O QUE NÃO É SER ANGLICANO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 1 de dez. de 2021
- 3 min de leitura
Atualizado: 4 de dez. de 2021
Reverendo Jorge Aquino.
Existem muitos artigos explicando o que significa ser um anglicano. Neste, procurarei seguir o caminho oposto. Procurarei apresentar exatamente o que não significa ser um anglicano. E faço isso porque me parece que a quantidade de gente que se diz anglicano e que se comporta como se não fosse é tão grande, que é possível que acreditemos que aquilo que não é acabe se transformando no que dizem ser. Em outras palavras, as pessoas acabarão associando “ser anglicano” com uma série de comportamentos e práticas que, muito ao revés, são exatamente o contrário do que o anglicanismo pretende ser. Por isso apresento as seguintes razões, pelas quais acredito que o que não ser anglicano não é.
1. Ser anglicano não é fazer parte de uma instituição que tem a liberdade para modificar sua doutrina ao seu bel-prazer. Ser anglicano significa reconhecer que existe uma rica história que nos legou textos e documentos doutrinários muito significativos. Como anglicanos, precisamos olhar com respeito para nosso Livro de Oração Comum, para os 39 Artigos de Religião, para o Livro das Homilias, o Quadrilátero de Lambeth e para nossos Catecismos. Não se pode simplesmente abrir mão de tudo isso como se eles nunca tivesses existidos. Antes disso, os anglicanos guardam o sagrado depósito da fé, estudam a doutrina cristã em suas fontes (a Escritura e a Tradição à luz da Razão), e a aplicam aos dias presentes, colocando sempre Cristo como o centro e o alvo de nossa fé. Jamais fazendo isso ao sabor de nossos gostos, vontades ou necessidades privadas. Assim, nem podemos simplesmente reproduzir servilmente um texto, sem reconhecer a importância de seu contexto vital, nem, por outro lado, é correto simplesmente desconsiderar a existência desses documentos. Ser um anglicano não é desconsiderar os grandes documentos que produzimos durante nossa história.
2. Ser anglicano não é o mesmo que ser romano, já que os anglicanos não reconhecem o Papa nem como o Vigário (substituto) de Cristo, nem como infalível no que afirma (ex cathedra ou não), nem tampouco como alguém que tenha jurisdição absoluta e universal sobre todos os cristãos. Ademais, como anglicanos, nem cremos que a missa seja uma renovação incruenta do sacrifício único e pleno de Cristo, nem jamais defenderemos que qualquer doutrina, que como tal não possa ser provada pelas Escrituras, possa ser vista como obrigatória para qualquer cristão. Ser anglicanos é seguir sendo a via média, e não passar a andar pela via romana.
3. Ser anglicano não significa afirmar-se católico e, ao mesmo tempo, esconder ou dissimular ao elementos rituais que nos caracterizam. Nós temos nossa própria liturgia, nosso calendário litúrgico, nossa devoção peculiar, nossa eclesiologia, nosso próprio desenvolvimento teológico, nossa riqueza de paramentos e práticas, além de nossa própria e rica história. Isto significa que, se alguém se diz anglicano e se faz passar por romano – ou permite que as pessoas assim acreditem ou creiam-, não é um verdadeiro anglicano, mas alguém traiçoeiro, ardiloso, falso e mentiroso.
4. Ser anglicano não é fazer parte de uma “outra forma de ser católico”, mas participar da única forma que existe de ser um verdadeiro católico, porquanto concebemos a catolicidade como uma marca característica do cristianismo, já que a Igreja de Deus - que é Uma, também é Universal -, não foi fundada por homens, mas pelo próprio Jesus Cristo.
5. Ser anglicano não é a mesma coisa que ser um “independente”, mas um absolutamente dependente de Deus e um membro da única Igreja Visível. Não fazemos parte de uma Igreja invisível, mística ou de uma igreja virtual, que foi elaborada e construída em um escritório eclesiástico. Portanto, fazemos parte de uma grande comunhão, a Comunhão dos Santos.
6. Ser anglicano não é outra coisa senão, ser um cristão, um seguidor de Cristo. Alguém que ama a Cristo e, como disse o próprio Senhor, se alguém me ama “guardará meus mandamentos” (Jo 14: 15), eis porque esse é o sinal dos verdadeiros seguidores do Cordeiro: “os que guardam os mandamentos de Deus e tem a fé em Jesus” (Ap 14: 12). Assim, o que nos marca como anglicanos não deve ser a arrogância e a exclusividade, mas o amor e a inclusividade que o próprio Jesus viveu e nos serviu de exemplo.

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