CUIDADO COM A CALÚNIA
- Reverendo Padre Jorge Aquino ✝
- 17 de nov. de 2021
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Reverendo Jorge Aquino.
Sempre que faço os encontros matrimoniais eu trato de um grupo de pessoas que fazem de tudo para impedir a felicidade do casal. Normalmente chamo este grupo de “amigos da onça”. Eles são colegas de trabalho, amigos da faculdade, colegas de infância, etc. Mas todos os amigos da onça têm algo em comum: a incapacidade de ver alguém sendo feliz perto dele. Ele tem uma necessidade crônica de jogar um “balde de água fria” na felicidade das pessoas. E muitas vezes, para fazer isso eles se servem da calúnia.
A palavra “calúnia” vem do latim (calumniare) e significa levantar um falso testemunho, fraudar ou enganar a outrem. A prática da calúnia é tão antiga quanto à da civilização humana. Diz-se que Médio, conselheiro de Alexandre o Grande (356-323 aC), rei da Macedônia, incentivava seus comandantes a caluniar seus inimigos porque “mesmo que a vítima cure a ferida, fica a cicatriz”.
A calúnia tem um papel tão importante na história que Joseph Goebbels (1897-1945), ministro da Cultura Popular e da Propaganda de Hitler (1889-1945) teria dito: “caluniai, caluniai, alguma coisa restará”. Também teria sido dele a frase “uma mentira repetida muitas vezes se torna verdade”.
O fato é que a sabedoria dos antigos nos incentiva a abandonar a calúnia. A Bíblia nos diz que seis coisas Deus odeia e a sétima ele abomina “aquele que semeia contenda entre irmãos”. O Talmud, por seu turno, é sábio ao dizer que: “A língua que calunia mata três ao mesmo tempo: àquele que profere a calúnia, àquele que acolhe a afirmação perversa e a vítima inocente”.
Lembro de um noivo que se casou faz alguns anos e que estava tomando café em um dos shoppings de minha cidade. Repentinamente ele viu passar à frente da cafeteria sua ex-mulher, com quem tinha uma ótima relação e um filho comum. Ele a chamou para tomar um café com ele e perguntar sobre seu filho – que estivera doente durante aquela semana. Enquanto conversavam sobre a criança, um amigo da onça passa ao largo, vê a cena e, imediatamente, liga para a noiva deste homem.
Ora, se a noiva já não soubesse da relação tranqüila que seu noivo tinha com a ex mulher, certamente estaríamos diante de um grande problema. O que aconteceu? Nada. Mas o amigo da onça não foi convidado para o casamento. Moral da história. Como diz o velho ditado nordestino: “cuidado para não emprenhar pelo ouvido”, ou seja, não acredite em tudo que dizem a você. As pessoas sempre tendem a aumentar um ponto no assunto.
Em outro casamento que realizei, uma das “amigas” da noiva chegou a viajar até a cidade do noivo e procurar em todas as delegacias de polícia se havia algum BO aberto contra o noivo. Ela encontrou um com uns cinco anos. Ele tinha esmurrado alguém em uma briga de bar. Ela voltou até à noiva com a cópia do documento em mãos e “provou” que o noivo era um homem violento e que poderia agredi-la. Desnecessário dizer que ela também não foi convidada para o casamento.
Lamentavelmente, com o incremento da tecnologia, a calúnia assumiu contornos mais especializados. Escondidos no anonimato da internet, os cybercaluniadores destroem reputações, humilham pessoas e acusam os outros sem que haja a possibilidade de reagir. A calúnia, portanto, pode ser feita de forma anônima e covarde.
Para encerrar, quero citar Cervantes (1547-1616) que diz em sua obra Dom Quixote: “Por onde que a virtude se encontre em grau eminente, é perseguida; poucos ou nenhum dos varões do passado deixou de ser caluniado pela malícia”. A calúnia é o preço que os homens de bem pagam em uma sociedade de hipócritas e invejosos. Moral da história: cuidado com o que as pessoas invejosas dizem de seu noivo ou marido. Não seja rápido(a) em acreditar na maledicência alheia. Na maioria das vezes estas pessoas são motivadas, apenas, pela inveja que sentem de você.

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