EPISCOPADO OU EPISCOPÊ?
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 13 de dez. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 21 de dez. de 2020
Reverendo padre Jorge Aquino
Nas primeiras aulas de sociologia, aprendemos a relevantes lições retiradas de Max Weber, para quem existem três grandes tipos de exercício de autoridade. Em primeiro lugar temos a autoridade lega, fundada na burocracia; em seguida, temos a autoridade que se funda na tradição e na consciência coletiva e, finalmente, a autoridade carismática, que encontra lastro no reconhecimento pessoal baseado na devoção afetiva e no caráter do líder. Quer desejemos ou não, qualquer espaço em que se exerça alguma espécie de autoridade apresenta estes três modelos de exercício de poder, inclusive na Igreja.
Quando nos voltamos para a história do cristianismo, verificamos que desde seus primórdios, algumas pessoas exerceram o “poder” sobre o povo de Deus. As primeiras pessoas que exerceram esse papel foram, inquestionavelmente, os Apóstolos – enviados por Jesus Cristo para pregar o Evangelho em todo o mundo.
No entanto, com o passar do tempo, duas realidades acabaram por se tornar reais para a Igreja. A primeira delas foi a morte dos Apóstolos – líderes carismáticos instituídos pelo próprio Cristo. Mesmo os sucessores imediatos dos Apóstolos – nomeados por eles -, ainda possuíam um caráter bastante carismático. Em segundo lugar, percebemos que o cristianismo passou por um processo de institucionalização, natural em todas as instituições sociais. Logo após a morte dos Apóstolos e da primeira geração de Bispos nomeados por eles, a Igreja passou a ser marcada como uma inevitável instituição. Esta condição foi necessária para se instituir algumas pessoas que entrariam na linha de sucessão dos Apóstolos. Estas pessoas, que seriam seus sucessores, seriam identificados como os novos Bispos da Igreja.
Com o passar dos séculos, a nomeação episcopal deixa de ter um caráter espiritual e passa a ser uma moeda de troca na qual a Igreja nomeia alguém como Bispo, em troca de bens materiais ou do poder temporal. Essa prática foi extremamente comum durante a Idade Média.
Depois dessa breve exposição histórica, é importante que façamos algumas considerações importantes. A primeira delas é que o Novo Testamento utiliza as palavras “Bispo” e “Presbítero” como equivalentes e aplicáveis à mesma pessoa. Esta realidade exegética nos leva a afirmar que é natural termos a clara impressão de que – em um segundo momento - os Bispos eram escolhidos entre os Presbíteros.
A segunda afirmação que encontra uma sólida fundamentação exegética é a de que a condição de Presbítero-Bispo, era uma condição eminentemente carismática: era um “chamado de Deus”. Dizer isso equivale a afirmar que estamos tratando aqui do exercício da episcopê (supervisão), e não, necessariamente, do episcopado. Em resumo, a episcopê é um dom de Deus, ao passo que o episcopado é uma condição humana e institucional. O que os cristão deveriam fazer idealmente é, instituir ao episcopado aquele que tem a episcopê. Lamentavelmente, não é sempre que isso acontece.
Como consequência das duas afirmações anteriores, é absolutamente natural compreender que a episcopê faz parte da “esse” (essência) da Igreja Cristã. Em outras palavras, a episcopê deve está presente em todas as denominações cristãs, independentemente de sua forma de governo. Em outras palavras, mesmo sem utilizar o título de "Bispo", cada agremiação religiosa Cristã possui alguém que é reconhecido em uma determinada região, como um líder espiritual ou como uma referência que deve ser ouvida. Quer queiramos ou não, essa pessoa acaba utilizando o dom da episcopê mesmo que o governo seja congregacionalista ou presbiteriano. Não interessa a nomenclatura utilizada. Deus sempre levanta pessoas que exercem a supervisão espiritual sobre os demais líderes. Esses são os verdadeiros Bispos.

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