IGREJA: CORPO DE CRISTO
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 21 de nov. de 2020
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Reverendo Padre Jorge Aquino.
Um dos principais pensadores da teologia do século XX, certa vez procurou dividir a história do Cristianismo em alguns períodos que ele chamava de “paradigmas”. Estou me referindo ao ilustre teólogo suíço Hans Kung. Ele desenvolveu essa tese em algumas de suas obras mas, para citar apenas uma delas, lembro do livro Teologia a caminho: fundamentação para o diálogo ecumênico.
Sem pretender utilizar sua periodização, no entanto, já reconhecendo a existência de uma, compreendo que é impossível, para a fé Cristã, dialogar com a cultura sem se deixar “contaminar” com seu substrato intelectual ou, no mínimo, com o ambiente sócio-cultural no qual a Igreja convive e se relaciona.
Partindo desse pressuposto, que julgo ser correto, não seria errado afirmar que o Cristianismo de hoje está intima e profundamente influenciado por uma sociedade individualista, egoísta e auto-centrada. Este tipo de sociedade acaba, inevitavelmente, gerando experiências Cristãs de vida igualmente individualistas, egoístas e auto-centradas. Quando estudamos o movimento evangélico – principalmente sua vertente neopentecostal – verificamos que estamos diante de uma fé marcada por uma religiosidade onde o indivíduo encontra com “seu” Deus, recebe a “sua” bênção e vai para o céu. Tudo isso ocorre sem a participação de ninguém mais.
Retornando um pouco no tempo, verificamos que o Cristianismo medieval foi fortemente marcado pelo autoritarismo que grassava naquele período feudal. As relações interpessoais eram profundamente marcadas pelo autoritarismo, e essa marca entrou indelevelmente na Igreja Romana, a ponto de fazer com que seus cânones e seus dogmas demonstrem a existência de uma Igreja e de um papa indefectível e infalível. Ora, ninguém pode contrariar uma estrutura que não pode errar e que é governada por alguém que quando declara ex cathedra, algo, o faz de forma infalível. Ainda hoje temos dificuldades de dialogar com quem já possui toda a verdade revelada.
Dando mais um passo para o passado, encontraremos uma experiência de Cristianismo muito rica e, no entanto, bastante restrita. Quando nos voltamos para a experiência dos Cristãos Ortodoxos Russos, nos vemos diante de uma palavra extremamente rica: Sobornost. Este termo, intraduzível para o português, nos fala de algo como “companheirismo” ou “consciência de grupo”. Este é um sentimento de unidade, de comunidade espiritual e de união que toda a Igreja possui quando está reunida para a celebração da Santa Liturgia.
Conforme afirmamos no início desse texto, não pretendo periodizar a história da Igreja e nem afirmar que ela trilhou um caminho linear e ascendente. No entanto, estou convencido de que, nem o modelo da autoridade suprema, nem o do supremo individualismo são adequados para uma realidade que se vê como o “Corpo de Cristo”. Desta forma, acredito que deveríamos dar um pouco mais de atenção à dimensão comunitária e de convivialidade da Igreja de Cristo.

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