Reflexões sobre a vida e a morte

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Minha manhã, hoje, foi diferente das inúmeras manhãs que a antecederam. Havia algo de errado. faltava algo. Hoje, depois de muito tempo, eu não estaria assistindo os comentários sempre sóbrios, críticos e com uma pitada de bom-humor, feito por um dos maiores jornalistas brasileiros, Ricardo Eugênio Boechat. Lembro que quem me avisou sobre sua morte foi minha esposa, tão admiradora desse comunicador – bem como da “doce Verusca” – quanto eu. A princípio não acreditei, mas ela ligou uma segunda vez dizendo que já estava em todos os canais da internet.

Confesso que durante a tarde e a noite de ontem, parei um pouco para refletir sobre a vida e a morte. Mas porque refletir sobre a morte? Porque não existe vida sem ela. De fato, quando nascemos, começamos a morrer.

Mas acho que existem algumas teses sobre a vida e a morte que eu gostaria de afirmar, porque são o resultado de minha própria leitura de quem já viveu o bastante para morrer.

Em primeiro lugar, eu diria que não deveríamos perder tempo com bobagens em nossa vida. É certo que para quem está gozando da plena juventude, dizer algo assim parece prosaico, banal, ou até antiquado. Mas infelizmente, jovens também morrem. E, se eu cheguei até essa idade, foi por uma dádiva de Deus. Eu bem já poderia ter morrido. Mas isso que eu disse se aplica muito bem à nossa vida. Não espere para amanhã para usar aquela roupa que você só espera usar em uma festa especial. Não espere até amanhã para beber aquele vinho que está guardado a tanto tempo, esperando a formatura de seu filho. Não espere até amanhã para dizer que ama sua esposa. Diga hoje, vista hoje, beba hoje. Não perca seu tempo, aproveite o dia – carpe diem. Não espere ver sua esposa em um caixão para poder dar-lhe um buquê de rosas. Aproveitar as oportunidades é a solução para quem quer ter uma vida feliz.

Em segundo lugar, acredite, não precisamos de tanta coisa para sermos felizes. É claro que dizer isso em um mundo tão consumista que, se alguém não comprar o último lançamento da apple é capaz de ter uma síncope, parece querer perder seu tempo. Mas é justamente o que eu estou dizendo. Passamos a vida inteira juntando coisas, comprando, adquirindo, e, em razão de tudo isso, nos preocupando. Tenho pena de quem tem uma casa em sua cidade, outra em Nova Iorque e outra na praia. Imagine o tempo que essa pessoa passa se preocupando com segurança, impostos, manutenção, e toda a carga de atividades que “ter uma casa” implica. Não, eu não estou dizendo que devemos morar debaixo da ponte. Estou dizendo que não precisamos ter tanta coisa para sermos felizes. A felicidade não vem com o acúmulo de coisas – a preocupação, sim. A felicidade está no desprendimento, no desapego e na desambição. A simplicidade é a solução para quem busca uma vida feliz.

Finalmente, se você deseja ser feliz, una-se a alguém que se preocupa com você. Não dê tanta atenção às revistas que te enchem de estatísticas. Recentemente li um artigo sobre uma pesquisa realizada na Universidade de Genebra com 1074 casais entre 19 e 75 anos. Eles “descobriram” que a fórmula do casamento perfeito é se casar com um homem que seja cinco anos mais velho, que não seja divorciado e que tenha experiências culturais semelhantes. Por que? Porque os homens mais velhos e feios, vão ter mais cuidado com suas esposas mais novas e bonitas; porque homens que já se divorciaram encaram o segundo divórcio com mais naturalidade, e porque ter o mesmo gosto cultural aproxima mais as pessoas. Mas, o que garante que uma pesquisa feita no final dos anos 90, em uma realidade cultural diferente da sua e com pessoas diferentes de você e de sua esposa, seja aplicável à sua vida? Meu caro leitor, a vida é muito curta para perdermos oportunidades, para nos apegarmos a coisas supérfluas e para deixarmos passar o amor de nossa vida. Portanto, quando aquela pessoa que mexeu com você aparecer na sua frente, não perca a oportunidade. A vida é muito breve para que a deixemos passar sem que gozemos a felicidade que ela pode nos dar.