PORQUE BATIZAMOS POR ASPERSÃO?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 2 de jul. de 2021
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Faz mais de uma década que um dos pastores batistas de minha cidade comprou uma grande briga com sua denominação, quando recebeu como membro de sua igreja, uma pessoa que havia sido batizada por aspersão, na igreja presbiteriana. Isso ocorreu, porque para os batistas, a única forma correta para o batismo é a imersão. Na verdade, muitos cristãos se revelam intransigentes quando o assunto é a forma do batismo. Neste pequeno texto, procurarei desenvolver uma argumentação em favor do batismo realizado por aspersão ou efusão.
Para procurar apresentar uma argumentação exegética a favor do batismo por aspersão, nos serviremos do texto do evangelho de João, no primeiro capítulo, que diz: “E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. E os que tinham sido enviados eram dos fariseus. E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?” (João 1:19-25).
Pois bem, neste texto vemos João, o batista, sendo confrontado pelos fariseus e tendo que explicar qual a razão pelo qual ele realizava batismos se confessava que nem era o Cristo, nem Elias e nem um dos profetas. A grande questão que se impõe é: qual a relação que existe entre o batismo e estes três personagens? Se compreendermos a razão, entenderemos porque João foi tão criticado pelos fariseus. Vamos dividir nossa argumentação em três partes.
I. Porque batizas se não és o Cristo?
A primeira informação que precisamos destacar e que, havia algum fundamento nessa pergunta. Os fariseus eram profundos estudiosos das Escrituras e, por causa disso, eles acreditavam que a vinda do “Ungido” (o Cristo), ou o Messias, estava intimamente relacionada à prática da aspersão.
Quando lemos textos como Ezequiel 36: 24-26, lemos que aquele que viria deveria aspergir, senão vejamos: “E vos tomarei dentre os gentios, e vos congregarei de todas as terras, e vos trarei para a vossa terra. Então aspergirei água pura sobre vós, e ficareis purificados; de todas as vossas imundícias e de todos os vossos ídolos vos purificarei. E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne”. Outro texto é Isaías 52: 15 que, falando acerca do Servo do Senhor (um título aplicado ao Messias) deveria aspergir ou borrifar água sobre as nações. Assim diz o texto: “Assim borrifará muitas nações, e os reis fecharão as suas bocas por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que eles não ouviram entenderão”.
Ora, diz a bíblia que Jesus deveria vir para cumprir a lei e os profetas (Mateus 5: 17), e João 4:1 é claro quando diz: “E quando o Senhor entendeu que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João”. Mesmo que fossem os seus discípulos que batizavam, o batismo estava relacionado à vinda do Cristo. E não qualquer batismo, mas aquele praticado por aspersão. Se Jesus imergisse seus discípulos, essa pergunta não faria sentido.
II. Porque batizas se não és Elias?
A segunda pergunta relevante feita pelos fariseus a João, também deixava claro que o batismo realizado por João era por aspersão. No Antigo Testamento lemos que Malaquias profetizou a vinda de Elias. Vejamos o que diz o texto bíblico: “Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; e de repente virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais; e o mensageiro da aliança, a quem vós desejais, eis que ele vem, diz o SENHOR dos Exércitos” (Malaquias 3:1). Neste texto Elias prevê que surgiria alguém que prepararia o caminho do Senhor. Ele seria um mensageiro (anjo), como afirma Isaías (40:3) “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo vereda a nosso Deus”. Outro detalhe de Elias, é que ele purificaria os filhos de Levi: “E assentar-se-á como fundidor e purificador de prata; e purificará os filhos de Levi, e os refinará como ouro e como prata; então ao Senhor trarão oferta em justiça” (Malaquias 3:3).
Ora, conforme sabemos, João Batista foi associado a Elias de uma forma muito clara. Primeiro quando o próprio Jesus o chama de Elias em Mateus 11:14 que diz: “E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir”. Depois, quando em Lucas 1: 17 nosso Senhor associa João com Elias. Vejamos o texto: “E irá adiante dele no espírito e virtude de Elias, para converter os corações dos pais aos filhos, e os rebeldes à prudência dos justos, com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto”.
Ora, se a obra do que viria seria a “purificação” – que era ritualmente feita por meio da aspersão da água -, parece-nos claro que o batismo que João praticava era por aspersão. Basta ler Números 8: 6 e 7 para conferir como era feita a purificação dos levitas: “Toma os levitas do meio dos filhos de Israel e purifica-os; E assim lhes farás, para os purificar: Esparge sobre eles a água da expiação; e sobre toda a sua carne farão passar a navalha, e lavarão as suas vestes, e se purificarão”. Deste texto compreendemos que, se João batizasse por imersão, ele jamais seria identificado como aquele (Elias) que purificaria os levitas.
III. Porque batizas se não és Profeta?
Por fim, ainda há uma terceira pergunta que é feita a João. Esta pergunta também revela que a forma do batismo de João não poderia ser a imersão. A questão era: Porque batizas se não és Profeta?
