Padre Jorge Aquino.
O casamento é como um ser vivo, ou seja, precisa ser constantemente alimentado para que cresça e seja saudável. Em um casamento – como na vida -, o papel das palavras como elemento alimentador é fundamental. Não é sem sentido que Jesus nos diz que aquilo que contamina as pessoas são justamente aquilo que sai de nossas bocas. Por isso ele disse “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45). Em outras palavras, nossa boca revela as condições em que se encontra nosso coração, por isso, tanto podemos destruir quanto podemos construir com nossas palavras. Pensando nisso, eu diria que o papel das palavras no casamento podem ser descritas de três formas.
Em primeiro lugar, existem palavras no casamento que nunca são ditas. Apesar de saber que seu cônjuge precisa ouví-las; apesar de saber que nós mesmos precisamos dizê-las, nós acabamos instituindo uma espécie de Império do Silêncio ao não dizer aquilo que sabemos que o outro precisa ou dizer aquilo que nós mesmos precisamos dizer. E é nesse universo do “não-dito” que vivem muitos casais. Vivem na frieza silenciosa de quem se cala quando sabe que deveria falar. Assim, tais pessoas mantêm-se em silêncio sem dizer aquilo que precisa ser dito e sonegando o que era essencial ou fundamental para a relação. Casais que vivem em silêncio, ou bem nada tem a dizer um ao outro, ou bem não acreditam que valha mais a pena falar. Elas vivem em um Império do Silêncio, por isso, creio firmemente que o silêncio, em nada alimenta uma boa relação.
Em segundo lugar, existem palavras no casamento que são extremamente mal-ditas. Estas palavras mal-ditas são, via de regra, ditas em momentos tortuosos e nos quais o emissor se encontra abalado. Quantas vezes, de nosso coração não saem palavras que destroem justamente aquela pessoa que nós prometemos cuidar na saúde e na doença ou na riqueza e na pobreza e na riqueza. O problema é que, como alguém já disse, “Palavras cortam mais do que facas; elas não perfuram a pele, rasgam a alma”. As palavras mal-ditas geralmente estão cheias de ira, de ódio e de crítica. Sua ação é apenas destrutiva. Na convivência diuturna com pessoas que somente sabe transformar palavras em açoites, vislumbramos a construção de um Império do Conflito, ou seja, um espaço onde o tumulto, a disputa e a hostilidade se tornam algo comum, envenenando a relação.
Finalmente, em terceiro lugar, existem palavras no casamento que são extremamente bem-ditas. Essas palavras precisam ser ditas diariamente. Essas são as palavras que possuem o condão de mudar a realidade de quem as ouve; elas fazem florescer sonhos em nossos corações e conseguem trazer calma e paz à nossa alma. Essas palavras devem ser temperadas – trazendo bom gosto ao que se diz -, verdadeiras, amorosas, incentivadoras, construtivas e aptas para construir o Império da Paz. Mas a paz não deve ser vista como um alvo em si mesmo, e sim como o caminho. Ou, nas palavras de Mahatma Gandhi: “não existe caminho para a paz. A paz é o caminho”. E, não se enganem, as palavras bem-ditas são fundamentais para a construção da paz.
Encerro citando a Bíblia quando diz: “Quem é cuidadoso no que fala evita muito sofrimento” Provérbios 21:23, que em resumo quer dizer: se você não quer se meter em dificuldades, tome muito cuidado com o que diz.
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