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DEUS CONTINUA ENTRE NÓS

  • Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
    Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
  • 24 de out. de 2018
  • 4 min de leitura
acriacao

Reverendo padre Jorge Aquino.

O final do século XIX foi marcado por uma tendência bastante otimista acerca do futuro. Acreditava-se que durante o século XX todas as mazelas da humanidade seriam debeladas e todo o projeto criado pela Modernidade seria concretizado. Muito embora existissem dois possíveis caminhos para a concretização dos grandes sonhos da humanidade – o socialismo e o liberalismo -, o dado concreto é que o otimismo marcava o ambiente daquele momento histórico.

Além desse aspecto filosófico, o ambiente científico também prenunciava uma era de ouro, na qual a ciência responderia a todas as grandes questões da humanidade e tornaria a religião algo ultrapassado ou superado. De fato, nós entramos no século XX com a certeza acadêmica de que a secularização imperaria e de que da academia – e não mais das religiões – emanariam as respostas definitivas para a humanidade. A ciência invadiu os templos, retirou Deus dos altares, assentou-se no trono e passou a exigir adoração para si própria.

Eis que logo nos primeiros anos do século XX assistimos a Primeira Guerra Mundial, seguida por uma crise nas bolsas de valores, que abalou a economia mundial. O que veio em seguida já é conhecido: uma Segunda Guerra Mundial – com mais de 50 milhões de mortos – e a guerra fria que mergulhou a humanidade em uma crise política com a criação da possibilidade de destruição do planeta por meio de uma hecatombe atômica. Durante todo o século XX a ciência se comportou como um instrumento utilizado por quem detinha o poder. Logo percebeu-se que as promessas do projeto Iluminista e Moderno não se cumpriram e vozes da Escola de Frankfurt passaram a denunciar uma ação instrumental que imperava no meio científico.

Nesse ambiente, verificamos que Deus sempre esteve presente. Contrariando a todas as expectativas científicas e filosóficas, o fenômeno religioso não apenas resistiu às crises, mas se fortaleceu assumindo – em alguns lugares e momentos – aspectos ligados ao fundamentalismo. É Manuel Castells quem nos informa que “As notícias sobre a morte de Deus foram altamente exageradas. Ela está viva e bem, uma vez que ela mora em nossos corações e, dessa forma, manipula a nossa mente. Ela não está em todo lugar e não é para qualquer um, mas está presente para a maior parte dos seres humanos, em número crescente e com maior intensidade a cada dia” (CASTELLS, 2018, p. 12). Estima-se que hoje, apenas cerca de 15% dos habitantes de nosso planeta se dizem não-religiosas ou ateus. Na realidade, dados já bastante conhecidos nos dizem que entre 1990 e 2000 houve um aumento do Cristianismo que atingiu uma taxa anual média de 1,36%, perfazendo, em 2000 por cerca de 33% da população mundial. Entre os Muçulmanos não foi diferente. Sua taxa anual de aumento no mesmo período foi de 2,13% e eles chegaram a representar 19,6% da população mundial. Entre os Hindus, a taxa de crescimento anual foi de 1,69% e eles chegaram a representar 13,4% da população mundial. Finalmente, a taxa de crescimento entre os Budistas foi de 1,09%, o que significou que no ano 2000 os representantes dessa religião representavam 5,9% da população.

Estes dados, lidos de per si, trouxeram perplexidade para os intelectuais europeus. No entanto, excetuando-se a Irlanda, verifica-se que em todos os demais países europeus a confissão do cristianismo veio acompanhada de uma clara insatisfação com a religião instituída e uma pequena parte da população desses países assistem a seus cultos dominicais. É digno de nota que “mesmo nessas regiões de indiferença religiosa há um ressurgimento de crenças e práticas entre um segmento de jovens pequeno, porém muito sonoro, embora não o suficiente para reocupar os conventos e seminários majoritariamente abandonados” (CASTELLS, 2018, p. 13). No que diz respeito à Europa Oriental, o que verificamos é o ressurgimento maciço da religião surgindo à medida em que o comunismo vai desaparecendo, fazendo-nos acreditar que a fé estava represada pela dominação soviética.

Nesse ambiente de renovação da fé, duas observações importantes precisam ser feitas. Considerando que o projeto Iluminista não se concretizou em sua plenitude, em boa parte do cristianismo, passou a existir um tipo de religiosidade refratária à ciência e à filosofia, que passou a ser conhecido como fundamentalismo. Esta tendência reativa também surgiu entre os Muçulmanos, vez que estes também reagiram, mas não ao projeto Iluminista, e sim ao projeto de dominação Ocidental. Esta reação que veio acompanhada de uma tentativa de resgate de uma identidade social-religiosa, ao encontrar uma plêiade de pessoas empobrecidas e depauperadas, fez nascer entre elas, setores extremistas que – porque já não tinham o que perder – acabaram por fazer surgir movimentos fundamentalistas extremistas e suicidas.

Uma segunda informação importante que precisamos destacar é que, no que diz respeito especificamente ao Anglicanismo, verificamos um crescimento exponencial, particularmente na África subsaariana e na Ásia. O Anglicanismo, assim, deixou de ser uma religião majoritariamente branca e que se localizava ao norte do Equador, para se transformar em uma religião majoritariamente negra, pobre e que habita a parte sul do planeta.

Como essas informações – que inevitavelmente interferem em nossa própria identidade – interferirão em nossos projetos missionários e em nossa forma de ser igreja, é algo que ainda precisamos pensar. Mas essa reflexão precisa ser feita com a utilização dos recursos que marcam o ethos Anglicano, quais sejam, a inclusividade e a compreensividade. O que, com toda certeza se pode afirmar hoje, é que já não existe um Anglicanismo, mas vários. E todos eles precisam ter voz e se fazerem ouvir quando o assunto é identidade e missão.

Referências bibliográficas:

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade: a era da informação. Vol 2. Rio de Janeiro/São Paulo: Paz e Terra, 2018

 
 
 

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