Nem sempre uma volta à relação é saudável

Reverendo Padre Jorge Aquino.

Vivemos em um mundo onde a realidade da separação e do divórcio é algo já definido. Mas precisamos entender, antes de qualquer debate, que um divórcio não ocorre naquele dia em que o casal comparece diante de um magistrado e assina um documento dando fim à relação. Da mesma forma, um casamento não ocorre no momento em que o casal assina o termo e ouvem do juiz ou do sacerdote: “Eu vos declaro esposo e esposa”. Uma separação, como um casamento, ocorre muito tempo antes. E assim o é, porque a separação (como a união) possui um aspecto existencial que somente mais tarde vai ser transformado em um ato jurídico. Para que um casal chegue a judicializar o fato e assinar um divórcio, algo muito mais sério se quebrou dentro deles.

No entanto, qualquer um de nós conhece alguém que se separou e que, algum tempo depois – não importa quanto -, voltou com seu ex-cônjuge. Devo dizer que esse retorno, em grande medida, se revela um erro cometido pelos dois. Quanto menos tempo de separação, mais o erro se manifesta.

Estudos revelam que aqueles que retomam a relação estão entre os que, em primeiro lugar, acredita que o tempo a sós serviu de lição para que o outro melhorasse. Alimentar ilusões é muito comum para aqueles que se separaram a pouco tempo e pensam em retomar a relação. Isto ocorre porque a separação significa o fim das descargas de dopaminas, que precisam ser recuperadas a qualquer custo. Assim, muito rapidamente, esquecemos aqueles problemas que deram origem e motivo ao divórcio e só pensamos em coisas boas.

Em segundo lugar, o grupo de pessoas que acabam por retomar a relação, costumam demonstrar maior impulsividade e uma tomada de decisões mais precipitadas, principalmente quando o assunto é morar juntos outra vez. Ao invés de caminhar com cuidado neste terreno minado que é o coração, nós nos entregamos sem quaisquer reservas a uma nova tentativa sem que se estabeleçam novos padrões de comportamento de parte a parte, e sem que estabeleçamos um plano de aproximação gradual que evite uma nova crise. Esse plano de aproximação gradual tem, necessariamente, que tratar dos temas que foram os pivôs da separação. Não pense que uma mulher habitualmente crítica e ciumenta abandonará essas características tão facilmente assim; nem que um homem que costuma satisfazer suas necessidades (físicas ou emocionais) fora de casa, vai abandonar essa prática com facilidade. Portanto, lembrem-se: agir com calma e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Em terceiro lugar, aqueles que retomam a relação acreditam que o outro vai desenvolver mais tolerância e será menos crítico com os defeitos do parceiro. Pode parecer infantilidade, mas aqueles que retomam a relação logo depois de uma separação acham que ele nunca mais vai deixar a toalha molhada sobre a cama ou que ela nunca mais vai deixar as sandálias na sala. Estudos realizados na Universidade do Kansas, contudo, demonstram que, muito ao contrário, quem retoma uma relação tende a ser mais crítico com seu companheiro, vez que está inseguro com o futuro do novo relacionamento. De fato, esta pesquisa mostra que eles estão não apenas mais propensos às brigas, mas menos satisfeitos com a vida à dois, em relação a como estavam na primeira vez que se uniram.

Vejam bem. Não quero dizer que o retorno de um grande amor é algo impossível. O que estou tentando colocar é que, na maioria das vezes, esse retorno se dá sem muitos critérios, sem um planejamento e sem exigências de ambas as partes. Quando tudo isso deixa de ocorrer, nem sempre retomar a relação indicará algo saudável para o casal.