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COMO SURGEM OS BISPOS?

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝

Atualizado: 7 de mar. de 2023



Reverendo Jorge Aquino.

É comum reconhecer que entre os Apóstolos, no início do cristianismo e o surgimento dos bispos monárquicos, uma realidade bem mais posterior, houve uma série de etapas. Geralmente elas são enumeradas da seguinte forma. A primeira dessas etapas entende que, inicialmente, existiam os “Apóstolos e seus colaboradores”. Este é o momento em que Paulo constitui colaboradores que caminham consigo, tendo como os mais conhecidos, Barnabé, Tito e Timóteo.

Em um segundo momento, percebemos que surgem os profetas e doutores (ou mestres) que tinham um ministério itinerante, gozando de grande privilégio em muitas comunidades. Estes dois ministérios, extremamente importante em grande parte das comunidades, são citados no Pastor de Hermas, ao lado dos presbíteros-bispos. Tanto no primeiro período quanto agora, em que os ministérios carismáticos agem em muitas comunidades, os bispos e presbíteros ocupam a mesma função, aparecendo sempre no plural, o que nos aponta para um colegiado.

Um terceiro momento ocorre quando encontramos em algumas epístolas, referências aos presbíteros e bispos como sendo títulos intercambiáveis que se referiam a pessoas que exerciam um serviço estável e permanente, demonstrando existir um colegiado de presbíteros-bispos em cada comunidade. Também é importante registrar que nesse momento, os líderes da comunidade eram eleitos pelos membros de cada igreja. Registra-se, também agora, referência feita à imposição das mãos sobre os eleitos. Jean-Marie Tillard, por exemplo, nos diz que “O Novo Testamento praticamente não faz diferença entre a pessoa denominada presbyteros e a denominada episkopos. Aliás, quando Paulo lembra aos anciãos (presbyteroi) de Éfeso a tarefa que lhe cabe enquanto episkopoi (At 20:17,28)” (TILLARD, In DOS ANJOS, 2000, p. 75).

Um quarto momento ocorre quando, dentro do colégio dos presbíteros, um deles se destaca e recebe o título de epíscopos, atuando como primeiro entre iguais. É assim, por exemplo, que “Na carta de Clemente são utilizados, de maneira equivalentes, os títulos de epíscopos ou presbíteros. Os bispos dos quais falam, são vários na mesma cidade. Não se trata do bispo monárquico que surge com Inácio de Antioquia” (p. 49). Mais a frente nesse artigo, Comblin faz referência ao texto da Didachê, que “mostra a ascensão dos presbíteros e diáconos e o ocaso dos profetas e mestres. Em Roma, O pastor, de Hermas, nos meados do século II, menciona os epíscopos e presbíteros como um único colégio” (COMBLIN, In DOS ANJOS, 2000, p. 50). Assim fica claro que, “Para a Didachê (98) e para Clemente (96?), que reflete o contexto de Corinto e de Roma (provavelmente o mesmo ocorre em Alexandria), a episkopé é exercida colegialmente (I Clm 44, 1, 4-5)” (LECLERC, In LACOSTE, 2004, p. 305). Seguindo esse diapasão, Sklbekx escreve que “Na segunda metade do século II, encontramos, em certos lugares da Ásia Menor, um ‘conselho de anciãos’ com dois chefes e, as vezes, um só denominado archon; aí encontramos igualmente os termos oikonomos e episkopos. (...) Naturalmente que isso não mostra como foi que teve origem a diferença entre presbítero e bispo, mas esclarece o contexto em que a Igreja trabalhou nesta área. Com o passar do tempo, também no conselho eclesial um dos presbíteros se transformou no ‘primeiro archon’” (SCHILLEBEECKX, 1989, p. 171).

