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EPISCOPADO OU EPISCOPÊ?

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 28 de dez. de 2018
  • 4 min de leitura
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Reverendo Padre Jorge Aquino

Não pretendo, com essa breve reflexão, traçar a história de como as duas ordens primitivas (diáconos e presbíteros) acabaram dando espaço para o surgimento, ainda nos primeiros séculos do cristianismo, dessa nova ordem que chamamos de episcopado.

Antes de discutirmos, mais pormenorizadamente, as diferenças entre as duas palavras que dão nome a esse opúsculo, creio que precisamos definir o que vem a ser o termo “episkopê” e tratar acerca de sua importância para a natureza da Igreja.

De uma perspectiva etimológica, a palavra “episkopê” tem origem na Grécia e é o resultado da união de duas outras palavras: o prefixo “epi”, que significa “sobre” ou “acima”, e a raiz “skep”, que alude a um olhar atencioso para algo. Assim, “episkopê” significa aquele que olha do alto ou supervisiona. Em razão disso, entendemos que o bispo é aquele que supervisiona e dirige as ações – ao lado dos presbíteros e diáconos – de uma igreja particular, que é chamada de diocese.

Partindo do pressuposto de que o episcopado é uma realidade, dentro da Igreja cristã acabamos por ver surgir três escolas diferentes que abordam este tema com vieses igualmente díspares. Em primeiro lugar estão aqueles que entende que o episcopado faz parte da “bene esse” da Igreja. Estes, compreendiam que o episcopado contribuiria para o bem-estar da Igreja e, portanto, deveria ser mantido e fortalecido. Este pensamento é essencialmente funcionalista e pragmático. Ele está apenas interessado no bem que o episcopado pode trazer para uma comunidade específica.

Em segundo lugar, existem aqueles que defendem que o episcopado faz parte da “plene esse” da Igreja. Estes pensadores entendem que o episcopado é importante para que a Igreja seja plenamente aquilo que ela efetivamente é. Eles entendem que as Igrejas não-episcopais devem também ser vistas com o mesmo status de Igreja como as Igrejas Episcopais. No entanto, entendem que a presença do bispo plenificaria seu exercício eclesial porque aceita uma instância que atua de forma pastoral e administradora das questões eclesiais. Assim, essas igrejas não episcopais alcançariam a plenitude eclesial.

Por fim, existem os que defendem que o episcopado faz parte da essência (esse) da Igreja. Para estes, desde sempre a Igreja cristã conviveu com bispos, ainda que estes fossem chamados originalmente de apóstolos. Aqueles que mais tarde seriam chamados de bispos, seriam apenas os sucessores dos apóstolos, ou seja, aqueles que assumiram suas funções em cada região.

Sem querer discutir o mérito de cada uma das escolas – e já assumindo a tese de que o episcopado faz parte da esse da Igreja -, creio ser imprescindível, nesse momento, distinguir o episcopado da episcopê. O episcopado é uma ordem eclesiástica que – quer queiramos ou não – está associada ao governo ou à estrutura de poder da Igreja. Ele faz parte daquele tipo de autoridade que o sociólogo Max Weber chama de liderança legal ou racional. A episcopê, por seu turno, se associa a uma liderança carismática que surge ou se destaca, em função de seus dotes, talentos e dons. O ideal, ou o melhor dos cenários, é que o bispo seja aquele que une a liderança carismática com a legal. Ou seja, que o epíscopo tenha a episcopê.

Lamentavelmente, porém, não é esse o cenário que vislumbramos. Muito ao revés, em quase quarenta anos de vivência ativa na Igreja, já tive a oportunidade de encontrar muitos bispos que além do episcopado também possuíam a episcopê. E fui muito abençoado por essas pessoas. Mas, lamentavelmente, já vi pessoas sendo transformadas em bispos sem que possuíssem nenhum traço daqueles que um verdadeiro bispo deveria ter.

Desconsiderando a importância da episcopê já vi bispo ser eleito em razão de seu pertencimento à uma sociedade secreta, filantrópica e iniciática,  atuante em nossa sociedade, mesmo que contrariando às expectativas do povo de Deus na diocese; já vi bispo ser ordenado em razão de sua influência e status na comunidade teológica do país, sem se levar em conta as reais necessidades do povo de Deus; já vi bispo ser ordenado apenas para servir de marionete nas mãos de quem, efetivamente, detém o poder na diocese; já vi bispo ser ordenado sem conhecer absolutamente nada de Anglicanismo e reproduzir toda a prática dos bispos Romanos; e, ultimamente, estou me questionando como foi possível ordenar bispo uma pessoa que é inegavelmente má, maledicente, caluniador, avaro, sem transparência com as contas diocesanas, intransigente, impiedoso, cruel, opressor, destemperado, orgulhoso, e que destoa completamente do que se esperaria de um verdadeiro pastor de ovelhas, guia de almas, sinal de unidade e pai em Deus.

Tais pessoas são como os fariseus que encontraram Jesus e arguiam que eram verdadeiros filhos de Abraão apenas porque possuíam a marca física e externa da circuncisão. Ora, assim como os verdadeiros filhos de Abraão são aqueles que têm a mesma fé que seu pai e a circuncisão do coração (Ver Jeremias 4: 4; Romanos 2: 29), os verdadeiros bispos não são aqueles que pode apresentar sua sucessão apostólica ininterrupta, até os tempos apostólicos, mas aquele que são reconhecidos pelo clero e pelo povo como homens que pastoreiam o rebanho de Deus com o mesmo caráter de Cristo. Homens que, acima de tudo, são servos dos servos de Deus, e não senhores, hierarcas e déspotas na Igreja. A diferença entre esses dois tipos de bispos está no caráter de Cristo impresso no coração.

Oremos para que Deus nos dê epíscopos que tenham a verdadeira episcopê e, dessa forma, sejam usados para a edificação, o consolo, o conforto e a unidade do Corpo de Cristo, que é a Igreja.

 
 
 

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