Ora, sabemos que os israelitas estavam esperando um profeta como Moisés. Em Deuteronômio 16: 15 lemos: “O Senhor teu Deus te levantará um profeta do meio de ti, de teus irmãos, como eu; a ele ouvireis”. E no verso 18 vemos as palavras de Deus para Moisés: “Eis lhes suscitarei um profeta do meio de seus irmãos, como tu, e porei as minhas palavras na sua boca, e ele lhes falará tudo o que eu lhe ordenar.
Pelo que lemos em toda Escritura, Moisés está intimamente relacionado à aspersão, basta, para isso ver Hebreus 9: 10, 14, 20, 21: “Consistindo somente em comidas, e bebidas, e várias abluções e justificações da carne, impostas até ao tempo da correção, (...) Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo? (...), Dizendo: Este é o sangue do testamento que Deus vos tem mandado. E semelhantemente aspergiu com sangue o tabernáculo e todos os vasos do ministério”. Quando vemos qual foi a obra de Jesus, comparada com o ministério dos levitas, orientados por Moisés em Números 19: 18-20, lemos “E um homem limpo tomará hissopo, e o molhará naquela água, e a espargirá sobre aquela tenda, e sobre todos os móveis, e sobre as pessoas que ali estiverem, como também sobre aquele que tocar os ossos, ou em alguém que foi morto, ou que faleceu, ou numa sepultura. E o limpo ao terceiro e sétimo dia espargirá sobre o imundo; e ao sétimo dia o purificará; e lavará as suas vestes, e se banhará na água, e à tarde será limpo. Porém o que for imundo, e se não purificar, do meio da congregação será ele extirpado; porquanto contaminou o santuário do Senhor; água de separação sobre ele não foi espargida; imundo é”.
Ora, aquele profeta que seria semelhante a Moisés, estaria irremediavelmente ligado à prática da purificação ritual levídica, que era feita pela aspersão, quer da água, quer de sangue.
A pergunta que não pode se calar é: poderiam os fariseus confundir João Batista com o Cristo, com Elias ou com o Profeta esperado, se ele praticasse a imersão? A resposta é clara!!
Conclusão:
Muitos argumentam que o batismo de João era realizado por imersão, porque era realizado em um rio. No entanto, o fato de que João batizava em um rio não materializava que a forma era a imersão. Basta ver Atos, no capítulo 8 e lá verificamos o batismo de um etíope, realizado por Felipe. Neste texto lemos que, convencido da veracidade da fé cristã e vendo água, ele pergunta a Felipe: “O que me impede de ser batizado?”, ao que Felipe respondeu: “É lícito, se crês de todo o coração”. Neste momento, o texto diz: “E mandou parar o carro, e desceram ambos à água, tanto Filipe como o eunuco, e o batizou. E, quando saíram da água, o Espírito do Senhor arrebatou a Filipe, e não o viu mais o eunuco; e, jubiloso, continuou o seu caminho. (Atos 9: 38, 39). Ora, diz o texto que “ambos” desceram até a água. Diz também que ambos “saíram” da água. No entanto, somente um foi batizado. O simples gesto de “sair” da água não materializa uma imersão.
Quando verificamos mais de perto a história da aspersão, verificamos que esta prática somente tomou espaço nos lugares que associavam o corpo ao mal, ou seja, em locais onde o cristianismo e o neo-platonismo mais exagerado se tocaram. Por isso, era preciso imergir o corpo inteiro, para purificar todo o ser.
Como conclusão, encerro dizendo que, segundo meu entendimento, o santo batismo pode ser regularmente realizado por qualquer uma das três formas conhecidas: imersão, efusão ou aspersão. Acredito que, o que importa é a presença (não a quantidade) do elemento, a água, e a fórmula adequada: “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”. Assim se posiciona a Confissão de Fé de Westminster, quando diz: “Não é necessário imergir o candidato na águas, mas o batismo é devidamente realizado por aspersão ou efusão” (XXVIII.iii).
O argumento de que a palavra grega baptismos, significa “imergir” também não se sustenta. Basta pegar uma chave bíblica da septuaginta e lá verificaremos as dezenas de vezes em que esta palavra grega é traduzida por “lavar”, “molhar”, “aspergir”, etc.
Finalmente, afirmamos que, se este sacramento se realizará no rio, no mar, em uma piscina ou dentro de uma residência, isso não faz a menor diferença. Devemos buscar aquilo que realmente importa neste tema, ou seja, o compromisso público com Cristo.
O que precisamos deixar claro, é que a prática da aspersão não foi uma invencionice da igreja. Ela era, sim, comum na igreja primitiva e, ainda hoje é a prática de batismo mais difundida entre os cristãos do mundo. Basta unir os católicos romanos, anglicanos, luteranos, metodistas, presbiterianos e reformados, que batizam por aspersão e ver que, do outro lado, estão os batistas e seus descendentes, os pentecostais.

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