
Afirmação 11: Cuidar de nosso corpo e insistir em reservar um tempo para desfrutar dos benefícios da oração, reflexão, adoração e recreação, além do trabalho. (Êxodo 5:4-8; 1 Coríntios 6:19; 1 Tessalonicenses 5:16-19).
Como cristãos, nos esforçamos para abraçar e incorporar modos de vida que promovam a saúde do corpo, a alegria de viver e os benefícios obtidos quando o trabalho é combinado com descanso e recreação, reflexão e oração. Fazemos isso por nossa causa, por causa dos outros, por causa da terra e por causa de Cristo.
Afirmamos que o Caminho de Jesus se encontra onde os seguidores de Cristo cuidam de seus corpos como templos do santo, e reservam tempo para rezar e brincar, adorar e refletir, como partes essenciais de sua vocação.
Confessamos que nos afastamos deste Caminho quando apoiamos a ética do Faraó sobre a ética de Deus promovendo sistemas de produção e consumo sem atender às disciplinas de descanso e recreação, reflexão e oração. Nós nos afastamos ainda mais do Caminho quando denegrimos ou abusamos de nossos corpos, ou dos de outros, ou negamos os direitos e responsabilidades dos outros de tomar decisões sobre como eles cuidam dos corpos que Deus lhes deu.
Comentário:
Esta décima primeira Afirmação está inserida na terceira parte desse documento e que trata do amor que devemos ter a nós mesmos. Desta forma, somos lembrados por essa Afirmação existem dois aspectos de nossa existência que são de suma importância. A primeira delas tem a ver com o nosso “ser” na sua expressão mais visível, ou seja, nosso “ser no mundo”. Dessa forma esta afirmação nos orienta a perceber que, amar a nós mesmos, implica em “Cuidar de nosso corpo”. Este corpo, no qual existimos, é o templo do Espírito Santo. O que nos leva a acreditar que devemos cuidar de nosso corpo e valorizá-lo com toda a atenção possível. Por via de consequência, devemos mantê-lo saudável e profícuo o bastante para termos não apenas a saúde para nós mesmos, mas condições de lutar pela saúde de nosso próximo. Buscar um corpo saudável, não é a mesma coisa que procurar satisfazer os padrões estéticos de uma sociedade individualista e hedonista. Da mesma forma, que defende que o amor próprio se expressa como cuidado pelo corpo, tampouco pode aceitar que pessoas padeçam de inanição por falta de políticas públicas de distribuição de renda, nem pode consentir com a prática da tortura e da violência, que desumaniza a pessoa e destrói o templo do Espírito Santo.
Em segundo lugar, um outro aspecto de nossa existência que precisa ser destacado e que compreendido como demonstração de que amamos a nós mesmos, é nosso cuidado com o tempo. Não somos apenas um “ser no mundo” (mundanidade), somos também “ser no tempo” (temporalidade). Assim, o que fazemos com o nosso tempo deve revelar que amamos a nós mesmos. E esse amor próprio se revela em nossa insistência “em reservar um tempo para desfrutar dos benefícios da oração”, da “reflexão” e da “adoração”, ou seja, do sagrado. Amar a si mesmo implica em desenvolver, dentro do tempo, o espaço adequado para a oração, a reflexão e a adoração, elementos fulcrais de que deseja andar pelo caminho de Jesus. E assim o fazemos porque assim ele nos orientou. Disso depreendemos que, aqueles que gastam tempo orando, refletindo e adorando, possuem uma saúde mental e física maior e mais significativa. Em uma cultura que cultua a superficialidade, desenvolver uma espiritualidade séria e profunda (com oração, reflexão e adoração) é fundamental para nós. Mas além de utilizar nosso tempo para o aspecto místico ou espiritual, compreendemos que nosso tempo também precisa ser utilizado também para nos voltarmos para a “recreação” – aspecto fundamental para o desenvolvimento de nossa saúde -, e para o “trabalho”, àquela atividade produtiva que gera o sustento necessário para nosso bem e o bem dos que estão ao nosso redor. Assim, dessa afirmação aprendemos a amar a nós mesmos cuidando de nosso corpo e desenvolvendo nossa espiritualidade, nossa recreação e nosso trabalho.
