O CRISTÃO E A PROJEÇÃO DE UMA IMAGEM PERFEITA
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 8 de dez. de 2021
- 2 min de leitura
Atualizado: 13 de dez. de 2021
Reverendo Jorge Aquino.
Este breve texto se baseia em duas citações retiradas do livro Convite à solitude, lançado no Brasil pela editora Mundo Cristão. Na primeira citação, Brennan Manning escreve com uma clareza translúcida sobre as razões que nos impedem de reconhecer nossos fracassos pessoais e nos leva e escondê-los das outras pessoas. Assim, como sabemos “ainda que o cristianismo nos traga uma mensagem de cruz, de redenção e de pecado, não estamos dispostos a admitir que fracassamos na vida. Por que? Em parte, imagino eu, por ser um mecanismo de defesa da natureza humana contra as próprias incapacidades. Mais ainda, porém, isso se deve à imagem de bem-sucedidos que nossa cultura exige de nós. Há alguns problemas sérios com essa história de projetarmos a imagem perfeita. Em primeiro lugar, simplesmente não é verdade – nem sempre somos felizes, otimistas, no controle da situação. Em segundo lugar, projetar a imagem impecável nos impede de alcançar as pessoas que acham que simplesmente jamais as entenderíamos. Em terceiro lugar, ainda que pudéssemos viver sem nenhum conflito, sofrimento ou erro, seria uma existência irrelevante. O cristão com profundidade é a pessoa que fracassou e aprendeu a viver com seu fracasso”.
De fato, muito embora todos saibamos que somos pecadores, é muito difícil dizer qual pecado cometemos. E essa dificuldade, segundo nosso autor, se deve a um mecanismo de defesa que desenvolvemos e que nos impede de expressar as nossas incapacidades e nossos pecados. Na verdade, fazemos de tudo para que as pessoas pensem que não erramos nem caímos jamais. Essa situação ocorre em razão de uma expectativa criada em nossa cultura que exige que nossa imagem seja sempre a de alguém bem-sucedido e feliz. Essa imagem de alguém perfeito simplesmente não se sustenta. Todos somos testemunhas dos fracassos cotidianos e daquilo que Paulo quis dizer quando escreveu: “Miserável homem que sou, quem me livrará do corpo dessa morte?” e também: “Por que o bem que quero fazer não faço; mas o mau que abomino, esse eu faço” (Rm 7: 19, 24). Admitir que somos pecadores nos faz chegar mais próximos das pessoas normais de carne e osso e, ademais, sem nossas dores e quedas, sequer seríamos humanos.
Mas o autor se aprofunda mais em suas considerações quando diz: “‘Qual é a história de meu sacerdócio? É a história de um homem infiel por meio de quem Deus continua a trabalhar!’. Essa palavra é não somente um consolo; é libertadora, ainda mais para aqueles de nós tomados pela opressão de pensar que Deus só trabalha por meio de santos. Que palavra de cura, perdão e consolo para muitos de nós, sacerdotes, ao descobrirmos que somos vasos de barro que cumprem a profecia de Jesus: ‘Asseguro-lhe que ainda hoje, ainda esta noite, antes que duas vezes cante o galo, três vezes você me negará’” (MANNING, 2010, p. 35, 36). Quem de nós teria a coragem de se revelar infiel, desleal e até mesmo pérfido? Somente quem sabe que o Pai nos ama apesar de nossa condição de pecadores é capaz de admitir que a graça superabunda justamente onde abunda o pecado. É o sangue puro de Jesus que nos garante o perdão de todos os nossos pecados e um novo caminho em direção ao Reino..

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