
Reverendo Cônego Jorge Aquino.
Há muitas pessoas em nosso país que não entende muito bem o que significa ser um Anglicano. Pensando nelas, procurarei apresentar de forma bem sucinta e didática uma exposição sobre esse tema levando em conta os elementos essenciais do Anglicanismo. Em primeiro lugar, é importante compreender que “Anglicanos” era o nome dado aos Cristãos que viviam na “Anglia”, ou seja, os “Anglos”, que mais tarde seriam chamados de Ingleses. A Igreja Anglicana, portanto, é a vertente do Cristianismo que se desenvolveu nas ilhas Britânicas desde o início do segundo século.
Em segundo lugar, é importante registrar que, o Anglicanismo hoje, é o resultado do acúmulo benfazejo de três ricos afluentes que se somaram e formaram um rio caudaloso e rico. Essas vertentes foram (i) a tradição Celta primitiva, (ii) a tradição Romana medieval e (iii) a tradição oriunda da Reforma Protestante do século XVI. Somos hoje, uma igreja Católica sem ser Romana e uma Igreja Reformada sem ser cismática.
Em terceiro lugar, diferentemente dos nossos irmãos, nós não temos um teólogo oficial, mas uma forma de fazer teologia. Em função disso, a teologia Anglicana é devedora à três pilares fundamentais: as Escrituras, a Tradição e a Razão. Por isso, nos recusamos a abrir mão de qualquer um desses elementos na elaboração de nossa teologia ou de nossa reflexão.
Em quarto lugar, os Anglicanos entendem que sua identidade está fortemente associada ao seu culto (lex credendi lex orandi), o que significa que quando queremos buscar a essência do que significa ser Anglicano, devemos nos voltar para o Livro de Oração Comum que resume nossa espiritualidade e nossa fé que foi expressa pelos séculos.
Em quinto lugar, os Anglicanos são fortemente ligados a quatro afirmações de fé conhecidas como “Quadrilátero de Lambeth”. Essas quatro declarações afirmam que a identidade anglicana também tem limites. E esses limites são: (i) afirmamos que as Escrituras são Palavra de Deus; (ii) afirmamos que os Credos Apostólico e Niceno são confissões resumidas e apropriadas de nossa fé; (iii) afirmamos os sacramentos do Batismo e da Eucaristia como instituídos por Cristo e, finalmente, (iv) afirmamos que somos uma igreja episcopal – que zela pela sucessão apostólica -, e não um amontoado de comunidades formando um sistema congregacionalista.
Em sexto lugar, ser um Anglicano é fazer parte de uma família que congrega mais de 90 milhões de pessoas ao redor do mundo. Nem todas concordam em tudo, mas todas pretendem levar Deus à sério em suas vidas e desejam compartilhar sua fé e o evangelho, com os que dela precisam.
Finalmente, em sétimo lugar, somos uma igreja que mantém sua fé e, contudo, continua aberta ao diálogo, à compreensividade e à inclusividade. Não somos uma igreja com “dogmas”, “concílios” ou “bispos” infalíveis. Pelo contrário. Somos uma igreja que durante toda a sua existência cometeu erros, comete erros ainda hoje e, certamente, continuará a cometê-los amanhã. Mas, cremos que Deus nos chamou mesmo com nossos erros e imperfeições e nos convida sempre à mudança e ao crescimento.
Se você, de alguma forma se sentiu incluído no que foi exposto acima, sinta-se convidado a conhecer a comunidade Anglicana mais próxima de sua residência e viver a fé cristã da forma mais séria e vibrante que você puder.
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