Procurando um cerimonial

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Como alguém diretamente ligado a casamentos e aos noivos, eu percebo a angústia por que passam alguns casais para escolher o seu Cerimonial. E é pensando em vocês que eu gostaria de dar algumas dicas a respeito deste tema.

Antes de mais nada precisamos saber o que é um Cerimonial. O Cerimonial é o nome que damos à uma empresa que contratamos para organizar o evento que pretendemos realizar. Acerca destes fornecedores, apontaria algumas observações que julgo importantes, fruto dos meus quase 30 anos de experiência realizando matrimônios.

O primeiro dado razoavelmente escandaloso é que, na última vez que contei, existiam mais de 140 cerimoniais em nossa cidade. Isso realmente é um absurdo e só revela que tem muita gente querendo ganhar dinheiro, mas sem ter competência alguma. Normalmente são pessoas que trabalharam por algum tempo em algum bom cerimonial da cidade e resolveu abrir o seu próprio, para ganhar um dinheiro a mais no fim de semana. Portanto, o primeiro critério que um casal deve buscar antes de contratar um cerimonial para seu casamento é a experiência. Procure saber a quanto tempo esse cerimonial está no mercado e não se engane com sorrisos largos e preços baixos; isso não é sinal de qualidade e experiência.

Em segundo lugar, procure um cerimonial que respeite o rito de sua religião. Ora, sabemos que cada religião possui ritos próprios para a celebração matrimonial. Um Anglicano, um Batista, um Luterano ou um Romano (e eu coloquei em ordem alfabética), possuem ritos próprios que devem ser observados pelo ministro, obrigatoriamente. O cerimonialista não tem autoridade para impor ao ministro elementos estranhos à liturgia de cada Igreja. Lamentavelmente posso testemunhar de cerimonialistas que me “comunicaram” que haveria um elemento na cerimônia, sem sequer perguntar se esse elemento cabia ou contrariava o rito. Um bom cerimonialista respeita o sacerdote ou pastor; ele não o trata como mero coadjuvante do evento – que não existiria sem ele -, mas procura, educadamente e respeitosamente, saber se tal ou qual elemento pode ou não ser utilizado.

Em terceiro lugar, procure um cerimonial que não seja inseguro ou que minta. Explico. Depois de ter fechado a data com os noivos, eu sei o horário da cerimônia. Mas quando recebo uma ligação do cerimonial me dizendo um horário bem anterior ao que ficou acertado no contrato, me pergunto: por que fazem isso? Ou bem é um cerimonial inseguro ou bem é pura mentira mesmo. Quero registrar que, em quase 30 anos fazendo casamentos, só cheguei atrasado uma vez, e foi com a ciência dos noivos, que insistiram que eu fizesse sua cerimônia, mesmo sabendo que eu teria um matrimônio anterior. Detalhe, atrasei dez minutos. Nada contra que se faça o cheque-list, mas sejamos corretos com o que ficou acertado. Não adiante “tocar o terror” na cabeça das noivas dizendo que o padre vai arruinar a celebração se não chegar na hora que ele – o cerimonial – quer. O horário já ficou estabelecido entre os noivos e o padre. O que o cerimonial tem que fazer é respeitar isso. Afinal de contas é extremamente descortês fazer o padre, ou qualquer outra pessoa, ficar duas horas esperando por algo que o cerimonial sabe que somente ocorrerá na hora previamente marcada.

Em quarto lugar, procure um cerimonial honesto. Lamentavelmente existem cerimoniais que omitem dos noivos que os sacerdotes católicos romanos, não podem celebrar matrimônios fora da paróquia sem a autorização dos seus bispos, e que esses matrimônios podem ser anulados. Isso pode gerar um grande problema para os noivos, mas eles não são avisados. Esta desonestidade (ou ignorância) ocorre também, porque muitos cerimoniais, embora sabendo que um juiz de paz não é a mesma que ser um juiz de direito e que aquele é apenas o funcionário de um cartório e, por via de consequência, não pode celebrar o rito matrimonial como se sacerdote fosse, muito cerimoniais se calam sobre isso. Essa “mímica”, “pantomima” ou “falcatrua”, feita por alguns juízes de paz (que muitas vezes nem formados são) é omitida por alguns cerimoniais porque eles pensam apenas em ganhar seu dinheiro ou serem indicados para futuros contratos. Ora, isso é desonestidade!

