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COMENTÁRIO À ORAÇÃO DO SENHOR. 6º Petição: “Não nos deixes cair em tentação”

Foto do escritor: Reverendo Padre Jorge Aquino ✝Reverendo Padre Jorge Aquino ✝


Reverendo Jorge Aquino.

Antes de mais nada, é preciso registrar que existem divergências acerca da melhor tradução desse trecho da Oração do Senhor, em Mateus 6:13. Originalmente, lemos o texto em grego que diz: “και μη εισενεγκης ημας εις πειρασμον”. Sua transliteração pode ser feita da seguinte forma: “kai mê eisenegkês êmas eis peirasmon”. Apesar de não existirem variações manuscritológicas relevantes neste trecho, há variações relevantes na tradução. As duas possíveis traduções afirmam o seguinte: a versão Almeida Atualizada diz: “não nos deixes cair em tentação”, mas a versão Almeida Revista e Corrigida, diz: “não nos induza à tentação”. É claro que esta diferença aponta para duas realidades bem distintas. Na primeira, pedimos a Deus que não nos permita cair, quando formos tentados. Na segunda, pedimos a Deus que não nos leve à experiência da tentação. Estas possibilidades de interpretação têm levantado debates entre os exegetas. Afinal, para alguns intérpretes, o próprio Deus seria o agente do ato de “tentar” ao “induzir” o cristão ao erro. Percebemos que a grande questão é: estamos pedindo que Deus não nos “deixe” cair em tentação, ou que não nos “induza” à tentação. Há quem entenda, como por exemplo Egidio Gioia, que a provação “pode vir de Deus”. E explica: “O ser tentado não é propriamente pecado, mas o cair na tentação é pecado” (GIOIA, 1981, p. 127). O problema dessa interpretação está no que é afirmado por Tiago ao dizer: “Ninguém, ao ser tentado, deve dizer: ‘É Deus que me tenta’, pois Deus não pode ser tentado pelo mal e tampouco tenta alguém” (Tiago 1:13). Esta variação nas possibilidades interpretativas nos faz chegar à primeira verdade que o texto nos revela, qual seja, a de que Deus não nos tenta. Essa verdade foi ressaltada por Lutero quando procurou explicar esta sexta petição. Vejamos suas palavras: “Deus, em verdade, não tenta ninguém; mas suplicamos nesta petição que nos guarde e preserve, para que o diabo, o mundo e a nossa carne não nos enganem, nem nos seduzam as crenças falsas, desespero e outras grandes infâmias e vícios; e ainda que tentados, vençamos afinal e retenhamos a vitória” (LUTERO, 1983, p. 374). Da mesma forma, concordando com a tese de que Deus não nos tenta, o evangelista anglicano John Wesley nos diz que: “Somos tentados quando nos afastamos de Deus, o único em quem estamos seguros. Quando isso ocorre, quando somos enredados, terminamos pegos como um peixe é fisgado pela boca. É então que realmente caímos em tentação. A tentação vem depois que somos afastados e enredados. Então a tentação nos cobre como uma nuvem. Ela recobre toda a nossa alma. Ai, dificilmente escaparemos da armadilha. Assim, quando oramos assim, estamos pedindo que Deus não nos permita sermos conduzidos à tentação” (WESLEY, 2017, p. 157). Ademais a Escritura é clara ao afirmar que Deus não deixará tentar além de nossas forças, de forma que, quando tentados, nos dá o necessário para que possamos suportar (I Coríntios 10:13). Confirmando essa visão, citamos W. Hendriksen, quando diz: “Embora seja verdade que Deus mesmo jamais tenta o homem para que peque (Tg 1:13) também é certo que há boas razões para pedir que ele nem sequer permita que voluntariamente nos encontremos em tentação” (HENDRIKSEN, 1986, p. 352). Desta forma, muito embora a tentação não venha de Deus, podemos dizer que as circunstâncias podem vir. Assim, nossa oração deve ser a de que, nestas circunstâncias, que Deus nos ajude.

A segunda informação que obtemos dessa petição é a de que a tentação é uma experiência universal. Ser tentado é ser posto à prova; é ser instado a tomar uma decisão; é ter que assumir uma postura. Assim, ser tentado é parte da essência da nossa humanidade. Ser tentado, portanto, é exercer a liberdade de assumir posições pessoais e suas consequências. Somos, portanto, existencialmente seres lábeis, e por isso, capazes de fechar os olhos para todas as promessas e esperanças que o Reino de Deus nos oferece. Concordamos com Schabert quando escreveu que “Tentação é tudo aquilo que tem o poder de se colocar entre Deus e nós e, assim, romper o nosso relacionamento de fé com ele” (SCHABERT, Apud WEHRMANN In KILPP, 1982, p. 175). Desde o relato de Gênesis, encontramos o homem sendo tentado. Ele tem a possibilidade de não ceder, no entanto, acaba caindo. Não há ninguém que não tenha sido convidado a transgredir e a não fazer a vontade de Deus. O próprio Jesus Cristo, experimentou a tentação e, em razão disso, sabe o quão difícil pode ser para alguns cristãos, resistir ao mal com suas próprias forças.

Em terceiro lugar, o texto bíblico nos instrui a sempre pedir a Deus o livramento, para nossas tentações. Assim, somos convidados a compreender que Deus sempre nos fortalece para que não caiamos. Esse é o pensamento de Calvino ao dizer que, o que pedimos a Deus, nosso pai nessa nesta petição é que ele “não nos permita sermos vencidos pelas tentações que lutam contra nós, sejam elas aquelas produzidas por nós mesmos e nossa concupiscência, sejam aquelas a que somos induzidos pela astúcia de Satanás; mas que com sua mão nos mantenha e levante, para que animados por seu esforço e virtude, possamos nos manter firmes contra todos os assaltos de nosso inimigo maligno” (CALVINO, 1981, III, xx, 46)

Segundo Tasker, de um lado, “Os cristãos devem orar pedindo que sejam poupados das provações que precederão a consumação do reino” (TASKER, 1985, p. 60). Na visão de Stott, contudo, ele difere da de Tasker. Para Stott, tendo como base o texto que diz “tende por motivos de grande alegria o passardes por várias provações” (Tiago 1:12), deveríamos entende que “a oração é mais no sentido de podermos vencer a tentação do que a de evitarmos” (STOTT, P. 155). Finalmente, em um resumo dessa petição que aparece no texto de Champlin, ele faz uma espécie de paragrafe do texto dizendo: “Não nos dirijas de tal modo que nos vejamos em situação nas quais sejamos tentados” (CHAMPLIN, Vol. 1, 1985, p. 324). Esta, então, deve ser nossa oração.

 
 
 

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