O DIVÓRCIO E O NOVO CASAMENTO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 5 de out. de 2020
- 5 min de leitura
Reverendo Padre Jorge Aquino
Muitas vezes sou perguntado pela possibilidade de um segundo casamento para alguém que já se casou uma primeira vez no religioso. Em geral eu respondo que tudo vai depender da autoridade que invocamos para justificar ou fundamentar nossos comportamentos. Se estamos muito preocupados com o que a igreja ou a família acha a respeito disso, você pode optar por desistir do segundo casamento. Mas sinceramente, se você gostaria de saber o que Deus pensa a respeito, eu gostaria que você prestasse atenção um pouco mais ao que diz as Escrituras sobre o assunto. Em outras palavras você pode encerrar sua leitura aqui ou seguir adiante.
O divórcio nas Escrituras
Se você está lendo estas palavras é sinal que está preocupado em saber o que as Escrituras dizem a respeito do divórcio, logo, você estabeleceu Deus, e não a igreja como padrão para o seu comportamento. Vejamos o que diz a Bíblia sagrada sobre o divórcio.
1. O divórcio não é a expressão da vontade original de Deus para o casamento
É claro que quando lemos as Escrituras nos deparamos com aquele texto já bastante conhecido e que diz “não separe o homem o que Deus uniu” (Marcos 10:9). Este texto outra coisa não faz além de expressar a vontade de Deus para as pessoas casadas, não em função do casamento em si, mas em função da pessoa em si. Em outras palavras, as pessoas são mais importantes que as instituições. Todo tipo de ruptura é extremamente dolorosa. Quem quer que já tenha passado por um divórcio sabe como é difícil e sofrido passar por isso. Pensando nisso temos neste texto a expressão carinhosa do desejo de Deus para nós: “Que o homem não separe o que Deus uniu”.
Mas ainda que se queira sustentar o contrario ao que colocamos acima, ainda se pode argumentar dizendo que o que o texto diz é “que o homem não SEPARE”; o texto não diz “o homem não SEPARA”. Faz diferença? Sim, e muita. Na primeira frase temos a expressão de um desejo amoroso, na segunda temos uma afirmação determinista que pode ser declarada falsa por qualquer pessoa que passe 5 minutos em um cartório.
Em outras palavras, para o bem do homem, o IDEAL é que o casamento seja eterno e que só se encerre com a morte. Toda espécie de ruptura é contrário ao IDEAL de Deus, e por isso, extremamente doloroso para os envolvidos.
2. O divórcio foi reconhecido por Jesus como uma saída para a maldade do homem.
Partindo do ponto anterior enquanto IDEAL, podemos cair no mundo REAL e perceber que na vida do dia a dia, as pessoas nem sempre se comportam como deveriam se comportar idealmente. Nem sempre os cônjuges se comportam como deveriam se comportar.
Certo dia, questionado pelos fariseus acerca do divórcio Jesus afirmou que no princípio não era para ser assim, mas que Moisés aceitou o divórcio. Vejamos suas palavras: “Por causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar (απολυση) vossas mulheres, mas não foi assim desde o princípio” (Mateus 19:8). O que significa isso? Ora, sabemos que as relações familiares na Palestina do primeiro século são, em tudo, diferentes das que temos hoje em nossa sociedade. Para início de conversa, o papel da mulher em casa era apenas a de reprodutora e que as conseqüências de um divórcio seriam avassaladoras para a parte mais fraca.
Em razão disso, os homens agiam como verdadeiros ditadores humilhando sistematicamente suas esposas não apenas verbalmente, mas também por meio da violência física. É neste contexto que Jesus entende que a “dureza” dos homens podem se converter em razão suficiente para o divórcio, que deveria ser aplicado como medida para proteção da mulher. Embora no princípio o divórcio não fosse plano de Deus, ele o aceita em razão da defesa da mulher.
