
Padre Jorge Aquino.
Quem se identifica como Anglicano, inevitavelmente compreende que estamos falando de uma expressão cristã extremamente ampla e diversificada. Isso significa que o anglicanismo acaba funcionando como um grande guarda-chuvas que dá suporte a uma gama enorme de posturas teológicas. No Brasil, a maior Igreja Anglicana (Igreja Episcopal Anglicana do Brasil) existe uma postura majoritariamente anglo-católica liberal. No entanto, entre os que afirmam Anglicanos Continuantes, a postura majoritária é a anglo-católica conservadora. Não é incomum, por exemplo, ver cristãos Anglicanos em celebrações que são praticamente exclusivamente Católica Romana.
Quando falamos em anglicanismo, portanto, estamos nos referindo a um movimento religioso que compartilha de uma história comum, uma liturgia comum e uma doutrina comum. Em geral, no que se refere à fé, todos os Anglicanos concordam com a fórmula “1-2-3-4-5”, ou seja, cremos Uma Bíblia, Dois Testamentos, Três Credos, Quatro Concílios Ecumênicos, realizados nos primeiros Cinco séculos da Igreja.
No entanto, a partir dessa data, a Igreja cristã acaba se desenvolvendo em várias direções. Isso vai redundar no chamado Grande Cisma de 1054, onde a Igreja Católica de Roma se separa da Igreja Ortodoxa Oriental. Depois dessa data fica cada vez mais difícil falar em um Concílio Ecumênico, ou seja, que reúna todos os cristãos de todo o mundo habitado (Oikoumene).
Eis que, a solenidade do Corpus Christi, por exemplo, celebrada hoje na quinta feira após a oitava de Pentecostes – depois da festa da SS Trindade -, foi oficializada pelo papa Urbano IV, em 1264. O dogma da Transubstanciação foi determinado no Concílio de Latrão (1215) e reafirmado em Trento (1545-1563), afirmando ser anátema todos os que negarem tal fé.
A questão que levanto é, ainda que no anglicanismo haja espaço para se acreditar nessa questão especial, como contrariar a fórmula “1-2-3-4-5”, como abdicar do Quadrilátero de Lambeth e, mais complicado ainda, como “reler” os 39 Artigos de Religião fazendo-os aceitar o que eles claramente afirmam ser contrário às Escrituras? A questão que fica, portanto, é: qual o fundamento do anglo-catolicismo? Afinal, se as decisões conciliares posteriores ao sexto século também são válidos, então será necessário aceitar a declaração dogmática da Infalibilidade papal e, por via de consequência, a declaração papal de que as ordens anglicanas são nulas e inválidas. Ou bem abraçamos o pacote inteiro ou bem o negamos. Não acredito ser coerente “pinçar” o que gostamos e deixar de lado aquilo que não queremos. Qual é o critério, afinal?
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