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EM QUAL DIREÇÃO OLHAMOS?

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 3 de out. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 4 de out. de 2021

Reverendo Jorge Aquino.

Qualquer seminarista, no seu primeiro ano de estudo, já se deu conta que existem uma infinidade de pontos de vista acerca de todos os grandes temas da teologia. Dessa forma, quando estudamos teologia própria, podemos assumir uma postura que pode ser teísta, deísta, agnóstica, negativa, etc.; se formos estudar a eclesiologia, podemos tender para o sistema de governo episcopal, presbiterial ou congregacional; sobre a idade das pessoas batizadas existem os pedobatistas e os anti-pedobatistas; existem aqueles que acham que o batismo só pode ocorrer se for por imersão, existem os que defendem que a inclusão também é válida e aqueles que dizem que além desses dois tipos, a efusão também é uma possibilidade. Sobre escatologia podemos encontrar a escola pré-milenista histórica, a pré-milenista dispensacionalista, a pós-milenista ou a amilenista. Sobre a soteriologia, existem desde os extremista do lado calvinista (com 5, 4 ou 3 pontos) e, do outro extremo, os arminianos. O mesmo podemos dizer sobre todas as outras grandes temáticas da teologia. Não pense, o leitor, que assumir uma postura sobre cada um desses temas – e tantos outros que estou evitando expor por falta de espaço -, é uma questão fácil para quem realmente estuda os temas e busca um posicionamento que seja realmente fundamentado. Em outras palavras, definir nossa credenda, não é algo simples para quem é responsável. No entanto, sobre nossas crenças, eu acredito que deve existir alguma forma de dizer que certas doutrinas são mais importantes do que outras. Ou seja, não acredito que alguém coloque questões relacionadas à forma do batismo no mesmo patamar do debate relacionado às naturezas de Cristo. Ou seja, parto do pressuposto de que, pelo menos em nossa credenda, existem doutrinas que são mais importantes do que outras. Assim, posso concluir que nesse aspecto, a teologia é semelhante a uma cebola, com camadas que vão das mais superficiais até aquelas mais internas e centrais.

Quando migramos para questões que saem da esfera doutrinária e vão para a esfera da ética – ou seja, àquelas questões que dizem respeito à nossa agenda -, ou seja, as questões práticas e relacionadas com o que fazemos, os problemas não desaparecem. Existem, por exemplo, várias posições entre os cristãos, sobre questões como pena de morte, postura política, uso de roupas ou paramentos litúrgicos, o tamanho do cabelo, o uso do véu, o acesso ao álcool e ao fumo, o cinema, a dança, além de temas como o espaço das pessoas homoafetivas, das mulheres, ou dos negros, na igreja – quer enquanto leigos quer enquanto clérigos. Acredite, caro leitor, eu tive um professor quando fiz meu curso de teologia que argumentava biblicamente sobre a fundamentação do regime do apartheid na África do Sul. Assim como penso no que diz respeito ao que cremos, também acredito que a mesma “teoria da cebola” também se aplica às questões de nossa agenda. Ou seja, também deve existir uma certa hierarquia de importância no debate acerca daquilo que fazemos.

Uma outra afirmação que, acredito, me parece ser compartilhada com a maioria dos estudiosos é aquele que, quando comparamos o que cremos com nossa forma de agir, acredito que as questões relacionadas ao que cremos ocupam uma posição central, ao passo que questões relacionadas ao nosso agir, assume uma posição mais periférica. Ou seja, hierarquicamente, nossa fé é mais importante do que nosso comportamento. Utilizando mais uma vez a “teoria da cebola”, os aspectos relacionados à nossa fé estão no centro, ao passo que aqueles relacionados à nossa ação, estão na periferia.

Estamos, assim, diante de dois blocos bem definidos de temas: a credenda (aquilo que norteia o que cremos) e a agenda (aquilo que norteia o que fazemos). Ademais, sabemos que tanto no primeiro bloco de assuntos, quanto no segundo, existe uma hierarquia na importância dos assuntos. Mas, por que estou colocando estes assunto diante de nós? Porque, queiramos ou não, cada um de nós acabará fazendo na vida, uma escolha sobre a forma como olhamos para estes dois blocos de assuntos. Ou seja, ou bem, olharemos esta questão de dentro para fora – ou seja, da doutrina para a ação -, ou bem, vislumbraremos este tema de fora para dentro – ou seja, das questões éticas para as doutrinárias.

Assim, para ser bem prático, aqueles que olham de fora para dentro, primeiro olham para o outro e perguntam se ele bebe cerveja ou dança, e somente depois questiona sobre sua fé. Os que olham de dentro para fora, antes de mais nada, perguntam se seu interlocutor acredita na divindade de Jesus e na sua ressurreição, para depois, questionar acerca de seus costumes, comportamento ou hábitos práticos.

Destas duas posturas surgem duas formas de viver a fé cristã. Uma delas é mais voltada para nossa fé comum, a outra é voltada para o comportamento comum. No primeiro caso, encontramos pessoas mais voltadas para o relacionamento e o diálogo ecumênico. No segundo caso, encontraremos pessoas voltadas para posturas mais moralistas. Desta forma, me inclino a pensar como Brennan Manning quando escreveu: “Quando a glória do Deus transcendente está fora da nossa pauta, nossa atenção se volta para o comportamento humano, para o cultivo de virtudes e para a eliminação de defeitos”. Em outras palavras, passamos a valorizar aspectos da vida e do comportamento do outro, ao invés de suas posturas de fé.

De uma perspectiva puramente anglicana, o que podemos afirma com segurança é que, de acordo com o Artigo 6, dos 39 Artigos de Religião, as Escrituras Sagradas “contém todas as coisas necessárias para a salvação; de modo que tudo o que nela não se lê, nem por ela se pode provar, não deve ser exigido de pessoa alguma que seja crido como artigo de Fé ou julgado como exigido como necessário para a salvação”. Assim, entre os anglicanos, faz-se a diferença entre questões fundamentais e questões chamadas de adiáforas ou indiferentes. Nestas, temos plena liberdade, naquelas, devemos crer como o ensino vindo de Deus. Para tanto, é preciso que abordemos todas as questões com a necessária humildade e submissão à Deus, mas também, olhando para o ensino histórico da igreja – particularmente em seus credos ecumênicos -, e para o que nos mostra a razão.


 
 
 

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