Em quinto lugar, procure um cerimonial que tenha um canal aberto para falar com você. Quantas noivas desesperadas eu já não ouvi reclamando que não conseguiam falar com seu cerimonialista? Eu próprio já liguei mais de 10 vezes, para dois números diferentes, durante três dias seguidos, e não consegui falar com um determinado cerimonial. Esse tipo de postura, no qual o cerimonialista simplesmente desaparece, gera muita insegurança aos noivos. É claro que quem tem que decidir as questões da cerimônia são os noivos. Isso não impede o cerimonialista de dar sugestões; mas é importante ter os canais abertos para saber qual a vontade dos noivos.

Em sexto lugar, procure um cerimonial informado e inteligente, ou seja, que leia e que se inteire dos assuntos que lhes dizem respeito. Digo isso porque recentemente ouvi uma noiva me dizer que, de acordo com seu cerimonial, o matrimônio Anglicano não seria reconhecido pela Igreja de Roma, sendo apenas um “teatro”. Ora, se esse cerimonial fosse minimamente informado, avisado, sabedor dos fatos acerca dos quais ele trabalha, saberia que os matrimônios Anglicanos realizados sem defeitos dirimentes (e eles têm a obrigação de saber o que é isso) são reconhecidos, sim, pela Igreja Romana. Ou será que essa figura – que se considera cerimonialista - realmente acredita que o casamento da Rainha da Inglaterra e de todos os seus filhos e netos, foram apenas um ato “teatral” sem importância? Contudo, é mais fácil (ou mais conveniente) continuar na ignorância e reproduzir uma mentira.

Finalmente, em sétimo lugar, procure um cerimonial atento aos detalhes. Lembro que celebrei um matrimônio em que os noivos escolheram por não terem os encontros matrimoniais comigo e eu só os encontrei na hora do contrato e na cerimônia. Ora, eles haviam resolvido escrever mensagens, um para o outro, que deveriam ser lidas depois dos votos religiosos. Assim sendo, depois que o noivo fez os votos sacramentais, passei o microfone para que ele pudesse ler sua mensagem para a noiva. Foi uma mensagem linda! Mas, depois que a noiva fez os votos sacramentais, ela se dirigiu a mim e me pediu o papel com a mensagem dela. Eu, simplesmente não sabia do que ela estava falando. A noiva, chateada, improvisou umas palavras e eu terminei a cerimônia. Ao final, procurei a cerimonialista responsável e perguntei porque ela não me havia dado o texto para entregar à noiva. Ela me disse que quando recebeu da noiva o papel, dentro de um envelope, pensou que era o pagamento de um dos fornecedores e que o havia guardado dentro da pasta - que estava em seu carro. Moral da história, até hoje esta desatenção ou irresponsabilidade da cerimonialista, foi jogado na minha conta, pois a noiva me culpou pelo fato, como se eu tivesse resolvido simplesmente “jogar fora” sua mensagem. Detalhe, a cerimonialista nunca se retratou.

Em resumo, não se deixe levar por sorrisos largos de belas jovens vestidas de preto ou por ternos impecáveis e um ar requintado. Na hora de seu matrimônio, pense em contratar um cerimonial que tenha experiência, que respeite o sacerdote, que seja seguro do que faz, que seja honesto, que tenha um canal permanentemente aberto com você, que seja inteligente e que esteja atento aos detalhes.

Por fim, devo registrar que existem cerimoniais onde você pode encontrar tudo isso. Essas qualidades nada tem a ver com preço – muito embora, geralmente esteja -, mas existem cerimoniais baratos que são competentes, atenciosos, cuidadosos, pontuais, respeitosos e assegurarão que seu casamento será um sucesso.