QUANDO DEUS ESTÁ MORTO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 3 de mai. de 2019
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Reverendo Cônego Jorge Aquino.
Quem já estudou filosofia em sua graduação, ou mesmo no ensino médio, já deve ter ouvido falar de Friedrich Nietzsche e de sua tese sobre a morte de Deus. É claro que ele não estava se referindo a alguma espécie de deicídio, já que Deus, por natureza, não pode morrer. No entanto, nós podemos olhar para Deus como alguém com quem não temos qualquer relação e cujo desejo ou vontade não nos é significante nem tem qualquer relevância. Nesse sentido, podemos dizer que Deus está morto para nós.
Um exemplo muito interessante sobre essa verdade, eu encontrei essa semana lendo um texto de Scott Adams chamado Partículas de Deus: uma experiência para repensar a vida. Neste texto ele narra o encontro e a conversa entre um entregador de encomendas e um idoso cheio de inquirições. Em certo momento do debate, o entregador diz que existem mais de quatro bilhões de pessoas que acreditam em Deus. Diante dessa afirmação, o senhor mais velho retruca: “Quatro bilhões de pessoas dizem que acreditam em Deus, mas poucas acreditam genuinamente. Se as pessoas acreditassem em Deus, viveriam cada minuto de suas vidas em apoio àquela crença. Os ricos dariam sua fortuna aos necessitados. (…) Mas os seus quatro bilhões de pretensos crentes, não vivem suas vidas dessa forma, com exceção de alguns. A maioria acredita na utilidade de suas crenças – uma utilidade terrena e prática -, mas não acreditam na realidade subjacente” (ADAMS, 2002, p. 47, 48).
Essas pessoas fingem que acreditam para receberem os benefícios da religião. Por isso elas leem os livros sagrados, vão eventualmente à igreja e até dizem orações. No entanto, como afirma Scott, se você realmente acreditasse que um caminhão estava vindo em sua direção, você sairia da frente. Esse seria o comportamento esperado de quem acredita nisso. Mas, dizer que o caminhão está vindo em sua direção e não fazer nada, é o mesmo que não acreditar no caminhão. Da mesma forma, dizer que acredita em Deus e não agir como Deus quer, não viver como Deus deseja, não refletir nem dizer o que Deus quer, é o mesmo que não acreditar em Deus. Dizer que acredita e deixar seu irmão morrer de fome é professar sua incredulidade. Dizer que crer e não perdoar seu irmão penitente, é descrer. Eis a forma como matamos a Deus. Matamos a Deus todas as vezes em que nossos gestos não se coadunam com o que confessamos.
Que estas breves palavras nos mude a vida, nos esclareça a alma e nos transforme em verdadeiros crentes.
Referência bibliográfica:
ADAMS, Scott. Partículas de Deus: uma experiência para repensar a vida. Rio de Janeiro: Ediouro, 2002
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