Por fim, em quinto lugar, encontramos nas cartas de Inácio de Antioquia (110-150?), os primeiros registros do que poderíamos chamar de monoespiscopado (revelando a realidade da Síria), bem assim de uma atuação subordinada dos sacerdotes e diáconos. Fica claro, deste modo, que “Monoespiscopado e tripartição do ministério ordenado não são, portanto, escriturísticos” (LECLERC, In LACOSTE, 2004, p. 305). Até o Vaticano II, ao falar da tripartição, se refere a essa realidade como sendo algo ab antiquo (LG 28). Um outro detalhe significativo e interessante é que, segundo Leclerc destaca, falar em Monoepiscopado não significa falar em episcopado monárquico (Ibid, p. 305), e que o bispo “deve ser eleito com a participação de sua Igreja; deve beneficiar de uma recepção, em sua Igreja como da parte de seus colegas, para conservar seu cargo. Como Cipriano testemunha, ele trata dos assuntos com seus colegas, mas também com seu povo (Ep 14,4; 34,4)” (LECLERC, In LACOSTE, 2004, p. 305, 306). Verificamos, outrossim, que para ascender ao cargo era necessário uma eleição feita pela comunidade local e a imposição das mãos de todos os bispos da região. Eis a razão que o concílio local de Arles (314 d.C.), determina que deveria haver sete bispos disponíveis, mas “se não sete, ninguém deveria ousar ordenar com menos de três bispos” (FAHNEY, FIORENZA – GALVIN, Vol. 2, 1997, p.49). A importância da presença de bispos de outros lugares para a ordenação episcopal reside no fato de que, muito embora cada igreja local seja autônoma, ela precisa demonstrar sua relação e sua comunhão com as igrejas circunvizinhas. No Concílio de Nicéia, em seu Cânone nº 4, fica estabelecido que é necessário pelo menos três bispos para ordenar outro.

Assim, este bispo, conforme vemos no texto da Tradição Apostólica de Hipólito, aparentemente – segundo Faus - “o primeiro texto com caráter legal que oferece informações sobre a nomeação de bispos” (FAUS, 1996, p. 9), e provavelmente escrito em meados do século III, recolhe e sistematiza uma prática importante acerca dos bispos, colocando-os como uma ordem à parte da dos presbíteros e diáconos. Assim, lemos seus ensinamentos em seu capítulo segundo: “Que se ordene [cheirotonein] como bispo aquele que, sendo irrepreensível, tenha sido eleito por todo o povo. Quando seu nome for revelado e este tiver aceito, se reunirão num domingo o povo com o presbitério e os bispos que estiverem presentes. Com o consentimento de todos, os bispos lhe imporão as mãos enquanto o povo permanece de pé. Todos conservem-se em silêncio rezando em seu coração para que desça o Espírito. Depois disso, em nome de todos, um dos bispos lhe imporá as mãos dizendo...” [segue uma oração de súplica] (Sources Chrétiennes, In FAUS, 1996, p. 9). Desta forma, a Tradição Apostólica de Hipólito, é citado, como já fizemos referência às cartas de Inácio, nas quais o bispo – segundo a interpretação feita por Comblin - já aparece de forma monárquica, tendo os presbíteros e diáconos como seus auxiliares. Registre-se que, apesar de sua condição monárquica, ele ainda é eleito pelo povo. Aqui o título já aparece no singular e “Os bispos se destacam do colégio dos presbíteros (...). Nas cartas de Inácio de Antioquia, a figura do bispo aparece bem definida, o que não significa que na época de Inácio o episcopado tenha sido implantado em todas as Igrejas” (COMBLIN, In DOS ANJOS, 2000, p. 32). Na verdade, nos parece claro que o desenvolvimento do ministério da igreja em Roma, na Grécia, da Ásia e no Egito, revelam velocidades diferentes mas, no fim século III nos parece que o episcopado monárquico já se impõe em todos os lugares. Esta diferença pode ser interpretada, segundo a leitura feita por Siegfried Wiedenhofer, em função do contexto sócio-geográfico. Para ele, portanto, “Na comunidade primitiva palestinense (e mais tarde em todos os lugares em que havia forte influência judeu-cristão) os ‘mais velhos’ (cf. At 11,30; 15; 16,4; 21,18) eram principalmente uma continuação da instituição judaica do conselho sinagogal ou comunal de anciãos, ao passo que no meio gentio-cristão os ‘episcopos’ (cf. Fl 1,1) provavelmente eram uma figura emprestada de modelos relativamente abertos no âmbito administrativo municipal” (WIEDENHOFER In SCHNEIDER, Vol 2, 2001, p. 101).


Referências bibliográficas:

DOS ANJOS, Márcio Fabri (Org.). Bispos para a esperança do mundo. São Paulo: Paulinas, 2000

FAUS, José Ignacio Gonzáles. “Nenhum bispo imposto” (S. Celestino, papa): as eleições episcopais na história da igreja. São Paulo: Paulus, 1996

FIORENZA, Francis S. & GALVIN, John P. (Org.). Teologia sistemática: perspectivas católico-romanas. Vol. 2. São Paulo: Paulus, 1997

LACOSTE, Jean-Yves. Dicionário crítico de teologia. São Paulo: Paulinas/Loyola, 2004

SCHILLEBEECKX, Edward. Por uma igreja mais humana. São Paulo: Edições Paulinas, 1989

SCHNEIDER, Theodor (Org.). Manual de dogmática. Vol 2. Petrópolis/RJ: VOZES, 2001

 
 
 

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