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O Amor em Heidegger

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 26 de mar. de 2019
  • 3 min de leitura

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Reverendo Cônego Jorge Aquino.

Todos aqueles que já estudaram algo de filosofia, deve se lembrar da relação amorosa que existiu entre o ilustre professor Martin Heidegger e sua mais brilhante aluna Hannah Arendt. Muito embora esse amor fosse socialmente reprovável – vez que Heideger era casado -, as cartas trocadas entre os dois, por cinquenta anos, revelavam muito do que pensavam acerca do amor e de como seu pensamento estava influenciado pelas teses de Agostinho e de Kierkegaard. Em uma das cartas escrita por Heidegger para Hannah Arendt, ele assim se expressa: “Por que será que o amor é imensamente mais rico do que qualquer outra possibilidade humana? Por que se mostra, aos que são tocados por ele, como um doce fardo? Porque nos transformamos naquilo que amamos sem deixarmos de ser nós mesmos. Gostaríamos, então, de agradecer à pessoa amada e não encontramos nada que seja suficiente para tanto. Só podemos agradecer através de nós mesmos. O amor transforma o agradecimento em fidelidade para conosco e em crença incondicional no outro. Dessa forma, o amor intensifica constantemente o seu segredo mais peculiar. (…) Um destino humano entrega-se a um destino humano, e o ofício do amor puro/casto é manter desperta essa entrega exatamente como no primeiro dia” (Carta de 21 de fevereiro de 1925).

Segundo Heidegger, o amor consegue realizar algo de impensável na vida do amante, ele faz com que “nos transformamos naquilo que amamos sem deixarmos de ser nós mesmos”. Há, aqui uma íntima relação entre dois seres que, condicionados pela temporalidade e pela mundanidade, são seres-para-o-outro, pois se amam. Agora, quando olhamos para os dois, somente vemos um. E serão ambos, diz a Bíblia, uma só carne.

Uma outra verdade que o amor traz para o Ser-que-ama, é que este é inundado pelo sentimento da gratidão. Esta é uma gratidão que, como não pode ser traduzida em palavras, somente é compreendida por meio gestos concretos que, nesse instante só podem ser traduzidos em dois sentimentos: fidelidade e crença. Vejamos as palavras de Heidegger: “O amor transforma o agradecimento em fidelidade para conosco e em crença incondicional no outro”. O amor transforma nosso agradecimento em fidelidade para conosco mesmo, porque é dentro de nós mesmo que está aquilo que amamos no outro; e em crença incondicional porque, por gratidão, entregamos nossa vida a quem amamos.

Entendemos isso melhor quando, em outro texto, Heidegger define o amor como “o olhar para o ser amado, um olhar que, atravessando esse ser, consegue ver o fundamento da essência dos que amam” (HEIDEGGER, 2005, p. 158). Eis aqui o segredo da relação de um casal harmonioso: eles possuem, no fundo, em suas duas essências, apenas uma, o amor. No entanto, parece que pensar assim é algo enganoso, vez que nos faz pensar que devemos amar a pessoa onde ela não é visível. Não seria mais adequado amar o visível? A questão se resolve porque a pessoa que amamos, chama à presença o que não sabíamos que éramos, como se extraísse a eternidade de dentro de nós. Ela, na realidade, descobre o que busca em nosso interior, na proporção em que encontra uma relação com o que há dentro dela.

Eis aqui sua dependência do pensamento de Kierkegaard, que já afirmava que o amor só existe na reciprocidade. Vejamos suas palavras: “O sinal definitivo, o mais feliz e incontestavelmente convincente do amor é, pois, o próprio amor, tal como é conhecido e reconhecido pelo amor de outra pessoa. O semelhante só é conhecido pelo semelhante, só aquele que permanece no amor pode conhecer o amor do mesmo modo como seu amor deve ser conhecido” (KIERKEGAAR, 2007, p. 31). Eis porque a gratidão que é impossível de se dizer se traduz em fidelidade e em crença – que também é fé. Amamos, porque nos comprometemos, nos afiançamos, nos garantimos, e cedemos nosso próprio coração como penhor, intensificando “constantemente o seu segredo mais peculiar”, como se este fosse ainda “o primeiro dia”, ou seja, aquele dia em que o amante se reconheceu no coração da amada.

Referências bibliográficas:

HEIDEGGER, M. Memória, In, Aclaraciones a la poesia de Hölderlin. Madrid: Alianza Editorial, 2005

LUDZ, U. (Org.) Hannah Arendt/ Martin Heidegger – correspondências 1925/1975. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001.

KIERKEGAAR, S. As obras do amor. Algumas considerações cristãs em forma de discurso. Petrópolis: Vozes, 2007

 
 
 

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