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O CRISTIANISMO PROGRESSISTA 2

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Padre Jorge Aquino.

Conforme já afirmamos em nosso primeiro texto sobre o assunto, aquilo que convencionamos chamar de Cristianismo Progressista traz consigo uma série de afirmações e postulados. Neste texto apresentaremos o segundo postulado fundamental do Cristianismo Progressista que assim se expressa: “Afirmamos que os ensinamentos de Jesus fornecem apenas uma das muitas maneiras de experimentar a Sacralidade e a Unidade da vida, e que podemos extrai-la de diversas fontes de sabedoria em nossa jornada espiritual”. Sobre esse segundo postulado do Cristianismo Progressista, cremos ser possível depreender as seguintes verdades. Em Primeiro lugar, que Jesus nos apresenta, por meio de seus ensinamentos, uma maneira de “experimentar a Sacralidade e a Unidade da vida”. Para os Cristãos Progressistas, portanto, a vida possui duas características que são fundamentais: a Sacralidade e a Unidade. Por Sacralidade, queremos dizer que a vida é essencialmente sagrada e envolvida em dignidade. Para Zilles, “O sagrado tem o duplo caráter daquilo que é santo e daquilo que é sacrilégio, isto é, daquilo que é sagrado, porque prescrito e exaltado pela garantia divina ou daquilo que é sagrado, porque proibido ou condenado pela mesma garantia” (ZILLES, 2007, p. 348). Quem tratou seriamente desse tema foi o pensador alemão Rudolf Otto, que chama esses dois elementos citados acima de facinante e tremendo.

Desta forma, em um mundo cada vez mais voltado para o tecnocentrismo, no qual tanto a vida humana quanto a própria natureza são manipuladas para se obter lucro a qualquer custo, Urbano Zilles nos lembra que: “Nos últimos séculos, o homem apostou no cultivo sem limites da racionalidade e objetividade científicas para o desenvolvimento da tecnociência e assenhorear-se da natureza. Desvendou os segredos do genoma humano, capacitando-se para manipular o código do próprio genoma” (ZILLES, 2007, p. 338). Eis que, nesse mundo voltado para a técnica, o homem acaba vendo ser subtraída sua sacralidade, o que o transforma em objeto: objeto de prazer, de manipulação e objeto de tortura. Por ser “Imagem de Deus”, a vida humana é sagrada e Deus a dignificou ao assumir sua natureza e encarnar-se, tornando-se homem. Sacralidade e dignidade andam juntas.

Quando nos referimos à Unidade da vida, estamos ressaltando que não existe uma vida isolada da outra. Na verdade existe um elo místico que une a todos os seres vivos de tal forma que, a morte de um elemento desse elo representa a dor e o sofrimento de toda a cadeia. Não podemos, portanto, entender como inocente a destruição das florestas e dos ecossistemas e biomas, bem assim, a extinção de espécimes nos mais distantes rincões do universo. A propósito, é por isso que falamos em “uni-verso” e não “pluri-verso”. Urge que reconheçamos que vivemos em plena unidade com esse mundo porque dele fazemos parte. Qualquer morte é uma morte que nos atinge e que nos diz respeito. Esse aspecto ambiental do ecosistema precisa ser ressaltado.

Uma segunda verdade que encontramos nesse postulado do Cristianismo Progressista é a de que este ensinamento acerca da Sacralidade e da Unidade da vida pode ser extraída “de diversas fontes de sabedoria em nossa jornada espiritual”. O que o Cristianismo Progressista pretende com isso é resgatar um aspecto extremamente importante e ancestral da teologia cristã que é a noção de logos espermáticos, como ocorre, por exemplo, em Justino o mártir. Sobre esse aspecto, afirma Tillich: “Justino se valeu das doutrinas estoicas acerca da imanência e transcendência do Logos. O Logos divino é endiathetos, ‘que habita’ em Deus. Esse mesmo Logos eterno, pelo qual Deus expressa a si mesmo, torna-se, na criação, o Logos prophorikos, ‘procedente’ de Deus, na direção do mundo (TILLICH, 2000, p. 51). Como se pode verificar, por meio de um estudo do pensamento helênico anterior à Jesus, o pensamento grego aponta para o logos como enfrentando um papel essencialmente ideal. A verdade era pregada pelos filósofos e intelectuais gregos como Sócrates – mas também como Buda, Confúcio, Cícero, etc. -, porque ela não é uma exclusividade do cristianismo. De fato, onde a verdade estiver, Deus ali está, porque ele é a verdade. É no cristianismo que, pela primeira vez será encontrado a tese de que o logos “se fez carne” e “habitou entre nós” (Jo 1,14). Foi Jesus que se identificou com “o caminho, a verdade e a vida”. Essa ideia, encontrada no evangelho de João, será seguida – e desenvolvida - por uma longa tradição até chegar a Justino.

Não estranhemos, portanto, quando se diz que a Sacralidade e a Unidade da vida podem ser encontradas em uma diversidade de fontes de sabedoria que podem enriquecer toda a nossa jornada espiritual.


Referência Bibliográfica:

TILLICH, Paul. História do pensamento cristão. São Paulo: ASTE, 2000

ZILLES, Urbano. A sacralidade da vida. In Teocomunicação - PUCRS. Porto Alegre, v. 37, n. 157, p. 337-351, set. 2007.

 
 
 

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