Quando Jesus diz que o divórcio só deveria ser aceito em caso de adultério ele estava dizendo que, caso a mulher cometesse adultério, ao invés da violência, o divórcio seria o cainho mais adequado. Ocorre que com a complexidade social os motivos da violência se tornaram muito mais numerosos. As mulheres são agredidas hoje por qualquer coisa ou diante de qualquer circunstância. Fazendo uma interpretação extensiva compreendemos hoje que, qualquer razão que produza humilhação e desrespeito são motivos adequados para o divórcio.
Quem faz esta interpretação é Paulo quando escreve sua primeira carta aos Coríntios (7:15) postulando que, se uma mulher cristã estiver casada com um homem que não queira ficar com ela em razão de sua conversão à Cristo, então que ela se separe (χωριζεσθω) dele. Paulo, portanto, amplia o número de causas para o divórcio, porque entende que o que Cristo faz é apresentar não uma norma, mas um princípio.
3. O segundo casamento é sempre uma saída para a realização da pessoa humana: não é bom ser só.
Ora, as Escrituras afirmam desde o início não ser bom que o homem/mulher esteja só. Não fomos criados para a solidão; somos seres gregários e nos realizamos enquanto humanos, apenas em sociedade. Estou convencido – e cada dia mais convencido – de que a família é o espaço mais significativo e mais agregador que homem de hoje pode ter.
Casei de novo e agora?
Ok? Vamos imaginar que ao se casar de novo você tenha cometido um pecado. (o que não acredito) Mas não um pecado qualquer, um pecado enorme. Será que Deus vai rejeitar você eternamente? Eu faço esta pergunta por que há milhares de pessoas cristãs, honestas e tementes a Deus que sofrem dominicalmente por não poderem comungar em razão de seu segundo casamento. Vamos observar alguns textos e procurar entender um pouco o que diz as Escrituras.
Em primeiro lugar entendo que se você deixa de comungar porque se considera indigna ou indigno, quero afirmar que ninguém comunga porque é digno, mas porque somos filhos e estamos sendo convidados para a ceia do Pai.
Em segundo lugar se você acha que Jesus negaria a comunhão a você porque você fez algo de errado, lembre-se de que ele, na ultima ceia, deu a comunhão à Judas mesmo sabendo do que ele fizera, recebendo dinheiro para traí-lo. Se você não quer comungar porque tem medo de cometer um erro no futuro, lembre-se que Jesus também deu a comunhão à Pedro, que o trairia três vezes na noite seguinte.
Que temos pecados, disso sabemos. Mas, diz Cristo: “Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas aos vossos filhos, quanto mais vosso Pai, que está nos céus, dará bens aos que lhe pedirem?” (Mateus 7:11). Será que o Pai celestial negaria o pão, o alimento e a ceia a um filho pecador e humilhado? Cito mais uma vez Cristo: “E qual de entre vós é o homem que, pedindo-lhe pão o seu filho, lhe dará uma pedra? E, pedindo-lhe peixe, lhe dará uma serpente?” (Mateus 7:9-10). Você faria isso com seu filho? Deus não faria com você.
Conclusão
Nas Escrituras temos uma parábola de um filho que abandonou a casa de uma forma tão forte como se estivesse dizendo que seu pai estaria morto. Depois de reconhecer seu erro, diz as Escrituras que ele resolve voltar para casa humilhado. Qual seria a reação do Pai? Diz as Escrituras que ele se levantou, correu, abraçou seu filho, mandou fazer uma festa e disse: “Este meu filho estava morto e reviveu; estava perdido e foi achado” (Lucas 15:32).
Você se sente distante de Deus porque casou de novo? Saiba que Deus é o Deus do recomeço. Ele sempre estará de braços abertos para acolher seus filhos e filhas machucados por relacionamentos difíceis. Não importa o que dizem as pessoas ou as igrejas. O que importa é que Deus te ama e te aceita como você é, te recebe e deseja a tua felicidade plena.
Tenha fé! Confie em Deus! Aceite que ele te aceita! Receba seu abraço paterno e comungue em sua mesa, porque você é da família de Deus.

Comentários