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O ANGLICANISMO NA VISÃO CATÓLICO-ROMANA

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 20 de jul. de 2020
  • 3 min de leitura

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Quando procuramos saber o que se diz sobre o Anglicanismo nem sempre vemos que as informações apresentadas nos textos ou livros são, de fato, verídicas. Uma das visões que em geral as pessoas têm é que o Anglicanismo foi “criado” pelo Rei Henrique VIII porque queria se divorciar e casar novamente. Estes autores, normalmente, são pessoas sem muito lastro acadêmico. No entanto quando nos acercamos de textos mais embasados, acadêmicos e oriundos de uma pesquisa mais acurada, o cenário muda.

A conhecida e respeitada Biblioteca de Autores Cristianos, por exemplo, editou um livro em 1972, escrito pelo conhecido professor de Dogmática José M. Gomez-Heras, da respeitadíssima Universidade de Salamanca com o tema “Teologia protestante: sistema e história”. De sua exposição sobre Anglicanismo há algumas informações que gostaria de destacar.

A primeira constatação feita pelo professor de Salamanca diz que “A tradição teológica anglicana é inseparável do pano de fundo histórico político-cultural que condiciona sua origem e evolução e determina suas características” (p. 209). De fato, o mesmo pode ser dito acerca de qualquer estrutura social, inclusive a igreja Romana. É o contexto histórico, político e social que determina a formação e o desenvolvimento da identidade das instituições religiosas. Em outras palavras, todas as religiões são fruto destes elementos sociais, políticos e culturais. As questões pessoais envolvendo o Rei da Inglaterra e seus problemas conjugais - por mais importantes que tenham sido -, influenciaram menos do que o grande movimento Iluminista e a Reforma Protestante que sacudiam a Europa naquele período histórico e estavam na base do que hoje chamamos de Modernidade.

Uma segunda afirmação feita pelo professor José Maria Gomez-Heras diz que estas influências características que foram citadas acima acabaram por criar uma igreja que, de um lado, “aparece como uma das maiores forças espirituais que configuram a historia e cultura inglesa” e por outro, “sua tradição teológica, tem sido, desde sempre, muito sensível à soma de fatores ‘não especificamente teológicos’ que tem condicionado, talvez por excesso, a interpretação anglicana do Evangelho como forma de existência” (p. 209). Dentre os fatores não teológicos citados pelo eminente teólogo estão a política e os interesses monárquicos, o sentimento nacionalista, os elementos culturais associados ao estilo de vida e de pensamento britânicos. Deve-se registrar, contudo, que essa afirmação é mais adequada à Igreja na Inglaterra e não leva em conta que o Anglicanismo é a segunda igreja cristã mais difundida pelo planeta, portanto exposta a outros fatores peculiares aos mais diversos elementos culturais.

Em terceiro lugar, é interessante notar que, conforme a leitura feita por esse eminente teólogo católico, “o cristianismo anglicano, ou, com outro nome, a Igreja nacional inglesa separada de Roma, não é um cristianismo propriamente protestante. A ruptura entre Roma e Cantuária não estava motivada por diferenças dogmáticas, como no caso das comunidades acatólicas centro-europeias, mas por um complicado caso jurídico-matrimonial” […] “Ou seja, se trata de una Igreja nacional nascida não de uma doutrina herética, mas de uma atitude cismática” (p. 210). De fato – e neste ponto concordamos com a leitura do eminente pensador Romano -, as diferenças doutrinárias entre o Anglicanismo e o Romanismo não foram o estopim que fizeram com que as duas igrejas se separassem, mas elas existiram, com toda certeza e de forma bastante acentuadas. A questão de fundo, no entanto, foi de ordem jurídica e política. Para que tenhamos uma visão sobre o tema basta ler a grande obra do eminente teólogo Richard Hooker. Os Reformadores ingleses entraram em um movimento que já estava ocorrendo e acrescentaram um elemento a mais: a teologia.

Em quarto lugar, José M. Gomez-Heras entende que há um outro fator muito importante que faz parte da identidade anglicana, seu diálogo com o humanismo. De fato, para ele o anglicanismo é o resultado da união de três ingredientes espirituais: o catolicismo, o protestantismo e o humanismo. Esta convergência experienciada no cristianismo inglês acabou por fazer com que o anglicanismo fosse uma “Igreja ‘ponte’ não só entre Roma e Wittenberg, mas também entre religião e cultura moderna” (p. 211). Este diálogo existente entre os três fatores acabaram por fazer crescer no anglicanismo três orientações teológicas: o anglo-catolicismo (ou igreja alta), o evangelicalismo (ou igreja baixa) e a corrente racionalista-liberal (igreja larga). Desta forma o anglicanismo “aspira um cristianismo eclético, situado na famosa via média […] em um equilíbrio dogmático-litúrgico-institucional entre o catolicismo latino, o protestantismo centro-europeu e os princípios da cultura moderna” (p. 211). Este equilíbrio fará com que tanto os 39 Artigos de religião quanto o Livro de Oração Comum tragam consigo o compromisso de conviver entre estas tradições.

Para concluir, devo registrar a seriedade deste ilustre sacerdote romano e catedrático de uma das mais antigas e famosas universidades europeias. Ele consegue, sem ser parcial ou desonesto, apresentar estes quatro elementos identitários de uma forma clara e sistemática. É, pois. um exemplo de exposição que ensina e instrui não apenas aos nossos irmãos Católicos-Romanos, mas também até mesmo os próprios Anglicanos.



 
 
 

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