
Padre Jorge Aquino.
Cremos que uma igreja que deseje se adequar às novas realidades conceituais que nos são apresentadas pelo nosso mundo, precisa aceitar alguns desafios fundamentais e inafastáveis.
Em primeiro lugar, se queremos uma igreja que deseje se adequar às novas realidades conceituais, precisamos repensá-la em sua relação a sua delineação espacial. Muito embora devamos preservar o conceito milenar de diocese – bem como os ministérios primitivos de diáconos, presbíteros e bispos -, não podemos mais limitar o espaço diocesano em função, apenas, de sua extensão geográfica. Acreditamos que, seguindo o exemplo da Igreja Primitiva, nossas dioceses deveriam ser criadas por afinidade, e não apenas por questões geográficas. À proporção em que nos vemos cada vez mais em um mundo globalizado, não podemos mais manter os fronteiras diocesanas conforme são descritas nos primeiros Concílios Ecumênicos. A possibilidade de reunir pessoas ou líderes por meio dos novos recursos tecnológicos, nos permite ter uma diocese – nossa igreja local -, formada e delineada em função de nossas afinidades conceituais e propósitos comuns, e não mais, meramente, em razão do aspecto geográfico.
Em segundo lugar, se queremos uma igreja que deseje se adequar às novas realidades conceituais, temos que repensar nossa forma de sustento ministerial. Nesse sentido, muito embora seja possível manter, em algumas realidades, o modelo tradicional de um ministro de tempo integral e sustentado por sua paróquia, acreditamos que o novo tempo nos impõe que nossos novos clérigos sejam "fabricantes de tendas". Isso significa que eles deverão ter sua ocupação ao mesmo tempo em que continuem servido como ministros ordenados ou licenciados em sua comunidade. Para tanto, é preciso desconstruir o discurso que foi criado em torno do dízimo – que é uma criação moderna -, e repensar o sustento ou apoio dos ministros com base em uma nova forma de compromisso com a manutenção daqueles que cuidam de nossas almas.
Em terceiro lugar, se queremos uma igreja que deseje se adequar às novas realidades conceituais, é preciso que nos acostumemos com a realidade de "igrejas sem muros" servindo a comunidade local, ainda que mantenhamos, em alguns casos, o modelo tradicional de igreja paroquial com seu próprio prédio. O que precisamos reconhecer é que uma igreja sem paredes reconhece que Deus não está confinado dentro de um edifício de igreja, mas é uma presença viva no mundo do qual todos fazemos parte. Isso significa que não devemos nos assustar em ver um grupo de pessoas se encontrando pela internet, tanto quanto não devemos nos assustar em ver um grupo de pessoas se encontrando em um parque da cidade e – debaixo das árvores -, compartilhar um café.
Ser igreja é, acima de tudo, desenvolver convivialidade e relacionamento e compromissos tão sérios com algumas pessoas, que somos capazes de vê-las como nossos irmãos ou seja, como membros de nossa família. Tal igreja precisa ser aberta para acolher quem pensa e quem é diferente de nós, ou seja, ela precisa ser inclusiva. Não podemos aceitar derrubar os muros de pedra e manter de pé os muros conceituais que nos separam em função da cor de nossa pele, da nossa condição social, sexual, étnica ou ideológica. Ser Igreja é acolher pessoas que desejam ser acolhidas, amar pessoas que desejam ser amadas e compreender pessoas que precisam ser compreendidas. Ser Igreja é refletir o caráter e a prática de Jesus.
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