Afirmação 10: Reivindicando a santidade de nossas mentes e nossos corações, reconhecendo que a fé e a ciência, a dúvida e a crença servem à busca da verdade. (Provérbios 1:20-22; 1 Coríntios 3:18-19; 1 Coríntios 14:15).
Como cristãos, buscamos o desenvolvimento intelectual com a mesma sinceridade com que buscamos o desenvolvimento emocional. Procuramos ainda esclarecer que as verdades contidas nas Escrituras não são transmitidas principalmente por meio de revelações científicas, mas por meio de sabedoria que pode ser adquirida com frequência em histórias e canções, símbolos e parábolas.
Afirmamos que o Caminho de Jesus se encontra onde os seguidores de Cristo valorizam a busca da sabedoria, que se encontra na intersecção da cabeça e do coração, onde Deus busca relacionamento com a alma humana.
Confessamos que nos afastamos deste Caminho quando negamos o papel da mente ou do coração na busca da sabedoria. Além disso, saímos do Caminho quando denegrimos o papel da dúvida ou da busca do conhecimento científico como se fossem inimigos e não aliados da fé.
Comentário:
Estamos, agora, tratando do amor a nós mesmos, conforme expresso na décima Afirmação das Phoenix Affirmations. Nesse sentido, a afirmação assevera que o amor a nós mesmos ocorre em dois instantes importantes. Em primeiro lugar, ocorre quando reivindicamos com energia, a “santidade de nossas mentes e nossos corações”. Para muitos, a mente e o coração são esferas que operam de forma diferente, quando não, completamente antagônica. A mente é vista como a sede da racionalidade enquanto o coração, a sede das fidelidades e dos sentimentos. No entanto, entendemos, que amar a nós mesmos implica na busca simultânea da santificação dessas duas esferas. Isso significa que tanto nossa mente quanto nosso coração devem estar santificados (separados) para produzir, dentro de todos nós, a paz necessária que nos faz perceber que nossa existência não é radicalmente ambígua e irreconciliável, mas complementar e inclusiva. Desta forma, o que sentimos e o que pensamos pode está sob a direção de Deus. A santidade, portanto, não é uma questão que envolve apenas o coração, mas também a mente; e a inteligência não é uma questão que envolve apenas raciocínio, mas sentimento e emoção.
Em segundo lugar, o amor a nós mesmos ocorre quando “reconhecendo que a fé e a ciência, a dúvida e a crença servem à busca da verdade”. Durante a Idade Média, houve um enorme debate entre os cristãos sobre a relação entre a fé e a inteligência, bem assim o papel da fé e da razão na busca da verdade. Alguns cristãos defendiam que era preciso crer para poder compreender; outros diziam que era preciso compreender para poder crer; alguns defendiam que criam sem compreender e, finalmente, outros advogavam que era absolutamente possível crer e compreender. Para essas pessoas, ser um cristão não significa ter que praticar um suicídio intelectual. A fé, diz as Escrituras, é um “dom de Deus” (Efésios 2:8), mas a razão é vista pelos teólogos, como um dos elementos que nos torna partícipes da Imago Dei. Assim, por que nos amamos, não podemos abrir mão nem da fé nem da ciência, enquanto caminhos óbvios para se compreender que a existência de Deus é absolutamente plausível.
Os textos bíblicos que esta Afirmação apresenta para fundamentar suas afirmações são significativas. Em Provérbios 1:20-22 lemos: “A sabedoria clama em voz alta nas ruas, ergue a voz nas praças públicas; nas esquinas das ruas barulhentas ela clama, nas portas da cidade faz o seu discurso: ‘Até quando vocês, inexperientes, irão contentar-se com a sua inexperiência? Vocês, zombadores, até quando terão prazer na zombaria? E vocês, tolos, até quando desprezarão o conhecimento?’”. Neste texto vemos uma clara defesa da sabedoria que clama nas ruas, nas praças, e que é rejeitada apenas pelos zombadores e tolos. No texto de 1 Coríntios 3:18-19 vemos Paulo zombar com os que acham que são detentores da verdadeira sabedoria. Neste texto Paulo diz: “Não se enganem. Se algum de vocês pensa que é sábio segundo os padrões desta era, deve tornar-se "louco" para que se torne sábio. Porque a sabedoria deste mundo é loucura aos olhos de Deus. Pois está escrito: ‘Ele apanha os sábios na astúcia deles’". A verdadeira sabedoria não exclui a crença em Deus. Assim, um verdadeiro fiel não precisa abrir mão da ciência, assim como um verdadeiro cientista não precisa abrir mão da fé. A saída é apresentada por Paulo quando afirma em 1 Coríntios 14:15: que é possível orar com o espírito (pneumati), mas também com entendimento (noi), assim como é possível cantar com o espírito (pneumati) e com o entendimento (noi)”.
Uma vez colocado tudo isso, esta Afirmação segue em frente dizendo que, “como cristãos”, ou seja, na condição de quem caminha no caminho de Cristo, tanto devemos nos empenhar pela busca do “desenvolvimento intelectual”, como também – com a mesma sinceridade -, devemos nos empenhar pela busca do “desenvolvimento emocional”. Ao fazer isso, devemos esclarecer que as grandes verdades contidas nas Escrituras nos são transmitidas primariamente, não por intermédio de revelações científicas, mas por meio da sabedoria adquirida frequentemente nas histórias, canções, símbolos e parábolas. Observar o estilo das narrativas é fundamental quando procuramos compreender qual a proposta de Deus para nossa vida.
Dizer tudo isso nos leva a afirmar que, àquilo que conhecemos como “o Caminho de Jesus” somente poderá ser plenamente encontrado onde se valoriza a busca da sabedoria, onde se procura unir mente e coração e lá onde Deus busca relacionar-se com a alma humana.
Por isso, não devemos ter vergonha de confessar que, sempre que negamos o papel conjunto da mente e do coração na busca da sabedoria, nos afastamos do caminho proposto por Cristo. Ademais, também confessamos que, sempre que denegrimos ou desvalorizamos o papel da dúvida ou do conhecimento científico, imaginando serem eles inimigos ou opostos à fé, também abandonamos o caminho proposto por nosso Senhor.
Comments