Padre Jorge Aquino.
Lembro quando, a mais de trinta anos, me encontrava em um encontro do Conselho Mundial de Igrejas e entabulava uma boa conversa com um teólogo de língua hispânica. Fiquei surpreso quando, após nossa conversa, ele me deu seu cartão de visitas e, quando eu olhei para o cartão, pela primeira vez vi o nome de alguém e, abaixo, sua profissão: teólogo. Eu não estava acostumado com essa realidade.
A palavra teologia é o resultado da união de duas outras palavras gregas: theos, que significa “Deus”, e logos, que se traduz por “discurso” ou “estudo acerca de”. Assim, pelo menos de uma perspectiva etimológica, a teologia seria o estudo ou o discurso acerca de Deus. Mas os aspectos menos complexos terminam por aqui. Digo isso porque, quando nos aprofundamos mais sobre o assunto, percebemos que fazer teologia não é algo simples nem irresponsável.
Assim, a teologia é um momento que ocorre apenas dentro de um processo extremamente complexo e que envolve tanto aspectos sociais quanto eclesiais. Por isso, a teologia é o resultado de um encontro que envolve Deus, a Igreja e a Sociedade. Deixando o aspecto divino para ser discutido mais adiante, precisamos compreender que a teologia, para existir, exige, em primeiro lugar, uma comunidade eclesial, ou seja, uma igreja. Fora da esfera eclesial até podemos falar muito acerca de Deus, mas não podemos fazer teologia, pois ela somente ocorre dentro da comunidade dos que creem. Quando nos referimos a essa dimensão eclesial, nos referimos as celebrações, reflexões bíblicas feitas em grupo, engajamento pastoral e compromisso com a sociedade que nos cerca ou com grupos que a representam, sejam ele grupos dominantes ou subalternos.
Em segundo lugar, um outro aspecto que envolve a dimensão eclesial na formulação da teologia, são os compromissos - explícitos ou velados – dessa comunidade com a realidade – ou seja, o mundo - que a cerca. Assim, se estamos tratando de uma comunidade que está voltada para dentro de si mesma ela, por óbvio, produzirá uma teologia completamente diferente de uma outra comunidade voltada para os que estão fora. Falando de uma forma mais técnica, nosso lugar social e eclesial – que é o conjunto de nossas práticas e interesses e que nos moldam enquanto indivíduo e enquanto grupo -, inevitavelmente influenciará o que chamamos de nosso lugar epistêmico, ou seja, a maneira como compreendemos ou interpretamos a realidade. Falando de uma forma popular, a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam.
Em terceiro lugar, a verdadeira teologia se inicia no silêncio e no calar. Sobre isso, é importante dizer que existem duas formas de silêncio: o silêncio da espiritualidade, que envolve a contemplação, a oração e o encontro com Deus – no qual procuramos, humildemente, escutar a voz de Deus -, e o silêncio operoso, que é aquele no qual nos calamos para agir e pensar em fazer bem-feito o que temos que fazer. É bem verdade que podemos pensar em Deus, mas fundamentalmente, cada um de nós, cristãos, precisamos pensar no que fazemos. Assim, é desse duplo silêncio que emerge uma teologia relevante para o mundo.
Do que falamos até agora, depreendemos que a teologia sucede a espiritualidade e a prática, em outras palavras, ela é um momento segundo e não primeiro ou inicial. Assim questiono: que tipo de comunidade de fé é a nossa? Ela está olhando apenas para suas questões internas ou também observa as grandes demandas que nossa sociedade coloca na ordem do dia? Qual nosso lugar epistemológico neste mundo? Desde qual posição lemos e interpretamos o mundo que nos cerca? Nosso silêncio se basta a si mesmo - assumindo uma postura meramente contemplativa, indiferente e conivente -, ou é a reflexão sobre a melhor forma de agir para transformar a realidade? As respostas que daremos a essas questões determinarão que tipo de teologia você prefere.
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