, mas de sua “disciplina”.
Como seria bom que a Cúria Romana – a partir de seu papa, Francisco -, chegasse a conclusão de que ser casado é algo importantíssimo, senão fundamental para aquele que pretende ser o pastor de uma comunidade que envolve a exigência de aconselhar pessoas que são casadas. Ademais, é de conhecimento público, que muitos padres acabam por quebrar esse “voto” de celibato, vivendo com uma companheira e – não raramente – gerando filhos. Afinal, casar-se faz parte da vontade de Deus para todos nós: “Não é bom que o homem esteja só” (Gênesis 2: 18).


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