Investigação de abuso levanta questões sobre a supervisão de Bento XVI na arquidiocese de Munique
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 24 de jan. de 2022
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Pelo menos 497 pessoas foram abusadas na Arquidiocese de Munique-Freising durante um período de quase 74 anos (de 1945 a 2019). A maioria deles era jovem; 247 são vítimas do sexo masculino e 182 são do sexo feminino. Sessenta por cento das vítimas tinham entre 8 e 14 anos. O relatório identifica 235 autores de abusos, incluindo 173 padres, nove diáconos, cinco agentes pastorais, 48 pessoas do ambiente escolar. Esses são os dados apresentados no relatório sobre abuso clerical na Igreja de Munique, compilado pelo escritório de advocacia Westpfahl Spilker Wastl, encomendado pela arquidiocese em fevereiro de 2020.
Conferência de imprensa de duas horas
O relatório foi apresentado esta manhã durante uma coletiva de imprensa de duas horas na “Haus der Deutschen Wirtschaft”, na presença de representantes da diocese, mas na ausência do cardeal Reinhard Marx. Também estiveram presentes membros do Conselho Arquidiocesano de Vítimas de Abuso. Durante a reunião, trechos do relatório de mais de 1.000 páginas foram lidos pelo advogado Martin Pusch, chefe do escritório de advocacia responsável, e pela advogada Marion Westphal.
Alguns dos números
O relatório, centrado no tratamento de casos de abusos passados, baseia-se em informações recolhidas através de colóquios e entrevistas com as vítimas, bem como com aqueles que ocuparam e ainda ocupam cargos de responsabilidade na arquidiocese. Das 71 pessoas pesquisadas, 56 delas responderam ao pedido. As declarações foram comparadas no final de agosto de 2021. Os nomes de sessenta e cinco autores de abuso “reais ou suspeitos” foram enviados. Segundo especialistas, o número de crimes não denunciados seria “consideravelmente maior”.
Revendo a gestão
Especificamente, o relatório analisa a gestão de uma sucessão de arcebispos: os cardeais Michael von Faulhaber, Joseph Wendel, Julius Doepfner, Joseph Ratzinger, Friedrich Wetter e Reinhard Marx. O relatório também examinou os anos do Cardeal Ratzinger como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé; Ratzinger, papa emérito Bento XVI, serviu como arcebispo de Munique de 1977 a 1982. A comissão independente identificou quatro casos ocorridos durante o ministério do então cardeal Ratzinger, com os responsáveis pelos abusos ainda no cargo. Os autores do relatório acreditam que ele teria responsabilidade, embora reconheçam que o Papa Emérito – como dizem – respondeu às suas perguntas e disse que não tinha conhecimento da situação. O caso mais grave,
Declaração prevista para 27 de janeiro
Durante a conferência, Pusch expressou sua opinião de que “erros” de comportamento devem ser atribuídos ao Cardeal Marx em relação a dois casos de abuso em 2008. Houve um aumento significativo no número de denúncias desde 2015.
A liderança da Arquidiocese de Munique não estava ciente do conteúdo do relatório até sua publicação, com exceção de alguns relatórios preliminares na imprensa alemã. A Igreja de Munique comentará o conteúdo do relatório, “após um exame inicial”, na próxima quinta-feira, 27 de janeiro.
Comunicado da assessoria de imprensa da Santa Sé
O diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, disse aos repórteres: “A Santa Sé considera que deve ser dada a devida atenção ao documento, cujo conteúdo é atualmente desconhecido. Nos próximos dias, após a sua publicação, a Santa Sé poderá examiná-la cuidadosamente e detalhadamente”.
Ele acrescentou: “Ao reiterar a vergonha e o remorso pelos abusos cometidos por clérigos contra menores, a Santa Sé expressa sua proximidade com todas as vítimas e reafirma os esforços empreendidos para proteger os menores e garantir ambientes seguros para eles”.
A reação do arcebispo Gänswein
O secretário pessoal do Papa emérito, arcebispo Georg Gänswein, respondeu a perguntas feitas por jornalistas após a apresentação do relatório.
Ele afirmou que até esta tarde Bento XVI não tinha conhecimento do conteúdo do relatório de mais de 1.000 páginas do escritório de advocacia Westpfahl-Spilker-Wastl. “Nos próximos dias ele examinará o texto com a atenção necessária”, disse.
O arcebispo Gänswein acrescentou que “o Papa emérito, como já repetiu várias vezes durante os anos de seu pontificado, expressa seu choque e vergonha pelos abusos de menores cometidos por clérigos, e expressa sua proximidade pessoal e oração por todas as vítimas, algumas de quem se encontrou por ocasião de suas viagens apostólicas”.
Comentário do Cardeal O'Malley
Também na quinta-feira, o cardeal Seán Patrick O'Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores, fez um comentário sobre o relatório. “A Santa Sé se comprometeu a estudar o relatório independente que foi encomendado pela Arquidiocese de Munique e aguardamos sua resposta”, escreveu. “O compromisso da Igreja com a transparência e a responsabilidade são fundamentais para sua promessa a todas as pessoas, especialmente aquelas que foram abusadas”.

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