POR UMA IGREJA EM FAMÍLIA
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 2 de mai. de 2020
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Quando vivenciamos um período de mudança de paradigmas, como o que enfrentamos hoje, urge repensar não apenas os grandes temas da teologia própria e da teodiceia, mas sobretudo – em minha visão -, uma leitura da eclesiologia.
Durante milênios a eclesiologia esteve ligada a um lugar específico, que costumamos chamar de “igreja” ou “templo”. Esta visão acabou por seccionar nossa visão da vida e da realidade em uma dualidade antagônica, produzindo gestos e palavras que seriam próprios para serem ditos e feitos no templo e outros que povoavam a vida cotidiana de todas as pessoas.
Quando nos voltamos para as Escrituras, no entanto, descobrimos que a fé é algo eminentemente familiar. Desde o pacto que foi feito entre Deus e Abraão, a família estava envolvida – os filhos recebiam o sinal externo da fé de seus pais. É nesse sentido que Josué é muito taxativo quando diz “Eu, porém, e minha casa, serviremos ao Senhor” (Js 24:15).
Quando verificamos a experiência da igreja no Novo Testamento, também lá verificamos que a dimensão familiar é fundamental. Depois do dia de Pentecostes, diz o livro dos Atos dos Apóstolos, a igreja se reunia para partir o pão em casa “comiam juntos com alegria e singeleza de coração” (At 2: 46). Mesmo as conversões que ocorriam, eram familiares. O exemplo do discurso de Paulo com o carcereiro de Filipos é sintomático: “Crê no Senhor Jesus é será salvo, tu e tua casa” (At 16:31).
Somente depois que a igreja Cristã se tornou oficial é que o Imperador separou alguns espaços (chamados de basílicas) para que os cristãos pudessem deixar de se reunir em suas casas e ter um espaço sagrado semelhante à antiga religião romana.
Durante a Idade Média essa tradição produziu templos extraordinários e fora do comum. A beleza das grandes catedrais góticas é realmente exuberante. No entanto, não podemos confundir esses lindos lugares com a igreja de Jesus. Ele, “não habita em templos feitos por mãos humanas”, diz a Bíblia (At 7: 48). E mais, os adoradores que ele procura, não são os que adoram neste ou naquele templo, mas os que o adoram “em espírito e em verdade” (Jo 4:23).
Portanto, o lugar não importa. O que realmente importa para a adoração e para a existência da igreja, são pessoas que estejam reunidas em seu nome. Afinal Jesus afirmou: “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles” (Mt 18:20).
Pensando nisso nosso Livro de Oração Comum possui os Ofícios diários para que as famílias possam se edificar enquanto igreja familiar e, unindo-se a outras famílias, criar esse grande edifício cuja pedra principal é o próprio Jesus Cristo.

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