O VOTO DE CASTIDADE E SUAS CONSEQUÊNCIAS
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 29 de ago. de 2019
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Muita gente discute sobre os três votos sacerdotais que foram criados durante a Idade Média e que, ainda hoje estão em vigor na vida dos padres da Igreja Latina. Eu cito apenas a Igreja Latina, porque existem outras Igrejas (no Oriente) que estão ligadas à Roma e cujos sacerdotes não são obrigados a fazer os mesmos três votos. Essas Igrejas são conhecidas como “Igrejas Uniatas”. Contudo, voltando para o nosso tema, existem pelo menos duas questões relevantes sobre o assunto.
Em primeiro lugar, precisamos realmente definir o que realmente é a castidade. Para defini-lo, recorro ao Frade Rimar Diniz, que é missionário Redentorista, e que define a castidade da seguinte forma: “A castidade, entendida por alguns como a simples renúncia ao matrimônio, significa oferecer a Deus o holocausto de nossos desejos corpóreos” (DINIZ, O que são os votos de pobreza, castidade e obediência? Disponível em <https://www.a12.com/redentoristas/noticias/o-que-sao-votos-de-pobreza-castidade-obediencia>, Acessado em 29 de agosto de 2019). Assim, compreendemos que a verdadeira castidade é um auto-oferecimento ou oblação de si mesmo à Deus, o que inclui nossos desejos corpóreos. Isso não significa abstenção do matrimônio – o que veremos adiante -, mas a completa e total abstinência de satisfação dos desejos do corpo, o que obviamente inclui abstinência sexual. Segundo a Igreja Romana, “Este voto de castidade, plenamente vivido, é o que constitui a pureza triunfal, que tende com todas suas forças a Deus, sacrifica gozosamente seus afetos carnais entregando-se a Jesus Cristo e a Ele ordena todos seus amores. Fruto desta consagração é um senhorio sobre todas as coisas, junto com uma vontade libérrima, pronta para agradar só a Deus” (O voto de Castidade. Disponível em <http://verboencarnadobrasil.org/o-voto-de-castidade/> acessado em 29 de agosto de 2019). Assim, do Sacerdote Romano, espera-se plena e total abstinência de todos os “afetos carnais” e completa e total “consagração” à Deus. Aprofundando mais a temática, em sua Exortação Apostólica sobre a renovação da vida religiosa segundo os ensinamentos do Concílio Evangélica Testificatio (29/06/1971), o Papa Paulo VI disse: “Só o amor de Deus chama em forma decisiva à castidade religiosa. Este amor exige imperiosamente a caridade fraterna, que o religioso viverá mais profundamente com seus contemporâneos no Coração de Cristo… Sendo decididamente positiva, a castidade testemunha o amor preferencial para o Senhor e simboliza da forma mais eminente e absoluta o mistério da união do Corpo Místico a sua Cabeça, da Esposa a seu eterno Esposo. Finalmente, ela alcança, transforma e penetra o ser humano até o mais íntimo mediante uma misteriosa semelhança com Cristo” (Paulo VI In O voto de Castidade. Disponível em <http://verboencarnadobrasil.org/o-voto-de-castidade/> acessado em 29 de agosto de 2019). Por fim, cito o Catecismo da Igreja Católica que afirma em seu número 2339: “A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana”. Assim, compreende-se que ao que recebeu o sacerdócio, sua relação com o Corpo Místico e com Cristo, os transforma, penetra e liberta de tal forma que eles passam a viver uma “misteriosa semelhança com Cristo”, sem a necessidade de praticar qualquer ato contra a castidade. Por óbvio, todas as atividades corpóreas que não estejam de acordo com a vontade de Cristo, são naturalmente abandonadas. E isso, para o clero Romano, implica por obvio a pedofilia, a efebofilia ou a prática homoafetiva.
Em segundo lugar, é importante dizer que há uma relação entre a castidade e o celibato. Essa relação é claramente verificável no Cânon 599 do Código de Direito Canônico da Igreja Católica Romana, que diz: “O conselho evangélico de castidade assumido por causa do Reino dos céus, que é sinal do mundo futuro e fonte de fecundidade mais abundante no coração indiviso, importa a obrigação da continência perfeita no celibato”. Se a consumação do Matrimônio ocorre no ato sexual (hetero ou homoafetivo), e este ato é claramente proibido pela Igreja de Roma, então os sacerdotes não podem se casar. Essa proibição é o que nomeamos de “celibato”.
Muito embora respeitando fortemente as opiniões da Igreja Romana, tenho a compreensão que o celibato e, por consequência, o celibato, não apenas é um sacrifício desnecessário e absurdo, mas também uma prática que contraria frontalmente a natureza humana e a opinião do nosso próprio criador que disse: “não é bom que homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele” (Gênesis 2: 18). As consequências nefastas do voto de castidade não se resume apenas à uma vida hipócrita vivida por tantos sacerdotes que não levam a sério o que prometeram diante do bispo, mas a um brutal e vil sofrimento desnecessário e, em alguns casos, à depressão e o suicídio.
Referências Biblográficas:
Catecismo da Igreja Católica. Petrópolis/São Paulo: Vozes/Loyola, 1993
DINIZ, O que são os votos de pobreza, castidade e obediência? Disponível em <https://www.a12.com/redentoristas/noticias/o-que-sao-votos-de-pobreza-castidade-obediencia>, Acessado em 29 de agosto de 2019
O voto de Castidade. Disponível em <http://verboencarnadobrasil.org/o-voto-de-castidade/> acessado em 29 de agosto de 2019
Paulo VI In O voto de Castidade. Disponível em <http://verboencarnadobrasil.org/o-voto-de-castidade/> acessado em 29 de agosto de 2019
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