O SUCESSO NA VIDA SACERDOTAL

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Parece que, na sociedade em que vivemos, ter sucesso é um requisito fundamental para que alguém possa dizer que é feliz e realizado. Assim, o sucesso está diretamente relacionado ao pleno desenvolvimento das aptidões e competências que alguém tem para uma determinada área. A forma mais comum de reconhecer essas aptidões é, simplesmente, ressaltar os pontos fortes que aquela pessoa manifesta.

O grande problema surge quando transferimos esse padrão de pensamento e esse método de avaliação para a vida sacerdotal. Nas palavras do padre Michael Buckley, essa transferência é desastrosa. Para ele, a grande questão que envolve a vocação sacerdotal é: “será que esse homem é fraco o bastante para ser um padre?”. Pode parecer uma pergunta estranha, mas acredite, Deus não procura homens autossuficiente e que sabem lidar bem com seus fracassos pessoais, a ponto de acharem que eles se bastam. Na verdade, é em nossa deficiência, em nossa incapacidade, em nosso erro, em nossa falha e em nossa fraqueza, que Deus mais age por meio de nós.

O maior exemplo disso foi o próprio Jesus, acerca de quem o livro de Hebreus afirma: “pois não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se de nossa fraqueza, mas sim, alguém que, como nós, passou por todo tipo de tentação, porém sem pecar” (Hebreus 4: 14, 15).

Por mais que nos pareça estranho, é preciso compreender que mesmo nosso Senhor, experimentou a fraqueza. Esta fraqueza foi tanto física quanto espiritual. Ele sofreu a fome, a sede, o calor escaldante do deserto, as dores do seu suplício e crucificação, bem como a depressão do jardim e a solidão da cruz. Destaque-se aqui que fraqueza não é sinônimo de experiência pecaminosa, muito embora a fraqueza seja o ambiente no qual o pecado surge. Assim, a fraqueza deve ser vista como uma experiência singular de percepção de nosso sofrimento. Portanto, é imprescindível que compreendamos que a fraqueza e a vocação sempre andam juntas.

Brennan Manning compreendeu o perigo que todo sacerdote passa ao experimentar o fracasso em um mundo que exige sempre o sucesso. Para ele, é extremamente importante que os cristãos compreendam a importância de se compreender que o sacerdócio e a fraqueza, a vocação e a carência andam sempre juntas. Caso não sejamos capazes de compreender isso, podemos “secularizar nossa vida em um amálgama de desejos e talentos, e podemos sentir nossa fraqueza como uma ameaça ao nosso sacerdócio, como sinal de que devemos repensar, como um sintoma a indicar que nunca fomos genuinamente chamados”. Ele – que reconhecer ser alcoólico - encerra esse parágrafo de seu livro Convite à solitude, falando das inúmeras vezes em sua vida que lutou contra isso enquanto tropeçava em sua fraqueza.

Quando lemos as Escrituras descobrimos que, estranhamente, Deus sempre chamou para si pessoas cheias de fraqueza. Foi assim com Abraão, com Moisés, com Daví, Pedro e o próprio Paulo que disse: “Portanto, eu me gloriarei ainda mais alegremente em minhas fraquezas, para que o poder de Cristo repouse em mim. Por isso, por amor de Cristo, regozijo-me nas fraquezas, nos insultos, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias. Pois, quando sou fraco é que sou forte” (II Coríntios 12: 9, 10).

Eis aqui o grande paradoxo que todo sacerdote conhece: “a força do sacerdócio reside precisamente na fraqueza de nossa humanidade”. E assim o é, primeiro porque é nossa fraqueza que nos coloca em contato com as pessoas para quem ministramos; e em segundo lugar, porque a experiência da fraqueza sempre nos aproxima do Deus que nos fortalece e nos ampara em nosso medo e covardia. Esta foi a experiência de todos os grandes personagens bíblicos e o caminho para todos os cristãos hoje. Por isso podemos dizer que não sabemos quantas lutas e quantas quedas experimentaremos, mas podemos dizer que Deus estará conosco sempre, inclusive nos ajudando a levantar.