O escândalo no Anglicanismo II
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 24 de abr. de 2019
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Rev. Cônego Jorge Aquino.
Seguindo no caminho da reflexão anterior acerca da condição atual do Anglicanismo em nosso país, depois de quase três décadas como Anglicano, percebemos uma segunda realidade extremamente danosa, que tem sido motivo de crítica e até de chacota por parte de muitas pessoas. Essa segunda realidade se expressa em três fatos.
Em primeiro lugar, a reprodução sem critérios de igrejas e Províncias autônomas em nosso país. A realidade que vislumbro no Anglicanismo brasileiro é que as pessoas possuem uma enorme dificuldade de conviver com o “diferente”, e isso acaba por produzir a criação de uma enorme gama de Igrejas, dioceses ou Províncias Anglicanas autônomas no Brasil. A cada nova questão, a cada nova divergência ou, a cada nova discordância, cria-se uma outra diocese ou uma outra Província autônoma. Isso nos coloca diante de uma condição triste.
Em segundo lugar, quero registrar a ausência de uma formação adequada nessas inúmeras dioceses e Províncias autônomas que estão sendo criadas no Brasil. Quando era seminarista, ainda existia o modelo de internato nos Seminários. A grade curricular era bastante extensa e todo o nosso tempo era voltado para o estudo. Hoje, existem igrejas Anglicanas que ordenam seus diáconos e presbíteros sem que eles sejam, sequer, bacharéis em teologia. A falta de uma formação em Anglicanismo e o desconhecimento dos elementos fundamentais na teologia Anglicana, acaba por redundar na prática de absurdos e esquisitices litúrgicas que seriam mais adequadas às igrejas neo-pentecostais, tal como a tal “unção do sabonete”.
Em terceiro lugar, a criação descontrolada de inúmeras dioceses e Províncias autônomas em nosso país acaba por produzir uma enxurrada de sagrações episcopais sem quaisquer critérios. E os novos bispos que acabam sendo sagrados, chegam ao episcopado possuindo alguns elementos preocupantes. De um lado, verificamos que uma parte significativa desses novos bispos, possui muito pouco tempo de Anglicanismo para poder assumir uma posição de direção em dioceses e Províncias. Outra questão, é que uma parte significativa desses novos bispos, além de não conhecerem com profundidade o Anglicanismo, são oriundos da Igreja Romana. Ora, não há problemas em se sagrar bispos oriundos da Igreja Romana. Mas, pessoas com pouca formação em Anglicanismo associada com um modelo mental romano enraizado como padrão de comportamento episcopal dentro das dioceses e Províncias, é preocupante, pois o que acabaremos por ver é a reprodução do ethos romano em vez do ethos episcopal Anglicano, que difere em muito da forma de ser bispo na Igreja de Roma.
Lamentavelmente, o Anglicanismo é uma expressão religiosa como qualquer outra e, dessa forma, acaba sendo influenciada por esse tipo de perspectiva religiosa pós-moderna e subjetivista que institui a subjetividade e o gosto individual como padrão de crença e comportamento. Dessa forma, o que está ocorrendo com o Anglicanismo hoje, também se reflete nas demais igrejas históricas do Ocidente. Somente o tempo poderá apresentar as reais consequências desses escândalos.
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