Para fundamentar biblicamente esta décima primeira Afirmação, o documento utiliza três textos bíblico importantes para nós. No primeiro deles, registrado em Êxodo 5:4-8, aprendemos que Moisés e Arão confrontam Faraó para que permita a saída dos israelitas afim de eles possam ir ao deserto para adorar a Deus. No entanto, a reação de Faraó é extremamente dura. Ele aumenta a atividade laboral dos israelitas, fazendo-os sofrer uma grande injustiça trabalhista. A ideia é que a adoração à Deus e a atividade laboral não são, necessariamente, excludentes.
No texto de I Coríntios 6:19, aprendemos com o apóstolo Paulo que o nosso corpo é santuário do Espírito Santo e que não somos de nós mesmos. Em outras palavras, aprendemos na Escritura que devemos olhar para nosso corpo como algo essencialmente bom e sagrado. Desta forma, por via de consequência, nosso corpo é algo que deve ser protegido, guardado e livre de qualquer forma de vilipêndio, agressão ou maus tratos. Devemos alimentá-lo bem, cuidar dele e providenciar sua plena saúde. O mesmo desejamos para nossos irmãos. Em outras palavras, o cristão nem deve consentir com a existência da fome, nem deve aceitar a prática da tortura. Porque nosso corpo é templo do Espírito Santo, e porque todos somos Imagem de Deus, essas condições e práticas repulsivas são abjetas e denunciadas pelo cristianismo como pecaminosas e ímpias.
Finalmente, no texto de I Tessalonicenses 5:16-19, encontramos são Paulo orientando os cristãos a orar sempre, a dar graças por tudo e a não extinguir o Espírito Santo. Este é um texto que aponta para o incremento de nossa espiritualidade, mostrando que, nas palavras de João Dias de Araújo: “Meu Cristo veio pra nos remir/ o homem todo sem dividir/ não só a alma do mal salvar/ também o corpo ressuscitar”. Este é o verdadeiro Evangelho: o que tanto valoriza o aspecto espiritual quanto o aspecto físico da pessoa humana.
Por isso, continua a Afirmação, como cristãos, devemos envidar todos os esforços para abraçar e incorporar em toda a nossa existência, um estilo de vida que promova a saúde do corpo, associada à plena alegria de viver e os reais benefícios obtidos pela combinação adequada e virtuosa entre o trabalho, o descanso, a recreação, a reflexão e a oração. Desta forma, é mister compreender que somos motivados tanto pelo bem que causamos a nós mesmos, como pelo bem que podemos causar aos outros, à terra – que é nossa casa comum-, e por causa da obediência que devemos à Cristo.
Em razão disso, afirmamos, sem qualquer dúvida, que o Caminho de Jesus somente pode ser encontrado onde seus seguidores efetivamente cuidam de seus corpos com a reverência de quem cuida do santuário do Espírito, e realmente reservam um tempo necessário para orar, brincar, adorar e refletir, como partes essenciais de seu chamamento cristão.
E porque levamos tudo isso de forma tão séria e grave, temos que confessar que nos afastamos deste Caminho jusuânico sempre que “apoiamos a ética do Faraó sobre a ética de Deus” e dessa forma fortalecemos “sistemas de produção e consumo” que não atendem “às disciplinas de descanso e recreação, reflexão e oração”. Ademais, nos afastamos ainda mais do Caminho proposto por Jesus, sempre que aviltamos ou abusamos de nossos corpos, ou dos de outros, ou ainda, sempre que negamos aos outros seus direitos e a responsabilidade de tomarem suas próprias decisões sobre a forma como como eles efetivamente cuidam dos corpos que Deus lhes deu. Eis a importância da reflexão e da oração, para que se cuide da melhor forma daquilo que de Deus recebemos como dom.
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