
(Catedral de São Patrício, em Dublin)
Padre Jorge Aquino.
Certamente este é um tema extremamente difícil de ser apresentado em poucas palavras. No entanto, acredito que existem quatro afirmações que vi, certa vez, nos documentos da Free Episcopal Church, que me parecem descrever muito precisamente o que significa ser um anglicano. É claro que estas mesmas verdades podem ser utilizadas para descrever qualquer bom cristão e qualquer igreja séria, no entanto, eu as aplico ao anglicanismo porque creio que elas apontam para quatro elementos fundamentais, hoje, quando se fala de igreja cristã. Assim, acredito que ser um anglicano significa viver fielmente com:
1. Uma Bíblia Aberta: Como descendentes da Reforma do século XVI, os anglicanos entendem que esse movimento nos devolveu a liberdade para que pudéssemos ler as Escrituras em nossa própria língua, refletir sobre seu significado e formar nosso próprio entendimento do Evangelho. Uma Bíblia aberta convida e exige que de todos nós que descubramos, em cada nova geração, qual a sabedoria e a verdade do Espírito que está sendo revelando a nós por meio de suas páginas sagradas.
2. Um Sacerdócio Pastoral: Os anglicanos entendem que seus sacerdotes estão ao lado do povo de Deus em nossa condição humana comum; ele é apenas uma expressão de nosso sacerdócio comum em Cristo através do batismo. Os padres anglicanos são, acida de tudo, pastores no sentido de alguém que exerce uma liderança que serve, cuidando de todo o povo de Deus e garantindo que ninguém se perca ao longo do caminho.
3. Um Culto Comum: Para os anglicanos, o é um evento essencialmente comunitário, no qual todas devem participam com total compreensão e comprometimento. É por isso que todos os nossos textos de adoração estão contidos no "Livro de Oração Comum", escrito no vernáculo de cada povo e à mão de cada adorador. A adoração sem a participação real da comunidade pode até ser um belo teatro sagrado, mas não é uma verdadeira adoração.
4. Um Amor Destemido à Verdade: A postura anglicana em relação ao estudo, não nos leva ao mero quietismo erudito. Nossa erudição precisa ser engajada em estado frequentemente de vanguarda e engajamento à verdade, onde quer que ela seja encontrada. Desta forma, não temos medo de fazer perguntas difíceis e desafiar suposições. Os anglicanos compreendem que os estudos bíblicos, a ética, a teologia e as ciências sociais devem caminhar juntas. É também este carisma que mantém a vida anglicana mais viva, pois em cada geração alguns anglicanos são mais destemidos do que outros!
O compromisso anglicano com o diálogo entre Escritura, Tradição e Razão está entrelaçado nesses quatro ideais. Em cada um desses ideais, há sempre uma tensão entre a experiência individual e a experiência do Povo de Deus como um todo. É nosso compromisso viver nesta tensão perpétua que tem sido uma marca da tradição anglicana histórica.
O compromisso de viver nessa tensão, apesar de nossa imperfeição humana, é outra maneira de dizer que os anglicanos estão comprometidos de maneira única em confiar que, por meio dessa tensão, o Espírito está sempre nos conduzindo a uma maior compreensão e, ao mesmo tempo, abertos para as verdades que virão e que nos surpreenderá.
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