O QUE SIGNIFICA SER UM ANGLICANO?

Reverendo Padre Jorge Aquino.

A partir de um artigo de autoria de Paul Avis, escrito em 1998, cujo título era: "O que é anglicanismo?", usamos seu roteiro para apresentar essa breve reflexão sobre o que significa ser um anglicano.

Os anglicanos, ao redor de todo o mundo, lutam em torno dessa questão ao mesmo tempo em que se esforçam para dar um testemunho fiel das questões que envolvem a fé, a justiça e a inclusão. A antiga resposta tradicional (os anglicanos defendem as Escrituras, o Livro de Oração, 39 Artigos e as Homilias) não faz mais tanto sentido, e na verdade, nunca realmente fez. Esta velha definição apenas aponta para aquilo que está em nossa estante, mas nada tem a dizer sobre que carisma específico molda a abordagem anglicana para se viver o Evangelho de Cristo. Na Conferência de Lambeth de 1930 (reunião ocorre a cada dez anos, envolvendo os bispos anglicanos de todo o mundo), os bispos identificaram os quatro ideais que sempre moldaram o verdadeiro anglicanismo. Ao fazer essa lista, os bispos reconheceram que, no entanto, como anglicanos, vivemos esses ideais de maneira imperfeita. Disso podemos dizer que ser um anglicano é viver fielmente em direção a quatro balizas.

1. Uma Bíblia Aberta

A Reforma do século XVI nos devolveu a capacidade de ler as Escrituras em nossa própria língua, refletir sobre os significados e formar nossa própria compreensão do Evangelho. Uma Bíblia aberta - diferente de um dogma imutável -, nos convida e exige que descubramos, em cada nova geração, qual a sabedoria e a verdade o Espírito Santo está nos revelando por meio das escrituras.

2. Um sacerdócio pastoral

Os sacerdotes anglicanos estão com o povo de Deus em nossa condição humana comum, e o sacerdócio anglicano é uma expressão de nosso sacerdócio comum em Cristo por meio do batismo. Os padres anglicanos devem desenvolver uma atitude pastoral, no sentido de liderança que serve e que cuida de todo o povo de Deus e garante que ninguém se perca ao longo do caminho. O grande exemplo é o Bom pastor, que dá sua vida pelas ovelhas.

3. Um culto comum

O culto anglicano é o culto comunitário, onde todas as pessoas são convidados à participar com compreensão, entendimento e compromisso. É por isso que todos os nossos textos de adoração estão contidos no "Livro de Oração Comum". Adoração sem a participação real da comunidade pode ser um adorável teatro sagrado, mas não é uma adoração verdadeira. Nosso compromisso com uma verdadeira e sábia adoração se confunde com nosso compromisso com nossa fé, vez que cremos como adoramos.

4. Um amor destemido pela verdade

Os estudos anglicanos sempre estiveram na vanguarda do envolvimento da verdade onde quer que ela seja encontrada, ousando fazer perguntas difíceis e desafiar suposições. Os anglicanos abriram caminho nos estudos bíblicos, na ética, na teologia e nas ciências sociais e “duras”. É também esse carisma que mantém a vida anglicana mais viva, já que a cada geração alguns anglicanos são mais destemidos do que outros!

O compromisso anglicano com o diálogo entre a Escritura, a Tradição e a Razão está presente nesses quatro ideais. Em cada um desses ideais, há sempre uma tensão entre a experiência individual e a experiência do Povo de Deus como um todo. É nosso compromisso viver nesta constante tensão que tem sido uma marca da tradição histórica anglicana.

por fim, devemos lembrar que o compromisso de viver nessa tensão, apesar de nossa imperfeição humana, é outra maneira de dizer que os anglicanos estão exclusivamente comprometidos em confiar que, por meio dessa tensão, o Espírito está sempre nos conduzindo a um maior entendimento.