
Padre Jorge Aquino.
Qualquer pessoa que se aproxime do anglicanismo, certamente perceberá que um de seus três documentos básicos – ao lado do Livro de Oração Comum e dos Livros de Homilias -, são os Trinta e Nove Artigos de Religião. E boa parte da surpresa que este documento nos traz tem a ver com sua forma de apresentar a fé ou a doutrina anglicana. Sim, em um momento em que tudo é colocado de forma bastante clara e especificada, os Trinta e Nove Artigos se revelam como uma declaração básica de fé cristã. Isso, obviamente, nos faz perceber que eles não pretendem responder a todas as questões, no entanto, com brevidade e simplicidade, procuram responder a uma demanda própria de seu contexto histórico.
Sua razão de existir
Os Trinta e Nove Artigos nasceram, originalmente, como 42 artigos escritos pelo ilustre reformador inglês, o Arcebispo Thomas Cranmer em 1553. Conforme ele mesmo expressa, seu propósito consistia em “evitar controvérsias nas opiniões”. Com o passar do tempo e depois de várias revisões, a sua forma final chega em 1571 e, ele se torna um dos três formulários do anglicanismo.
Sua divisão interna
Quando lemos todo o documento, verificamos claramente que eles podem ser colocados em três grupos bastante distintos. Os primeiros oito artigos são chamados de Os Artigos Católicos. Eles apontam para aquelas doutrinas que são, em geral, compartilhadas por todas as tradições cristãs. Os Artigos que estão entre o 9 e o 33 são conhecidos como Os Artigos Reformados. Nesta seção maior, encontramos informações sobre as grandes questões que envolviam os debates do século XVI. Por fim, entre os artigos 34 e 39, encontramos Os Artigos Locais, que tratam de aspectos relacionados à Igreja da Inglaterra e como os cristãos devem se relacionar com seus vizinhos e governos locais.
A necessidade de equilíbrio
Desde que o documento foi apresentado à igreja da Inglaterra, uma série de posturas antagônicas também surgiram. De um lado existem aqueles que querem torná-los absolutos em toda a igreja. Por outro lado, existem aqueles que pretendem desconsiderá-los e trata-los como um mero documento histórico. No entanto, acredito que nem devemos tão somente desconsiderar as afirmações feitas neste documento, nem simplesmente abdicar de sua autoridade histórica. Assim, acreditamos que dois erros devem ser evitados: simplesmente ignorá-los, e tratá-los como divinamente inspirados e infalíveis.
O escândalo inegociável
É verdade que na sociedade na qual vivemos, existe uma certa alergia a qualquer forma de exclusivismo. No entanto, não podemos desconsiderar que para os que escreveram os Artigos de Religião, Jesus é o único caminho de salvação. Isso é importante porque esse documento retira da “igreja” o status de ser a base sobre a qual encontramos a salvação. Assim, em uma sociedade na qual “tudo é relativo”, os Artigos de Religião asseveram que não; somente em Jesus encontramos a salvação. Dizer isso absolutiza a pessoa de Jesus e relativiza tudo o mais, inclusive nós mesmos, nossas interpretações, a igreja, o Estado e qualquer outra pessoa ou instância. Este é o escândalo contra-cultural com o qual convivemos e que não estamos dispostos a negociar.
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