PAIXÃO OU AMOR?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 25 de out. de 2018
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Reverendo padre Jorge Aquino.
É claro que eu já me apaixonei. Claro que eu sei que alguém apaixonado quase não consegue dormir, pensando no objeto de sua paixão. Claro que eu gastei muito com a telefonia celular, ligando antes de dormir e pela manhã bem cedo, e falando durante horas, em todas as oportunidades. Claro que eu sei que quando chegamos perto da pessoa pela qual nos apaixonamos, nosso coração dispara, a pupila dilata e as vezes gaguejamos. Isso é muito normal. Para o Dr. Chapman, “estar apaixonado é uma experiência eufórica. Um fica emocionalmente obcecado pelo outro” (CHAPMAN, 1987, p. 19). Nós simplesmente nos tornamos incapazes de observar os defeitos do outro e só imaginamos ter encontrado a pessoa perfeita para nós.
Mas, outra coisa que também é normal, é que esse momento de obsessão romântica, passa. Ele pode, segundo especialistas, chegar em média a dois anos, mas um dia, esse momento de deslumbramento vai passar e você abrirá os olhos para o mundo real. E quando isso acontece, nós percebemos os defeitos e as imperfeições daquela pessoa, seja na esfera física, seja na esfera emocional, comportamental e relacional. Quando finalmente nós caímos do céu nesse mundo real, aquela pessoa que julgávamos perfeita, pode nos machucar com suas palavras e a relação pode se transformar em um campo de guerra. Quando isso acontece, muitos desistem da relação e se separam.
Mas há uma outra possibilidade, é possível que você passe a se empenhar no árduo esforço de aprenderem a amar-se mutuamente, contudo, sem a presença da euforia da paixão. Para que isso ocorra, você precisa conhecer as três diferenças que existem entre a paixão e o amor. Para o psiquiatra M. Scott Peck, a primeira diferença consiste em que a paixão não é um ato voluntário e consciente. Em outras palavras, você não se apaixona porque quer. Isso simplesmente acontece e muda sua vida. O amor, por outro lado, não é algo instintivo. É uma escolha, uma decisão, é a expressão de uma volição que supera, inclusive os defeitos da pessoa amada.
Em segundo lugar, a paixão difere do amor porque ele não implica em nenhuma participação de nossa parte. Tudo o que fazemos, o fazemos guiados pelo instinto e pela emoção. Somos capazes de viajar dias para encontrar àquela pessoa ou de gastar uma soma vultuosa para surpreendê-la. Simplesmente rompemos com a realidade e passamos a agir como se não estivéssemos no controle de nossa vida. O amor exige nossa participação consciente e, dessa forma, conscientemente escolhemos ficar ou não com aquela pessoa. Quando fazemos alguma “loucura” por amor, o fazemos com a mais absoluta consciência e não movidos pela mera emotividade.
Por fim, a paixão difere do amor porque quem está apaixonado não está realmente interessado em produzir o crescimento da pessoa por quem nutrimos nossa paixão. Conforme assevera o Dr. Peck, “Se temos algum propósito em mente ao nos apaixonarmos, é o de terminar nossa própria solidão e, talvez, assegurar essa solução através do casamento” (PECK, In CHAPMAN, 1987, p. 25). A paixão, dessa forma, é auto-centrada, e deseja apenas que a pessoa continue satisfazendo nossas expectativas e nos mantendo nessa realidade de sonho e romantismo. O amor, diferentemente, é voltado para o outro. Deseja a felicidade, o bem e a satisfação do outro. Ou, nas palavras de Paulo, o amor “não busca seus próprios interesses”.
Quando a “onda” da paixão passa, e nós despencamos no mundo real, nos perguntamos: “puxa! Como foi que eu fui capaz de fazer isso?!”. Agora, se você se casou durante o domínio da paixão, então você só tem três alternativas. Ou bem você se separa, ou bem você vai viver uma vida cheia de dor e sofrimento, ou bem você reconhece que agiu apaixonadamente e escolhe desenvolver um amor verdadeiro com seu cônjuge. A maioria das pessoas escolhe a primeira alternativa. Mas se você escolher a terceira, saiba que o amor – que também é uma emoção, mas não uma obsessão – é capaz de agir racionalmente, envolve um ato de vontade de ambas as partes e requer disciplina, vez que implica em crescimento pessoal.
O que precisamos compreender é que nossa necessidade básica mais fundamental é a de sermos verdadeiramente amados, e não de nos apaixonarmos. E mais, é o de conhecer um amor que cresce e se desenvolve com base na razão e em nossas escolhas, e não em mero instinto.
Referência Bibliográfica:
CHAPMAN, Gary. As cinco linguagens do amor. São Paulo: Mundo Cristão, 1987
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