
Traduzido e adaptado pelo Reverendo Jorge Aquino.
Para os membros do GAFCON, a Comunhão Anglicana vive em um mundo em crise e acaba por reproduzir, dentro dela mesma, essa crise. Assim, o século 21 é marcada por uma postura contrária a Deus e à fé bíblica. Segundo eles, esta postura tem origem nos ideólogos pós-modernos, que procuram derrubar a cosmovisão bíblica de Deus como o Criador e Senhor da vida e da morte, da sexualidade e do casamento. Eis a razão pela qual muitas igrejas anglicanas e seus líderes na América do Norte e no Reino Unido estão promovendo esta agenda.
Eles entendem que, apesar do Anglicanismo herdar muito de sua teologia dos formulários clássicos da Reforma, sua estrutura governamental foi determinada pelos requisitos coloniais da Igreja Estabelecida da Inglaterra, onde a autoridade final é investida no Estado. Desta forma, o que chamamos de “Comunhão anglicana” passou a ser entendida como uma associação frouxa de “províncias” autônomas, que se expressa na “Conferência de Lambeth”, instância que não tem autoridade normativa (apenas consultiva) sobre as igrejas-membro no que diz respeito a doutrina e disciplina.
Para o GAFCON, durante o século XX, a Comunhão Anglicana cresceu exponencialmente no Sul Global, ao mesmo tempo em que diminuía no Ocidente e no Norte. Ademais, embora os “Instrumentos de Unidade”, oficialmente, pareça dar voz às novas igrejas, na prática a burocracia da Comunhão na Inglaterra – o Arcebispo de Canterbury, o Communion Office e os financiadores em Nova York e Londres – dirigem o que acontece.
Foi a Conferência de Lambeth de 1998 que forneceu o primeiro teste real da capacidade das estruturas da Comunhão para lidar com questões de doutrina e prática. Assim, na Resolução I.10 que tratava da sexualidade humana, a esmagadora maioria dos bispos declarou que tais práticas contrariavam as Escrituras. Vinte e cinco anos depois, ocorreram muita controvérsia e reuniões, ao mesmo tempo em que igrejas ocidentais continuam a rejeitar esta resolução e agora, formalizaram a ordenação e o casamento de pessoas LGBTQIA. Essas igrejas e seus bispos continuam permanecendo membros da Comunhão. A burocracia da Comunhão tem sido cúmplice dessa falha de disciplina. E não existe dúvida de que, a Igreja da Inglaterra formalizará essas práticas, bem assim, que a burocracia da Comunhão insistirá para que outros anglicanos aceitem essas práticas nas linhas do exercício de “Viver em amor e fé”.
Diante disso, o GAFCON resolveu responder a essa realidade. Em sua convocação, a Global Anglican Future Conference que ocorreu em Jerusalém (2008) foi um evento marcante que tratou o tema. A liderança do Arcebispo Peter Akinola e de seis outros Primazes do Sul Global perturbaram o domínio assumido pelo estabelecimento da Comunhão e estabeleceram um precedente para o futuro da Comunhão. Lá com a Declaração de Jerusalém, fica estabelecido uma base oficial para uma nova Comunhão de Anglicanos ortodoxos. A Declaração contém três elementos: uma acusação profética da Comunhão existente, uma confissão de fé anglicana (a Declaração de Jerusalém) e uma nova estrutura governamental (um Conselho de Primazes).
As sete primeiras cláusulas da Declaração de Jerusalém, lembram os fundamentos anglicanos históricos: o Evangelho e o Senhorio de Cristo, a inspiração e a autoridade da Bíblia e de acordo com as Escrituras, os Credos, os Artigos, o Livro de Oração e o Ordinal. As sete cláusulas seguidas abordam questões contemporâneas: sexualidade e casamento; o mandato da Grande Comissão; mordomia e justiça social; e unidade na diversidade do rebanho, rejeitando os falsos pastores.
A Conferência de Jerusalém estabeleceu um Conselho de Primazes independente dos “Instrumentos” de Lambeth e autorizou-o a reconhecer novas jurisdições anglicanas confessas. Posteriormente, o Conselho de Primazes da GAFCON reconheceu a Igreja Anglicana na América do Norte, a Igreja Anglicana no Brasil e vários “Ramos” dentro das províncias anglicanas heterosoxas existentes.
O Passo seguinte seria a Formação de uma Comunhão Separada de Igrejas Anglicanas. Em sua “Carta às Igrejas” de Jerusalém em 2018, a Assembleia do GAFCON instou o Arcebispo de Canterbury a convidar os bispos das igrejas ligadas ao GAFCON na América do Norte e no Brasil e a desconvidar os bispos que rejeitaram e violaram o ensinamento da Resolução I de Lambeth. 10, com um aviso de que, caso contrário, os bispos do GAFCON não compareceriam novamente à próxima Conferência de Lambeth.
Como sabemos, o arcebispo Welby descartou o GAFCON como um mero grupo de pressão, ignorou seu apelo e procurou dividir e conquistar seus membros. Em consequência, três províncias e seus primazes (Nigéria, Uganda e Ruanda), representando mais de 30 milhões de anglicanos, optaram por não comparecer à Conferência de Lambeth em 2022 e explicaram sua determinação de não se associar a hereges. Outro grupo de primazes e bispos, representando quase 10 milhões de anglicanos da Global South Fellowship of Anglican Churches, compareceu a Lambeth, apelou à Conferência para defender Lambeth I.10 e recusou comungar com aqueles que a violaram.
Os planos devem ser estabelecidos na Assembleia de 2023 em Kigali – em conjunto com a Global South Fellowship of Anglican Churches – autorizando um grupo de trabalho a desenvolver e apresentar uma proposta final para uma Comunhão revivida, reformada e reordenada à Assembleia de Jerusalém de 2028. Esta proposta “Comunhão de Anglicanos Globais em Jerusalém” cumprirá a visão original da GAFCON de ser um instrumento de reavivamento da fé e missão anglicana histórica com base na confissão da Declaração de Jerusalém. A proposta final deseja desenvolver estruturas adicionais de governança e responsabilidade mútua apropriadas para uma comunhão de igrejas. Agora, o GAFCON, juntamente com a GSFA, está se mobilizando para assumir a liderança de uma comunhão completamente reformada e reordenada de anglicanos em todo o mundo.
(O texto integral de Stephen Noll se encontra em: https://anglican.ink/2023/01/17/toward-reviving-reforming-and-reordering-the-anglican-communion-fourteen-theses-for-global-anglicans/)
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